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EMPRESÁRIO ANUNCIA "ESPAÇO FAVELA" NO ROCK IN RIO
No elitista Rock in Rio, a favela vai entrar como “cenografia” para gerar mais lucros
Fernando Pardal

Após um ano em que o festival cujos ingressos custam centenas de reais ter acontecido em meio à ocupação militar da Rocinha, o empresário Roberto Medina teve uma ideia para “integrar” a favela ao show: transformá-la em cenografia para aumentar seus lucros milionários.

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A edição de 2017 do Rock in Rio foi marcante. Não sei se para quem estava do lado de dentro da exclusiva “cidade do Rock”, para a qual os ingressos custavam R$ 455 – quase meio salário mínimo – por dia de show. Mas sem dúvida para os moradores da Rocinha, a maior favela do Rio de Janeiro, sim: enquanto na Barra o show acontecia, no morro era a ocupação militar de Temer e Pezão que aterrorizada os moradores.

Mas não pensem que os milionários empresários que lucram com o festival tem um “coração de pedra”: do alto de suas luxuosas mansões e iates, eles também se comovem com a brutalidade da vida que grande parte do povo carioca leva nas favelas. Por isso, o empresário Roberto Medina, presidente do Rock in Rio, teve uma ideia: criar o “Espaço Favela”, um ambiente dentro do festival com uma cenografia “grandiosa, lúdica, bem colorida” que trará atrações de dança, gastronomia, teatro e música.

Ao que tudo indica, os militares e os tiroteios não devem fazer parte da “recriação lúdica” da favela que Medina pretende fazer para transformar a miséria do povo em um “show” para arrecadar lucros milionários. Nem poderão os moradores das autênticas favelas, onde a precariedade das condições de moradia está bem longe de ser “grandiosa, lúdica e bem colorida” conhecer essa luxuosa alusão às dificuldades que vivem cotidianamente. A não ser, é claro, que paguem o ingresso de meio salário mínimo. Ou que entrem na “cidade do rock” como trabalhadores precários e super-explorados que ficam aos milhares nos bastidores como faxineiros, seguranças, cozinheiros, atendentes para que Medina e seus comparsas possam lucrar seus milhões com sua “favela fantasia” enquanto pagam salários de fome aos favelados que trabalham para eles no mundo real.

Cinicamente, Medina quer vender sua lucrativa ideia como “o início de um grande movimento para resgatar a autoestima do carioca, uma forma de debater o que o poder público pode fazer pelas favelas”. E arremata: “Não é a solução, é apenas um primeiro passo.” Claro! Ao transformar a favela em uma atração ele está, humildemente, dando o primeiro passo para que o “poder público” resolva a questão dos morros cariocas.

A essa intenção tão nobre de Medina se somam parceiros tão nobres quanto ele, como o presidente do Sebrae, Guilherme Afif Domingos, esse ilustre representante da patronal do comércio, com currículo na política ao lado de nomes como Maluf, e diversos cargos ocupados em defesa dos patrões em sua associações. Sobre a iniciativa do “Espaço Favela”, Afif diz: “Nós temos que pensar em inclusão social, não podemos continuar vivendo no apartheid entre morro e asfalto. E o denominador comum é a economia criativa”.

“Economia criativa”, na boca de um representante patronal desse calibre, pode facilmente ser traduzido como “trabalho precário”, ainda mais após a reforma trabalhista. Para ele, os moradores das favelas podem continuar nas favelas e recebendo salários de miséria no comércio (um dos setores onde a reforma trabalhista apresentou mais cedo suas consequências, como com salário de 4 reais a hora em trabalho intermitente. Imagina-se que os moradores das favelas que trabalharem no “Espaço Favela” de Afif e Medina não receberão oferta de trabalho muito melhor, mas, de acordo com o representante patronal, estarão superando o apartheid entre morro e asfalto.

Medina ainda prometeu em setembro ou outubro uma coletiva de imprensa, com direito a show, para falar mais sobre o Espaço Favela. E arrematou: “ Quase todos na favela são do bem e eles estão sofrendo bem mais do que nós.”

Para apaziguar esse sofrimento da gente “do bem”, Medina vai transformar a favela em mais lucro. Para seu bolso, claro, pois, afinal, ele também está "sofrendo".

 
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