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CRISE DO COMBUSTÍVEL E BLOQUEIO DE CAMINHONEIROS
A traição da CUT e do PT abre espaço para a direita capitalizar o descontentamento popular
Diana Assunção
São Paulo | @dianaassuncaoED

É isso o que permite que sejam setores patronais que apareçam como quem dá resposta à crise no país, impulsionando bloqueios de caminhoneiros que erguem a figura de Bolsonaro e reivindicam intervenção militar.

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A direita avança no país graças ao papel traidor da CUT e do PT em deixar que o descontentamento popular seja capitalizado por ela. Para além de manter o país subordinado ao imperialismo norte-americano durante seus anos de governo, as greves gerais traídas, lutas não dadas e uma greve petroleira que veio sendo adiada por semanas é o que permite que sejam setores patronais que apareçam como quem dá resposta à crise no país, impulsionando bloqueios de caminhoneiros que erguem a figura de Bolsonaro e reivindicam intervenção militar.

Os bloqueios de caminhoneiros nesta última semana em todo o país trouxeram à tona as disputas entre distintas frações da burguesia por parcelas dos subsídios estatais (que concretamente são parcelas de mais-valia extraída dos trabalhadores) para seus lucros, expressando dois interesses corporativos capitalistas: de um lado, aqueles que se beneficiam do preço liberalizado dos combustíveis (mais altos), e de outro, setores que se beneficiam com o preço subsidiado (mais baixo).

Apesar da disputa momentânea, ambos os setores estão de acordo em dois pontos fundamentais: 1) a submissão aos ditames do capital financeiro estrangeiro (como exemplo, a entrega da Petrobras ao controle de monopólios imperialistas); 2) defender mais subsídios aos lucros patronais às custas da população – que terá de pagar pela redução do óleo diesel aos empresários do transporte. Ficou claro que estes setores em disputa não têm a mínima preocupação com o que realmente prejudica a vida de dezenas de milhões: os altos preços do gás de cozinha e da gasolina.

Temer, por sua parte, quer garantir os subsídios à patronal – como mostrou no acordo – assim como os altos preços internacionais, que facilitam a entrada dos derivados de petróleo estrangeiro e, principalmente, preparam o terreno para a privatização da Petrobras.

As empresas imperialistas que comprariam as refinarias que Temer colocou à venda, como a Total, Shell, BP e Chevron, exigem que o preço dos combustíveis sejam altos para que lucrem mais neste negócio. Para tentar conter a crise e selar este acordo que garante tanto a política de privatização como o subsídio dos lucros patronais, Temer decretou a Garantia da Lei e da Ordem em todo o país, ameaçando reprimir com as Forças Armadas para desfazer os bloqueios. Repudiamos essa inédita medida autoritária que se voltará contra as lutas operárias.

A Globo, que apoiou o golpe e alimenta permanentemente essa direita reacionária no país, fala contra os patrões do transporte denunciando o lockout mas seu objetivo é somente favorecer outro setor burguês, além de que apoia a venda da Petrobras, a intervenção militar via GLO e quer manter seu compromisso com o governo Temer até as eleições.

Frente a toda esta situação é preciso dizer abertamente que este movimento de caminhoneiros a cada dia se mostra mais como um movimento de caráter reacionário

Seja pelos interesses patronais que dirigem os caminhoneiros – incluindo os autônomos, que querem eliminar o imposto que pagam ao PIS/Cofins, que destina verbas ao seguro-desemprego e à área da saúde –, seja pela sua base com setores abertamente pró-Bolsonaro pedindo intervenção militar no país. Sem partir disso não há nenhuma possibilidade de ter uma política de independência de classe.

As patronais que dirigem esse movimento buscam enganar a população, aparentando defender “redução dos combustíveis” quando só se importam com o óleo diesel, sem tocar no gás de cozinha e na gasolina. Mas esse apoio popular só se sustenta pela aberta e escandalosa traição da CUT e do PT ao longo dos últimos anos que continua abrindo espaço enorme para que esta direita golpista capitalize o descontentamento popular contra Temer, usando métodos radicais, porém de conteúdo reacionário.

Nesse exato momento, ao invés de organizar assembleias democráticas em todos os locais que dirige para que a classe trabalhadora entre em cena com um programa de independência de classe, a CUT se propõe “moderar” a negociação reacionária entre Temer e as patronais.

A Federação Única dos Petroleiros ficou semanas adiando o inicio de uma greve contra a privatização da empresa e pela redução dos combustíveis, quando esta greve já estava aprovada desde o dia 12 de maio, deixado claro o papel da FUP/CUT de evitar que a classe trabalhadora organize o descontentamento popular com os preços dos combustíveis, e assim permitir que seja a direita que capitalize esse descontentamento. Agora convocam uma greve de “advertência”, de 72 horas num momento em que os estoques estão cheios, ainda assim somente a partir do dia 30. Não será com uma greve de advertência que se derrotará a privatização, é preciso que os petroleiros tomem essa greve em suas mãos exigindo um plano conseqüente com os ataques enfrentados. Parte desse plano conseqüente passa por como lutar, como impor assembleias democráticas, coordenação nacional unindo todos sindicatos, continuidade da greve até vencer. Mas sobretudo depende de definir pelo que se luta, levantando um programa de total independência das patronais para garantir combustíveis barato, o que só pode ser conquistado com uma Petrobras 100% estatal gerida pelos trabalhadores e com controle popular.

