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25 de julho: ESPECIAL MULHERES NEGRAS
Mulheres negras lutadoras
Ariane Sedov
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Apesar de vivermos num mundo repleto de machismo e racismo, que colocam as mulheres negras nos piores postos de trabalho e sob as mais difíceis condições de vida, o espírito de luta e coragem de muitas dessas guerreiras precisa ser recuperado constantemente por nós.

E por isso, nesse dia 25 de Julho, dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, é preciso relembrar, homenagear e recuperar o espírito de luta de algumas dessas mulheres, que decidiram não aceitar caladas a opressão e exploração sob a qual lamentavelmente viviam.

A historiografia brasileira pouco recupera a combatividade e o histórico de lutas do povo negro, como se este não tivesse sido um sujeito fundamental para as tensões políticas e sociais na História do Brasil. Mas a realidade é o melhor critério para a verdade. Estudando um pouco mais a fundo a história de nosso povo podemos descobrir os verdadeiros heróis e heroínas que tivemos e que deram suas vidas, lutando por liberdade, igualdade e pelo fim da escravidão. As mulheres negras escravizadas foram parte ativa e fundamental dessas lutas e aqui iremos recuperar a história dessas destemidas combatentes.

Uma das primeiras mulheres negras a ser um grande exemplo de luta para nossa história é Dandara, do quilombo dos Palmares, na Serra da Barriga, Pernambuco. Este foi o maior quilombo existente no Brasil Colonial do século XVII e ficou famoso por ser um símbolo da resistência negra por mais de um século, em pleno regime escravocrata no brasil. Todos nós já ouvimos falar de Zumbi dos Palmares. Porém, pouco se conhece sobre a história de Dandara, uma das principais líderes desse quilombo e também companheira de Zumbi. No pouco que se sabe sobre sua história, ela fora ainda jovem para o Quilombo dos Palmares e quando adulta também fez parte do exército palmarino. Para isso aprendeu a lutar capoeira, a pegar em armas, e se tornou uma das principais líderes desse quilombo, dirigindo as falanges femininas nesse exército.

Mas antes mesmo de Dandara, outra líder fundamental para a resistência dos negros escravos no Brasil, foi Aqualtune Ezgondidu Mahamud da Silva Santos, mais conhecida como Aqualtune Palmares, avó de Zumbi. Como conta a história, Aqualtune era uma princesa e filha do Rei do Congo que, em 1665, liderou um exército de cerca de 10 mil homens na Batalha de Mbwila contra os Wachagas, sendo que provavelmente este conflito fora provocado pelos portugueses, interessados em cativos para o comércio de escravos. Derrotado, o povo do Reino do Congo foi capturado e trazido para o Brasil, e Aqualtune viera junto. Já no Brasil, no período final de sua gestação, participou de uma fuga para o Quilombo dos Palmares, onde liderou um dos mocambos que recebeu seu nome. Lá deu à luz a dois outros líderes, Ganga Zumba e Ganga Zona.

Já nas primeiras décadas no século XIX, uma líder negra ajudava a organizar quase todas as revoltas e levantes de escravos na Província da Bahia, e ela era Luíza Mahin. Pertencente à tribo Mahi (e daí seu sobrenome) e à nação Nagô, Luíza e seu povo haviam sido colonizados por muçulmanos na África e por isso se converteram ao Islamismo. Os negros trazidos de cultura islãmica eram chamados de Malês, justamente o nome dado a uma revolta que Luíza Mahin participara: a Revolta dos Malês, que questiona as péssimas condições de vida dos negros de ganho (negros livres que eram artesãos, alfaiates, carpinteiros, pequenos comerciantes). Essa revolta questiona a escravidão e a imposição do catolicismo como religião única no Brasil. Além disso, Luíza também participou da Sabinada, uma outra revolta que ocorrera na Bahia que teve como estopim o recrutamento militar obrigatório para combater a Guerra dos Farrapos no Sul do país.

Já no século XX, mesmo com o fim da escravidão, a população negra ainda continuava à margem da sociedade, com os piores postos de trabalhos e condições de vida. A vida nos morros, favelas e cortiços continua sendo a dura realidade dos negros brasileiros e nesse ambiente é que surge uma das mais importantes escritoras brasileiras: Carolina Maria de Jesus, poetisa negra, semi-analfabeta, moradora da favela, mãe de 3 filhos e que trabalhava vendendo lixo reciclável. Seu primeiro grande livro, Quarto de Despejo, é lançado em 1960 e estoura nas bancas como um grande sucesso sendo lido na Europa, Estados Unidos, Cuba. Este livro era a espécie de um diário em que Maria Carolina narrava o cotidiano da favela e as dificuldades pelas quais passava:

“24 DE JULHO Como é horrível levantar de manhã e não ter nada pra comer. Pensei até em me suicidar. Eu me suicidando é por fim a deficiência de alimentação do meu estômago. E por infelicidade eu amanheci com fome. Os meninos ganharam uns pães duros, mas estavam ‘recheiados’ de pernas de baratas. Joguei fora e tomamos café. Botei o feijão pra cozinhar.”

Infelizmente, o reconhecimento do trabalho de Maria Carolina de Jesus durou pouco, e com o início da Ditadura Civil-Militar no Brasil sua obra foi praticamente invisibilizada, assim como quase todo tipo de arte periférica e popular.

Essas são apenas algumas de tantas outras mulheres lutadoras, escravizadas insurretas, que deram suas vidas para lutar contra a escravidão, o racismo e a opressão. E é esse o espírito que queremos resgatar nesse dia tão importante para as mulheres negras, latino-americanas, caribenhas e indígenas, pois milhares delas nos deixaram as melhores lições de como somos fortes, e de como podemos tomar o nosso futuro em nossas mãos, ao lado de nossos companheiros, para construir um mundo verdadeiramente livre de toda opressão e exploração.

Dandara e Aqualtune dos Palmares, Luíza Mahin, Carolina Maria de Jesus e a tantas outras bravas companheiras e guerreiras, nós gritaremos, hoje e sempre: PRESENTE!

 
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