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TRIBUNA ABERTA
As favelas cariocas pedem socorro!
Gizele Martins
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Foto: Coletivo Maré Vive

As favelas do Rio de Janeiro estão sofrendo cada dia mais com o terrorismo do Estado Brasileiro. Só nos primeiros meses do ano, inúmeras favelas já sofreram com invasões de diversas operações policiais. Ontem, dia 06 de fevereiro, foram mais de 14 horas de tiroteios ocasionados pelo Bope, Core e a Polícia Militar com uso de caveirões em 8 favelas que pertencem ao Conjunto de Favelas da Maré, na zona Norte do Rio de Janeiro. Nesta operação que deixou mais de 50 mil pessoas trancadas e desesperadas dentro de suas casas, duas pessoas foram assassinadas. Uma delas, Jeremias, criança de 13 anos, que estava jogando bola na rua e Emilly, de 3 anos. Foi um dia de massacre e terrorismo.

Quarenta escolas ficaram fechados e mais de 5 postos de saúde também permaneceram fechados durante todo o dia. Os tiroteios acertaram também casas, carros, acabando com os pertences materiais dos moradores. O Estado brasileiro está cada vez mais investindo no massacre de sua própria população. Importante relatar que é a população pobre, negra e favelada a atingida pelo poder bélico estatal nos centros urbanos do país.

Chega de terrorismo. Queremos direitos, o principal deles, é o direito à vida. Chega da favela chorar!

Segue meu relato do dia de terror que passamos ontem na Maré:

"Acordei às 6 da manhã, não sabia que barulho era, ainda tonta percebi que eram tiros, gritos, tiros e mais gritos. Pensei: É briga de facção ou operação? Dez minutos depois soube que era o bope, core, polícia, caveirão, tiros, mais tiros, mais gritos e gritos. Gritos de todos os lados. As crianças já estavam se arrumando p irem à escola. Logo, recebemos a notícia de que as escolas não abririam. Os postos de saúde também não. Era cedo ainda quando no celular a gente via pessoas de diversos becos e vielas da Maré relatavam que tinha tiro. "Tiro no Timbau"; "Tiro na Baixa"; "Tiro na praça do 18"; "Tiro no Pinheiro"; "Tiro no Palace"; "Tiro na Vila"; Tiros, tiros, tiros e não eram só as notícias de tiros que eu lia dos outros cantos. Eu tb relatava os tiros na área que moro, eu tb dizia "Tiros aqui". Notícias de casas invadidas também foram relatadas durante todo o dia. Carros metralhados. Eu ainda estava com a esperança dos tiros acabarem por volta dos meio dia. Estava já indo me arrumar para tentar ir ao trabalho. Mas, na rua os tiros continuavam, caveirão circulavam por toda a parte da favela. Mais tiros, tudo continuava fechado, mais caveirões. O pior de tudo era o silêncio do nosso cotidiano sendo abafado pelos barulhos de tiros. Um pouco mais tarde, veio a notícia de uma criança baleada, depois, outro jovem baleado. Daí, vi fotos, mais um corpo no não, sangue de favelado, sangue de criança e jovem assassinado. Em seguida, protestos nas vias expressas. Os jornais logo noticiam apagando todo o terrorismo e colocando como manchete as pistas fechadas, justificando o terrorismo de Estado. Aqui e pelas outras redes, vi as pessoas que estavam comentando sobre as mais variadas notícias do país e da cidade logo se desesperarem pq as pistas estavam fechadas. Já eram 16 e pouca da tarde. Eu pensei...poxa...só agora as pessoas viram que está dando tiro aqui...mas a preocupação é com o trânsito, mas cara, e os tiros desdes às 6h? Depois das pistas fechadas, mais tiros, granadas, bombas de gás, mais terrorismo, mais massacre, mais tiros nas mais variadas favelas da Maré. Enfim, são quase 20 da noite e eu só queria relatar mesmo o choro, a dor, o desespero que é viver ou sobreviver num lugar como este. Todo este relato será sempre invisibilizado, apagado, censurado, abafado. Parece que as nossas vidas não valem nada, pois o outro lado da cidade só vai saber do que acontece aqui quando a vida deles é e for atingida por uma revolta quandoo os nossos aqui estão perdendo a vida. Não aguento mais essa realidade que nos sufoca. Chega de enterrar os nossos. Chega de tiros. Eu quero o barulho cotidiano da favela, um barulho que hoje durante o dia inteiro eu não ouvi porque ele foi abafado pelos gritos e tiros de um Estado racista que nos mata."

 
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