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CONFERÊNCIA DA FT
Sobre “anti-utopias” e barbárie no capitalismo atual
Paula Bach
Buenos Aires
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A escassez de espaço para o investimento lucrativo e sua outra face, o crescimento acelerado dos ativos financeiros, servem para compreender a carga propagandística e contraditória da série de “anti-utopias” que o capitalismo promete. Se o estado da técnica permite reduzir o tempo de trabalho requerido para a produção dos bens existentes, a consequência “natural” prometida é a condenação de milhões a se converterem em mendigos por falta de emprego.

Se o desenvolvimento das forças produtivas aumentou a média de vida, a consequência “naturalmente necessária” são as reformas da previdência que tem como objetivo incrementar a idade para se aposentar para que não passe pela cabeça de ninguém viver anos de descanso sem resultar nada “produtivo” para o capital. As reformas da previdência, assim como as trabalhistas, querem extrair não menos, e sim mais tempo de trabalho, mas com maior flexibilidade para satisfazer as necessidades do capital.

Mas por um lado, de que “fim do trabalho” falam então se todas as “reformas” estão feitas para aumentar as horas, dias e anos cedidos ao capital? E por outro, quão real é a ameaça do “fim do trabalho” quando os níveis de investimento estão em mínimos históricos? Naturalmente, para que a tecnologia se transforme em força material e para que o tempo de trabalho necessário para produzir os bens existentes diminua – para além da maneira reacionária em que o capitalismo resolve sempre esse assunto – é necessário um crescimento vigoroso do “investimento” que permita incrementar a produtividade. E justamente a debilidade do investimento e da produtividade – cuja consequência é a subida ilimitada dos mercados financeiros – constituem os aspectos mais sintomáticos da falta de dinâmica da economia capitalista na atualidade.

Este conjunto de contra-sensos permite elucidar a intenção disciplinadora de um discurso cujo objetivo é amedrontar os trabalhadores com o fim de aumentar a cota de exploração.

Torna-se então fundamental mostrar que a proposta da “renda universal” pretende gerar ilusões reformistas nas migalhas que o capitalismo pode outorgar, e que se opõe pelo vértice a uma política transicional de reduzir as horas de trabalho (com um salário de acordo com a renda mínima familiar necessária) e reparti-las entre todos os braços disponíveis. A renda universal constitui um programa oposto à perspectiva de emancipar a humanidade cada vez mais do tempo de trabalho, que é, em última instância, a perspectiva do comunismo. Se trata de uma discussão chave em um “mercado de trabalho” mundialmente dualizado e dividido em estratos múltiplos com setores, de um lado, que trabalham acima do tempo regulamentado e do outro lado que não alcançam completar uma jornada e onde as políticas do capital vão buscar fragmenta-lo ainda mais, incrementando concomitantemente o desemprego estrutural.

A recente greve da IG Metall na Alemanha, da qual participaram centenas de milhares de trabalhadores pela redução da jornada trabalhista, mostrou que existe um sentimento profundamente progressista em setores importantes da classe trabalhadora sobre o que devemos influir contra as políticas reacionárias das patronais e as burocracias que terminam – como no caso da IG Metall – aceitando uma redução da carga horária em troca de reduções salariais e aumento das horas de trabalho de outros setores.

Por último, e estritamente relacionado com a escassez de investimento, as crescentes tensões interestatais e o grande desenvolvimento tecnológico, a imagem de grandes catástrofes bélicas está cada vez mais presente – incluído o risco de acidentes catastróficos (Ver: “Tensões econômicas e instabilidade política na situação mundial”). Longe de um imaginário reformista em direção a um futuro próximo, a ideia de belicismo como “nova empresa” do capital, na atualidade, toma corpo pela “positiva” – no sentido do aumento do gasto militar e no aumento das disputas geopolíticas ou da carga simbólica do chamado “Relógio do Apocalipse”.

Como antecedente, faz alguns anos que sintomaticamente a ideia da guerra aparece nas formulações da intelectualidade mais ou menos “mainstream” – Larry Summers, Krugman, Piketty, entre outros – como ideia negativa e como a outra face da falta de esperança capitalista na possibilidade de que as novas tecnologias abram espaço para o investimento lucrativo e deem lugar a uma suposta “revolução produtiva”.

Hoje cada vez mais se torna evidente a barbárie do capitalismo. Somente 8 grandes capitalistas concentram a mesma riqueza que 3,6 bilhões de pessoas, que representam a metade da população mundial. Um sistema que utiliza a propriedade privada dos meios de produção social para submeter bilhões de trabalhadores, onde o avanço da tecnologia não leva à libertação do trabalho, e sim agrava suas cadeias, onde o prolongamento da vida humana se converte em um demérito, onde a possibilidade de grandes saltos no investimento e no desenvolvimento tecnológico se associam às grandes catástrofes bélicas, sem dúvidas merece perecer.

 
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