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ATAQUES ESPECULATIVOS AO REAL
Mercados financeiros querem reforma da Previdência e influenciar as eleições no Brasil
André Barbieri
São Paulo | @AcierAndy
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Os movimentos financeiros da última semana mostram com clareza que a economia brasileira está sob ataque dos grandes especuladores. A imprensa burguesa, de forma interessada, esconde as verdadeiras razões desta ofensiva, e pede para o Banco Central “atuar”. Ilan Goldfajn, presidente do BC, atuou prontamente: por meio da emissão de swaps cambiais buscou “acalmar” o capital especulativo. Esse paliativo não tem nenhum efeito que não seja fecundar a bolsa estrangeira entregando a riqueza nacional. Os mercados estrangeiros têm outros objetivos políticos com essa medida: pressionar pela reforma da Previdência e influir nas eleições de outubro.

O Ibovespa – o mais importante indicador do desempenho médio das cotações das ações negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo – caiu mais de 15% em um mês. A pesquisa mensal do Bank of America Merryl Lynch registra que “a expectativa dos investidores é que o Ibovespa siga caindo e a moeda brasileira termine o ano a R$3.80”, ou seja, com o real mais desvalorizado frente ao dólar, uma afirmação que significa que a “expectativa” é que os ataques especulativos seguirão ocorrendo. O índice de moedas do conjunto dos “países emergentes”, dado do banco imperialista JP Morgan, caiu 9% desde fevereiro, o ponto mais baixo desde a eleição de Trump em 2016, o que revela os efeitos mais gerais da desvalorização frente ao dólar sobre as economias da periferia do capitalismo.

Gráfico do FT com dados do JP Morgan: moedas dos países emergentes caem ao nível mais baixo desde a eleição de Trump

De certa forma, estes ataques operam em uníssono nas ditas “economias emergentes”, países dependentes e semicoloniais. Países como Índia, Indonésia, Turquia, Paquistão e Filipinas aumentaram suas taxas de juros de referência, para tentar barrar a saída de capitais, cujo fluxo começa a se direcionar novamente para os centros imperialistas, especialmente com a expectativa de aumento da taxa de juros do FED (Banco Central dos EUA). Esse efeito aumenta uma vez que o FED está vendendo mais rapidamente títulos assegurados pelo Tesouro estadunidense, títulos de curto prazo que atraem capitais daqueles países com maior risco de inadimplência.

Países como Argentina, Brasil e Turquia, por sua vez, viram ataques especulativos do dólar contra suas moedas nacionais: no ano, o peso argentino acumula queda de 26,9%, a lira turca, de 15,31%, e o real vem logo depois, com 10,8% de desvalorização. A rupia indiana teve recuo de 5,39%, o rand sul-africano caiu 5,35%, e a rupia da Indonésia, 2,78%. Na Argentina, o direitista Macri assinou acordo de resgate de U$S50 bilhões com o FMI, que exigirá mais ajustes aos trabalhadores.

Outros analistas apontam como a queda dos preços de uma commodity como o petróleo (ainda que o petróleo tenha subido 50% devido às tensões geopolíticas como a saída dos EUA do acordo com o Irã) é utilizada pelas potências centrais para influir na política interna de países latino-americanos como Venezuela, sua aliada Cuba e inclusive a Nicarágua.

Em outras palavras, existem determinações internacionais estruturais que explicam as investidas mais agressivas dos mercados financeiros sobre a periferia do capitalismo. As consequências não resolvidas da Grande Recessão de 2008, o estancamento da frágil recuperação sincronizada da economia mundial em 2017 e a ascensão do protecionismo com ameaças de guerra comercial, levam a que os mercados exijam duras reformas nos ditos “emergentes”. O ataque especulativo sobre o real é um dos mecanismos com que as finanças estrangeiras pressionam por imediatas reformas antipopulares. A questão é: se a revalorização do dólar se intensifica e estimula um fluxo de capitais mais intenso da periferia para o centro do capitalismo (com continuada queda dos preços das matérias-primas), os países dependentes e semicoloniais como Brasil, Argentina, África do Sul e Rússia, poderiam se tornar um novo elo débil da crise.

As turbulências financeiras e as reformas anti-operárias

Tony Volpon, economista da empresa de serviços financeiros UBS, disse em entrevista ao Financial Times que "a possibilidade de que as reformas no Brasil passem aumenta quando os mercados estão em turbulência", ou seja, quando os mercados pressionam, os congressistas brasileiros se apressam a atender às exigências do capital financeiro estrangeiro. Como define a revista Stratfor, a turbulência é necessária por que o Brasil “perdeu o apetite por reformas”. A crise política, segundo este think-tank do imperialismo, pode “reduzir rapidamente o ritmo de liberalização econômica no Brasil”, na medida em que os congressistas passam a pensar nas eleições e não nas reformas anti-operárias como a reforma da Previdência.

