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A VELHA POLÍTICA DOS ACORDOS COM A DIREITA
Mal se “pré-candidatou”, e Manuela D’Ávila (PCdoB) já diz querer se aliar com PMDB
Fernando Pardal
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As declarações de Manuela D’Ávila em entrevista ao jornal baiano “Correio” podem ser classificadas como tudo que se queira, menos surpreendentes. Ela diz, sobre seu amigo pessoal, o Senador peemedebista Roberto Requião: “Ele faz parte da minha ideia de frente ampla. E ele é do PMDB. Os partidos não têm esse contorno ideológico que a imprensa tenta dar. Como vou dizer que o PMDB de Requião é o mesmo de Temer? A política é mais complexa no Brasil".

Na verdade, a “ideia de frente ampla” do PCdoB vai ainda muito mais à direita e além de Requião. Basta ver o governo do partido feito por Flávio Dino no Maranhão, que conta entre os partidos de sua base aliada com o PSDB. D’Ávila também comentou esse “feito”, reivindicando a aliança nos seguintes termos: "O Maranhão é um exemplo: tem muitos partidos, mas tem um projeto para tirar o Maranhão do mais baixo IDH do Brasil. Há um pacto pelo desenvolvimento do estado, tirar o Maranhão das mãos do Sarney". O cargo de vice-governador da gestão de Flávio Dino é ocupado por Carlos Brandão Junior, do PSDB.

Flavio Dino e Carlos Brandão, protagonistas da aliança PCdoB/PSDB no Maranhão

Claro que, se hoje Sarney é o grande mal a ser combatido, ontem ele era um grande aliado dos governos petistas que o PCdoB defendeu com unhas e dentes. A consistência política desses supostos “comunistas” do PCdoB é tão maleável quanto é firme seu faro para todo tipo de oportunismo em busca de um lugar no regime político corrupto e apodrecido da burguesia brasileira. Os carreiristas em suas fileiras, cobras criadas nesse jogo de troca de favores, agem de acordo: assim foi com o histórico militante do partido, Aldo Rebelo, militante desde 1977 do PCdoB e que, uma década depois de ser o comandante da aprovação do monstruoso código florestal em defesa dos interesses dos latifundiários, agindo como a “tropa de choque” do agronegócio na Câmara, recentemente abandonou o barco para tentar alçar voos mais altos no PSB. Esse, que ocupou nada menos que quatro ministérios dos governos petistas e a presidência da Câmara no primeiro governo Lula, expressa bem o que podemos esperar de gente oriunda do PCdoB.

Mas, voltando à atual liderança do PCdoB que leva adiante o seu projeto de “frente ampla” para a disputa presidencial, Manuela D’Ávila também deu uma palestra em sua passagem por Salvador. Nela, reivindicou o papel do PCdoB durante os governos petistas: “Nós tivemos uma longa relação de apoio aos governos Lula e Dilma, mais do que apoiar, governamos juntos, construímos mudanças importantes para o Brasil.” Sobre o papel do governo Lula e de seu possível retorno, indico a leitura desse artigo de Leandro Lanfredi, que aborda alguns de seus aspectos centrais. O PCdoB nunca ocupou o lugar de “braço direito” dos governos petistas, sempre reservado a seus aliados patronais – desde o empresário José de Alencar, do ex-PL hoje PR, até o futuro golpista e ex-vice Michel Temer. Contudo, não se pode dizer que não tenha tido um papel importante de contenção de uma oposição à esquerda aos governos que deram lucros recordes a banqueiros, fizeram menos reforma agrária do que nos anos de FHC e ainda aumentaram a desigualdade social no país (veja artigo citado acima).

Ex-presidenta da UNE Carina Vitral (PCdoB) em encontro amigável com José Serra

O principal papel do PCdoB sempre foi o de retirar qualquer caráter de independência da UNE, transformando-a numa porta-voz dos governos petistas. Assim foi quando apoiaram firmemente o ProUni, uma política que por trás de um verniz de democratização do ensino superior, é na verdade uma forma de transferir recursos públicos para os grandes empresários da educação privada – estima-se que uma vaga no ProUni, pago por meio de isenção de impostos às instituições privadas, custe três vezes mais do que uma vaga nas universidades federais. Ou com seu boicote ativo à histórica greve das federais de 2012, que lutava contra os efeitos da precarização das condições das universidades devido à expansão sem investimento feita pelo REUNI (outro programa defendido de forma completamente acrítica pela UJS/PCdoB por meio da UNE).

Carina Vitral e Barbara Melo (PCdoB), ex-presidenta da UBES, com a "motosserra de ouro" Katia Abreu

D’Ávila, como a maioria dos quadros do PCdoB, começou sua carreira política no movimento estudantil, fazendo parte desse papel de contenção das lutas. Assim, não surpreende que hoje seja uma defensora das alianças mais podres com setores da direita. E, se lhe sobra discurso inflamado contra os ataques de Temer e os lucros das empresas estrangeiras, na mesma medida falta a seu partido qualquer atitude séria para combater esses mesmos ataques. O PCdoB de D’Ávila dirige não apenas a UNE – entidade na qual recentemente elegeu sua nova presidente pelo habitual método de fraudes e agressões contra opositores – mas também uma das mais importantes centrais sindicais do país, a CTB. Essa foi parte do “não-combate” contra o golpe, e, mais recentemente, da falta de organização e preparo para o dia 5, como coroamente de um longo período em que não mobilizou suas bases seriamente para lutar contra as reformas de Temer.

De “comunistas” Manuela D’Ávila e seu partido não tem nada, a não ser a farsa de seu nome: deixaram para trás há muito tempo qualquer perspectiva de organizar os trabalhadores, a juventude e os setores oprimidos para impor nossas demandas com os métodos da luta de classes. Pelo contrário: como um apêndice do PT, há décadas tudo o que o PCdoB faz é trair as lutas, e, nos casos mais “radicais”, utilizar elas como método de pressão parlamentar, negociando com os patrões por cima de nossas cabeças. É ali, na política eleitoral do "vale-tudo" e nos acordos parlamentares sujos com PMDB, PSDB e setores ainda mais bizarros da direita que o PCdoB faz a sua política "pra valer". Plenamente integrados ao regime político burguês e a serviço da manutenção do capitalismo; de costas para a luta e para os trabalhadores. A nossa saída não está com D’Ávila e seu "amigo pessoal" Roberto Requião.

 
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