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ORIENTE MÉDIO
Cúpula de países islâmicos declara Jerusalém oriental como capital da Palestina
Juan Andrés Gallardo
Buenos Aires | @juanagallardo1

A uma semana da decisão de Trump de reconhecer Jerusalém como capital de Israel, a Organização para a Cooperação Islâmica reunida na Turquia respondeu respaldando a Palestina. Abás renuncia os acordos de Oslo e os Estados Unidos como interlocutor.

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A resposta de parte dos países muçulmanos a provocação de Donald Trump de declarar Jerusalém como capital de Israel chegou somente uma semana depois, durante a reunião da Organização para a Cooperação Islâmica (OCI) que se realizou quarta-feira (13/12) na Turquia.

O presidente Turco Recep Tayyip Erdogan foi um dos primeiros a contestar na semana passada a declaração de Trump, ao anunciar que estava cruzando uma “linha vermelha” ao tomar a decisão de reconhecer Jerusalém como capital de Israel. Erdogan convocou então, a reunião da OCI para esta semana onde aspira aparecer como principal defensor da causa Palestina e “herói” da rua árabe (sem ser a Turquia um país árabe), colocando seu país como um jogador chave do Oriente Médio, em um mosaico regional que aparece fraturado.

O rascunho da declaração, declarava “Jerusalém como capital do Estado da Palestina e convocava todos os países a reconhecer o Estado da Palestina e Jerusalém oriental como sua capital ocupada”. O documento também condena o reconhecimento por parte dos Estados Unidos de Jerusalém como capital de Israel e qualifica Israel como racista.

O documento da OCI expressava o compromisso dos países membros “pela busca da paz” baseada em uma solução de dois estados. De fato as divisões internas se faziam notar, como no caso da Arábia Saudita que enviou um representante de baixo alcance para não confrontar os Estados Unidos, e em um comunicado prévio assegurou que sua aposta é pela paz.

No entanto, na cúpula onde participaram pelo menos 48 representantes dos 57 países membros da OCI, os oradores disseram que os Estados Unidos havia perdido sua capacidade de mediar após sua decisão e que o responsabilizavam “pelas consequências de sua decisão”.

A resolução da OCI

O documento apresentado pelos “reis, chefes de Estado e de Governo dos Estados membros da Organização para a Cooperação Islâmica(OCI)” apresenta em 23 pontos a postura do mundo muçulmano diante da decisão dos Estados Unidos.
Nesse texto a OCI “rechaça e condena nos mais fortes termos” o que chama de uma “decisão unilateral” de reconhecer Jerusalém como capital de Israel, a qual se refere como “força de ocupação”.

Os países muçulmanos qualificam o anuncio de Washington nulo e ilegal, e o considera um ataque aos direitos do povo palestino e uma “deliberada deterioração de todos os esforços de paz”.

Além disso, o texto alerta que dará impulso a movimentos extremistas e supõe uma ameaça a paz e segurança internacional.
Segundo um comunicado público feito pela OCI, a declaração final pedirá também aos membros do organismo que imponham “restrições políticas e econômicas a todos os Estados, altos cargos, Parlamentos, empresas e indivíduos que reconheçam a anexação de Jerusalém a Israel ou colaborem com medidas que tente perpetuar a colonização de Israel sob os territórios Palestinos ocupados”.

O comunicado também considera o governo estadunidense “plenamente responsável de qualquer repercussão” e da “decisão ilegal” de reconhecer Jerusalém como capital de Israel, que considera “uma clara deserção do governo estadunidense de seu papel como mediador da paz”.
Além disso, o rascunho da declaração pede a todos os membros da OCI aumentar seu apoio diplomático e sobretudo econômico a Palestina e seus habitantes.

Renuncia dos Acordos de Oslo e dos Estados Unidos como interlocutor

Na reunião o presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abás, anunciou que considera que não estão mais em vigor os Acordos de Oslo, nem qualquer outro firmado desde então, como consequência de decisão de Trump.

“A decisão sobre Jerusalém nos libera de todo o acordo firmado. Por exemplo os Acordos de Oslo. Nós assinamos, mas agora eles não são mais vinculativos para nós”, disse Abás durante a reunião extraordinária da Organização para a Cooperação Islâmica em Estambul. O mandatário da Palestina também anunciou o fim do papel dos Estados Unidos como mediador do conflito.

Os acordos de Oslo, firmados em 1993, estabeleceram o reconhecimento internacional da autoridade Palestina como corpo administrativo em Cisjordânia e Gaza, e estabeleceram a base para a colaboração administrativa entre o Governo de Israel e organismos palestinos nos territórios ocupados. Falando a verdade, o acordo fracassou há muito tempo e Israel continuou colonizando territórios na Cisjordânia e sufocando Gaza. No entanto, ainda que o anuncio de Abás seja essencialmente simbólico, é uma decisão apressada devido a mudança de posição dos Estados Unidos que ameaça incendiar todo o Oriente Médio, empurrando a Autoridade Palestina a uma posição de confronto que não tinham a intenção de tomar.
Foi nesse tom que declarou: “Trump provocou todo mundo. Os Estados Unidos escolheu perder sua capacidade de mediador e se desqualificou para participar do processo de paz. Tem mostrado sua parcialidade.”

Um tabuleiro em chamas

Na sexta-feira passada o secretário de Estado dos Estados Unidos Rex Tillerson, tratou de colocar panos frios na decisão de Trump dizendo que o translado da embaixada a Jerusalém provavelmente não ocorrerá em seu mandato atual. Ou seja, deixou a porta aberta para que não se leve adiante e que os presidentes dos Estados Unidos vem estendendo desde 1995 para evitar faze-lo, se estendendo ao longo do tempo.

Porém, o dano já estava feito, e numa região tão inflamada quanto dividida, e com tantos fatores externos envolvidos, cada um saiu jogando su carta. Enquanto Netanyahu festejava e tratava de conseguir os favores do príncipe saudita (gerando um curto-circuito com o rei), Abás teve que ensaiar um discurso pirotécnico (para o que não estava preparado e nem interessado), Irã aproveitou para aparecer como o defensor da Palestina diante do seu competidor saudita, e finalmente foi a Turquia quem menos moveu suas fichas.

Erdogan, anfitrião da reunião que aconteceu na quarta-feira já havia alcançado ser visto como um herói da causa árabe (sem ser árabe) em 2009 quando enfrentou a Shimon Peres em Davos durante a operação Chumbo Fundido que Israel levada adiante contra Gaza. Tendo feito um equilíbrio que o permitiu lucrosos acordos comerciais com Israel, ao mesmo tempo que patrocinava ajuda humanitária em Gaza (que foi atacada pelo exército de Israel e quase provoca o início de um confronto), Turquia está hoje em uma posição privilegiada para o plano de Erdogan de fortalecer-se como um jogador regional que não apenas aproveite as rachaduras do conflito Palestina - Israel, mas também o crescente confronto entre Irã e Arábia Saudita. Ao mesmo tempo Erdogan manda uma mensagem a Trump por seu apoio às milícias Kurdas na Síria (que são consideradas terroristas para o presidente turco).

Erdogan pode se aproveitar da ocasião e ficar como figura central de um “consenso muçulmano” sem a necessidade de incendiar as ruas. A “rua árabe” ficou golpeada depois do desvio e posterior derrota da Primavera Árabe, e a sangrenta guerra civil na Síria que concentrou os interesses e as contradições das potências regionais e mundiais. No entanto, o Oriente Médio segue sendo uma pólvora, e jogar fogo pode ser muito perigoso.

 
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