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RACISMO NA EUROPA DO CAPITAL
Natal no inferno: os refugiados na Europa
Víctor Stanzyk

A crise dos refugiados volta a desmascarar o rosto mais cruel e conservador da Europa. E tudo quanto possa ser descrito não deixa de ser uma pequena descrição da cruel realidade.

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Milhares de refugiados amontoados em acampamentos improvisados sem capacidade para lhes dar acolhimento (no campo de Moria, em Lesbos, Grécia, são 7mil pessoas em um espaço que comporta 1500). As barracas se amontoam no campo aberto ou em armazéns industriais e não há onde sequer onde se pisar de tão lotados. Falta infra-estrutura que permita abastecimento de água, higiene ou comida. Falta um espaço próprio para viver e estão sem aquecimento no inverno. São prisioneiros entre duas fronteiras. São deixados para morrer no desespero, completamente despossuídos de suas próprias vidas, vendendo-as aos cafetões e traficantes do mercado negro e da União Europeia.

O êxito em cruzar quilômetros e quilômetros com um par de sapatos gastos, de conseguir sobreviver travessias em balsas (que já deixaram 1800 mortos esses ano) e uma vez que tenham superado todas as suficientes barreiras burocráticas, e demonstrado ser de uma das escassas nacionalidades que tem direito ao asilo, esse sucesso é, no melhor dos casos, a angústia e a dor.

Como uma paródia natalina, os chefes de Estado da Europa se reuniram no último dia 14 de dezembro para decidir seu destino. A tensão é patente entre os estados-membro da UE, e o debate girou em torno da obrigatoriedade das cotas de acolhida de refugiados (caso alguém pensasse que isso já estava fechado). Somente Malta ultrapassou seu objetivo em 13%, seguidos da Finlândia e da Irlanda com um realização de 94% e 92% de suas cotas. Ao contrário disso, no começo deste mês veio a público que a União Europeia iria julgar a Polônia, Hungria e a República Tcheca por se negarem a receber os refugiados. A Eslováquia, que ainda não está acusada, também resistiu a entrada dos refugiados, e recentemente a Áustria também teve a mesma postura. Este país já militarizou a fronteira para impedir o trânsito dos refugiados a um ano. Estes países ofereceram como única “alternativa” um plano de 35 milhões de euros para reforçar as fronteiras da EU e assim manter os refugiados dentro de seus respectivos países. E esses mesmos países se mostraram inflexíveis a respeito de que essa seria a única colaboração que iriam oferecer.

“Estamos dispostos a contribuir com uma quantia considerável de dinheiro para defender a fronteira externa da União Europeia e contribuir nas ações iniciadas pela UE no território da Líbia”, declarou o primeiro ministro de Hungria, Viktor Orban.
Isto não é um problema isolado de quatro países com governos ultraconservadores. O ex primeiro-ministro da Polônia, e atual Presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, usou como desculpa o fracassos dos objetivos (induzidos como foram) para propor eliminar as cotas obrigatórias impostas aos países e tornar o acolhimento algo voluntário. As conseqüências desta política xenófoba e a lamentável situação vivida nos campos de refugiados não demoraram para se sentir: quebradeira de ossos em uma repressão à revolta ocorrida no Campo de Moria em Lesbos. Na repressão, a polícia grega deixou dez feridos entre eles uma criança e uma mulher grávida.

Por sua vez, outros países como a Espanha não foram honestos com suas intenções e se deram desculpas por não ter cumprido com sua cota. Em setembro deste ano quando vencia o prazo de realocação de refugiados, somente tendo acolhido 14% dos 17.338. Em um debochado ato de cinismo, o ministro de Assuntos Exteriores, Alfonso Dastias, assegurou que não foram acolhidos o total de refugiados simplesmente “porque não há pedido de tramitação”, ou dito em bom português não há quem receber. O presidente Mariano Rajoy também não teve mais tato. Ele apelou ao consenso na reunião e acrescentou que mais que discutir sobre as cotas deveria ser buscar a cooperação dos países de origem, como se estivesse tratando de turistas.

Enquanto a hipócrita e impassível União Europeia luta entre si por uma solução que manche menos possível sua imagem, o discurso perde valor conforme olhamos para os fatos. As ONGs e agências internacionais, ainda no trabalho que possam realizar de denúncia e sensibilização, demonstram ser insuficientes. Não basta a denúncia e o apelo a valores morais. Somente uma estratégia política e anticapitalista pode dar uma resposta real. É necessário analisar o problema em relação à cruel gestão feita pela UE. Uma gestão que não somente não se responsabilizou pela realocação, sem se importar com o destino dos filhos da guerra e da miséria, mas pelo contrário, os governos conservadores mostraram com descaramento sua xenofobia e racismo sem censura alguma de parte da social-democracia cúmplice. A social-democracia leva suas mãos à cabeça, tatua nos lábios a palavra solidariedade e aperta um pouco mais o cinto de quem não tem mais nada a perder que suas vidas.

 
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