Em suma, podemos dizer que as razões para desestabilizar a moeda brasileira nesse momento consistem em 1) mostrar a visão negativa do mercado financeiro sobre a conduta do governo Temer, "cedendo a todas as pressões" do movimento pró-patronal dos caminhoneiros, especialmente os subsídios ao diesel, quando as reformas deveriam estar “no sentido oposto” (reforma da Previdência); 2) a saída de Pedro Parente da presidência da Petrobras, que ameaça a política de preços indexados aos mercados internacionais, o que prepara sua privatização (levando em conta que novo chefe da Petrobras, o neoliberal Ivan Monteiro, vendeu 70% dos blocos de exploração das bacias de pré-sal para mostrar boa vontade ao imperialismo; 3) os políticos que representam para as finanças internacionais a continuidade das reformas de Temer, da chamada “centro-direita” (Alckmin, Meirelles, Maia), vão muito mal nas pesquisas eleitorais, e aqueles vistos pelas finanças como insuficientemente "pró-reformas" – Bolsonaro e Ciro Gomes – aparecem na pole position. Ou seja, a crise dos combustíveis e as eleições são os motivos para que as finanças imperialistas aumentem o “risco país” do Brasil.

Além de obrigar o pagamento religioso dos juros e amortizações da dívida pública – outro mecanismo fundamental de saquear as riquezas nacionais - as mudanças desejadas pelo imperialismo tocam justamente a implementação radical das reformas reacionárias que Temer iniciou, em primeiríssimo lugar a reforma da Previdência, por um lado, e por outro garantir o establishment político tente de tudo para levar um nome “centro-direita” para o segundo turno (ou aproximar Bolsonaro e Ciro Gomes desse centro das reformas – lembrando que Bolsonaro quer privatizar a Petrobras e Ciro quer “comprar toda a dívida brasileira” e aplicar a reforma da Previdência).

Bolsonaro defende privatizar a Petrobras: 61% da população diz não votar em quem quer privatizar a empresa

Uma esquerda anti-imperialista e de independência de classe

Leon Trotsky discutia como, nos países de desenvolvimento capitalista atrasado, o capital estrangeiro desempenha um papel decisivo em todos os aspectos de sua vida econômica, social e política. Algo semelhante às conclusões de Lênin em seu estudo sobre o imperialismo, em 1916: o capital financeiro dirige com firmeza as principais diretrizes da vida política dos países oprimidos. Frente a isso, a construção de uma esquerda anti-imperialista e de independência de classe precisa dar resposta aos grandes problemas que apresenta a agressividade das finanças imperialistas.

O Banco Central brasileiro seguirá entregando as reservas a cada ataque especulativo, e o governo golpista – seguindo a tradição dos governos burgueses desde a ditadura militar, passando por FHC e os governos do PT – continuará pagando a ilegal dívida pública, um mecanismo de expropriação da renda nacional por parte das finanças internacionais. A questão central é: sem romper com os imperialistas e os capitalistas, começando pelo não pagamento da dívida pública, não vão ser atendidas as demandas estruturais do país.

Contra estes ataques que buscam aplicar mais reformas anti-operárias, acabando com nossa aposentadoria, nossa saúde e nossa educação, é necessário defender a abolição imediata do pagamento da dívida pública. Trata-se de uma dívida ilegal, contraída nos tempos do Império e agravada na ditadura militar, a cujo pagamento não podemos sacrificar nosso futuro. Este programa poderia implementar-se em base à mobilização ativa da classe trabalhadora e do povo pobre na luta contra os interesses capitalistas nacionais e estrangeiros, junto a uma esquerda anti-imperialista e de independência de classe que avançasse à construção de um partido revolucionário dos trabalhadores.

Não basta deixar de pagar a dívida, seria preciso avançar em outras medidas fundamentais, como a estatização de todo o sistema bancário e o monopólio estatal da importação e exportação de bens e capitais. Com a estatização do sistema bancário teríamos as armas necessárias para combater a fuga de capitais e dispor da totalidade da poupança nacional para viabilizar os investimentos necessários para os investimentos estatais e a possibilidade de oferecer credito barato aos pequenos produtores e ao consumo. O monopólio estatal da importação e exportação de bens e capitais seria fundamental para enfrentar o boicote das potências imperialistas, garantindo o controle do fluxo de moeda estrangeira.

Esse sistema programático, tomado pelos trabalhadores em luta, poderia por fim à intervenção do capital estrangeiro sobre o país, condição para golpear a exploração do capital nacional sobre os trabalhadores e o povo pobre. Uma experiência assim mostraria como os trabalhadores podem controlar toda a economia nacional num governo próprio, de ruptura com o capitalismo e as potências estrangeiras, servindo de alavanca para a mobilização dos trabalhadores de toda a América Latina contra o imperialismo.

 
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