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CANDIDATA DO PCdoB FALA DE "ASPECTOS POSITIVOS" DA DITADURA
Manuela D’Ávila reivindica “nacionalismo” da ditadura e diz para não sermos “maniqueístas”
Fernando Pardal

Em entrevista à BBC, a candidata à presidência pelo PCdoB, Manuela D’Ávila, afirmou que o período militar tinha uma visão mais nacionalista que Temer e que “Olhar de forma maniqueísta a história do Brasil não vai ajudar o país a sair da crise”.

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Mal lançou a candidatura, e Manuela D’Ávila já vem se mostrando cada vez mais como um rosto novo para uma velha política conciliadora do PCdoB. Primeiro falou sobre a possibilidade de alianças com o MDB de Temer. Depois, mostrou em seu “programa de segurança pública” que quer mais cadeias e mais aparato repressivo. No 1 de maio, deu as mãos ao golpista Paulinho da Força, que negocia os direitos dos trabalhadores com Temer.

Agora, Manuela D’Ávila, de forma escandalosa, em entrevista à BBC, relativizou o que representou o regime militar no Brasil, o mesmo que assassinou dezenas de militantes do PCdoB na guerrilha do Araguaia.

Repetindo argumentos utilizados recorrentemente pela direita para reivindicar a ditadura, D’Ávila pintou os governos dos militares como “nacionalistas”. Ela disse, literalmente: “Os militares fizeram governos antidemocráticos, que perseguiram meu partido, mas tinham algumas visões mais nacionalistas que o governo atual.”

Em primeiro lugar, salta aos olhos o eufemismo de afirmar que os militares foram “antidemocráticos” e “perseguiram”. Se hoje lutamos contra um absurdo autoritário de um golpe institucional e a prisão de Lula, na época da ditadura os militantes da esquerda – ou, muito menos que isso, qualquer um que defendesse o mínimo de liberdades democráticas, como a estilista Zuzu Angel ou o jornalista Wladimir Herzog – não era meramente “perseguido”, mas sim sequestrado, torturado, morto e desaparecido. Não por acaso, tinha em primeiro lugar como alvo trabalhadores que se organizassem, como o operário trotskista Olavo Hansen. Qualquer um que defenda o mínimo de liberdade democrática – e que dizer de uma candidata de um partido que teve seus militantes barbaramente assassinados no meio da selva – tem o dever de dizer com todas as letras que a ditadura se sustentou sobre uma pilha de cadáveres, sobre as práticas mais monstruosas de tortura.

E então, após tratar isso tudo como se fosse uma mera “perseguição”, D’Ávila acrescenta o seu “porém” em defesa da ditadura: um suposto nacionalismo. Assim, D’Ávila ajuda a perpetuar um mito de que os militares teriam “enfrentado” o domínio imperialista, desenvolvido o país sobre uma base nacional. Em primeiro lugar, basta dizer que o golpe foi articulado e teve apoio ativo – como treinamento militar – da CIA e do governo dos EUA.

Para saber mais: Por que a ditadura militar nunca teve nada a ver com a defesa dos interesses nacionais?

As empresas estrangeiras aqui instaladas, como a Volkswagen, não à toa contribuíram com o regime militar e perseguiram operários. Há casos emblemáticos, como o do presidente da Ultragás, Henning Boilesen (retratado no documentário “Cidadão Boilesen”, empresário dinamarquês que financiou a Operação Bandeirantes, de caça, prisão e tortura de militantes e que precedeu o DOPS e o DOI-CODI.

D’Ávila afirma que “Foi um ciclo que trouxe a indústria para o país, por exemplo. Olhar de forma maniqueísta a história do Brasil não vai ajudar o país a sair da crise.” Ou seja, que teríamos que olhar para esse desenvolvimento de maneira positiva. Essa visão, que é totalmente funcional à direita e aos defensores desse período de massacre aos trabalhadores e aos direitos democráticos, ignora elementos básicos, como o incrível salto do endividamento brasileiro com bancos estrangeiros, chegando a mais de cem bilhões de dólares no fim do período da ditadura, como mostra o gráfico abaixo:

São muitos os exemplos que podem demonstrar como a ditadura foi feita não apenas com a cumplicidade e o apoio do imperialismo, como foi profundamente benéfica para que esse aprofundasse a submissão econômica e política do país em relação aos EUA.

Mas, não é apenas em relação ao passado da ditadura que Manuela D’Ávila cumpre um papel de “amenizar” e distorcer os brutais feitos dos militares. Nos dias de hoje, em que vemos ameaças e chantagens dos militares ao STF para fortalecer medidas como a prisão de Lula, e que cada vez mais os generais se colocam como atores na política nacional, com insinuações de que poderiam querer tomar os rumos do país nas suas mãos, a candidata do PCdoB disse também na entrevista que o “conjunto das Forças Armadas (...) tem compromisso com a Constituição”.

Para se mostrar uma candidata “palatável”, D´Ávila vai a extremos, renegando completamente a luta da esquerda contra a herança da ditadura. Não é de se espantar que por treze anos tenham estado no governo do PT, que ao criar a “comissão da verdade” aceitou tirar a “justiça” de seu nome, simbolicamente, expressando que abriu mão de lutar pela punição dos militares, torturadores e empresários financiadores do golpe. É mais uma escandalosa expressão de que não há nada de “novo” na candidatura de D’Ávila, mas a mesma política de conciliar com que há de mais reacionário no país, chegando a oferecer uma versão da história em que o regime militar teria trazido “benefícios” ao país “apesar de tudo”.

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