Já o programa defendido pela FUP é essencialmente o mesmo do PT. O partido de Lula defende medidas totalmente subordinadas tanto às patronais do transporte e do agronegócio que exigem redução do Diesel: a “alteração da política de preços” (essencialmente, defesa dos subsídios aos empresários) quanto aos acionistas privados (atuais e futuros) da Petrobras, como a preservação de seus lucros, se associando às multinacionais do petróleo, cuja depredação dos recursos nacionais não apresenta nenhum problema ao PT, como mostraram os governos de Lula e Dilma que realizaram mais leilões de petróleo do que FHC.

Os petistas dizem em suas declarações, “No governo do PT o preço não era tão alto”. Em si mesma, essa afirmação já poderia ser contestada de múltiplos ângulos. Mas o essencial é que em seus 13 anos de governo o PT também fazia a população pagar o que os acionistas privados da empresa queriam para aumentar seus lucros, submeteram a empresa ao capital estrangeiro e assimilaram os métodos de corrupção de toda cúpula de altos burocratas indicados desde a Ditadura, passando por FHC e nos governos do PT, que usurparam bilhões de reais, que poderiam ter sido investidos nos serviços públicos. Com tudo isso, o PT abriu caminho para a direita golpista e o imperialismo falarem de corrupção quando o que querem é privatizar a empresa para roubar o país. Por isso, é mentira que o PT poderia resolver o problema da alta os preços do combustível a serviço da população.

O PT construiu a desmoralização da classe trabalhadora durante seus 13 anos de governo quando manteve a subordinação ao imperialismo norte-americano continuando e ampliando o pagamento da dívida pública, principal mecanismo de transferência das riquezas nacionais para os imperialistas. A CUT permitiu que a Reforma Trabalhista fosse aprovada e traiu duas greves gerais no ano passado (30 de junho e 5 de dezembro). Não organizaram uma mobilização efetiva contra a prisão arbitrária de Lula.

A estratégia do PT é seguir apresentando as eleições de outubro deste ano como saída pra crise do país – mesmo quando sequer poderá apresentar seu candidato forte –, em um momento em que deixaram de existir condições econômicas que deram margem para sua política de conciliação de classes.

Ao contrário, o que é urgente é um programa para que os capitalistas paguem pela crise, e somente a organização dos trabalhadores com seus métodos de luta pode impor esta solução. Para isso a CUT deveria convocar uma paralisação nacional a partir da greve dos petroleiros.

E enquanto a CUT e o PT cumprem esse papel traidor, a esquerda se adapta a este movimento reacionário, que claramente aponta para o fortalecimento de Bolsonaro a nível nacional.

Partidos como PSOL, PSTU e outras organizações voltam a “esquecer” que não será através da direita, do judiciário ou dos patrões que a crise no Brasil será resolvida, somente através de um programa de independência de classe dos trabalhadores.

Por isso, alguns de forma mais envergonhada, como a maioria do PSOL, outros de forma mais descaradamente adaptada à direita como o PSTU (que considera que esta movimentação se trata de uma “rebelião” da classe operária), estão apoiando efusivamente a “greve dos caminhoneiros”. Não é de se estranhar que quem esperava que um golpe institucional, pelas mãos da Lava Jato, da Rede Globo e do Congresso, fosse beneficiar a classe trabalhadora, agora incentive acriticamente este movimento, que tem a expressão máxima do seu reacionarismo nos inúmeros vídeos e imagens de faixas, cartazes e palavras de ordem pela intervenção militar no Brasil. Mas também a parcela da esquerda que tanto anunciou uma chegada do fascismo no Brasil (para esconder sua própria incapacidade de manter sua independência do PT) agora termina se adaptando a um movimento de conteúdo reacionário, se unificando no seu apoio acrítico aos bloqueios de caminhoneiros com a esquerda que apoiou o golpe institucional e a prisão arbitrária de Lula, que acha que todo movimento contra o governo, independente de sua direção e programa, é sempre favorável à classe trabalhadora.

Nós do MRT não estamos nem com o governo golpista de Temer, nem com as multinacionais do transporte e do agronegócio. Consideramos que somente a classe trabalhadora organizada poderá dar uma resposta à crise do país.

A greve dos petroleiros, apesar de sua direção traidora, pode ser um ponto de apoio para a classe trabalhadora entrar em cena com seus métodos e um programa operário de saída pra crise, começando pela imediata redução do preço de todos os combustíveis (em primeiro lugar da gasolina e do gás de cozinha) sem subsídios com dinheiro público, o que só pode se dar com uma Petrobras 100% estatal sob administração dos trabalhadores e controle popular (não com “mudança da política de preços” do PT)

Esta estatização deve ser sem indenização aos grandes acionistas, garantindo também maior segurança no trabalho, a efetivação de todos os trabalhadores terceirizados ao quadro de efetivos, completa transparência nos contratos, plano racional para investir as verbas do petróleo a serviço das necessidades da população; pelo fim imediato do decreto de Garantia da Lei e da Ordem; assim como pela revogação da Reforma Trabalhista e pelo direito do povo decidir em quem votar, sem intervenção do judiciário.

Frente ao fortalecimento de uma tendência de direita, mais do que nunca é urgente uma esquerda anti-imperialista, que lute por esse programa, única forma de diminuir o preço de todos os combustíveis, e também o não pagamento da dívida pública, avançando no sentido de rechaçar a subordinação ao imperialismo norte-americano em uma perspectiva anticapitalista e revolucionária. Chamamos todas e todos que concordem com este ponto de vista a ser parte desta batalha junto com o MRT e o Esquerda Diário.

 
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