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25N - Dia internacional de combate à violência contra as mulheres
Crônica: Relatos de uma dor
Regiane Sousa
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“De menina gostava de pensar que seria uma grande lutadora de karatê. Sim, não pensava em ser atriz, modelo nem nada dessas coisas que classificam como “coisas de meninas”, eu sempre pensava em me defender.

E realmente esse escudo, essa defesa uma dia faria todo sentido.

Me lembro da infância com carinho, das tardes de café com meu avô, nordestino guerreiro que me inspirou na humildade. Me lembro com carinho dele, com saudades fecho os olhos e posso sentir o cheiro de café e o cafuné que me fazia.

A menina inocente, doce sonhadora deu lugar à mulher forte, guerreira que foi a luta depois de muitos obstáculos.

Posso sentir a dor nas costelas daquela noite de sábado; a dor, o desespero, a angústia tomavam conta da mulher que eu era, com duas filhas pequenas. A gente nunca imagina que vai acontecer com a gente. Sempre vê notícias, reportagens, porém nunca pensaria sequer ser agredida dessa forma.

O sonho de princesa não existe e o cenário é de dor. Sentimentos de culpa me dominavam. Que culpa tenho eu? A culpa de ser mulher? Sim, no hospital seria essa a sensação, afinal as mulheres buscam motivos para serem agredidas.

O motivo foi não querer mais um relacionamento de traições, pressões psicológicas, fingimento. Esses foram os motivos que me levaram a quebrar a costela - sim, foi fratura.

Eu não fui a única e não serei a última. Os casos são alarmantes: 60% das mulheres assassinadas são mortas em casa. Esses dados são para a cidade Campinas somente esse ano.

Posso citar inúmeros casos de feminicídio: Vera Lúcia Pezzuto, de 41 anos, que foi assassinada pelo parceiro. Ela estava grávida de duas semanas e ele não aceitou. O caso de Gissele Cristina Silva de Jesus, de 27 anos, que também estava grávida de dois meses, e foi morta pelo ex-marido, na frente da sua própria casa.

Em julho desse ano Denise Neves dos Anjos, de 37 anos, foi morta pelo marido que não aceitava o fim do relacionamento. Ele fugiu com o filho para outra cidade e se matou.

Que lei protegeu essas mulheres? Caso tivessem sobrevivido, teriam apoio psicológico? Haveria segurança para elas e suas famílias se denunciassem? Ou as policiais perguntariam: “o que você aprontou pra acontecer isso?”

Essas mulheres não tiveram a mesma sorte que eu tive, se podemos dizer assim, “sorte”. Não basta sobreviver sabendo que não existe nessa sociedade justiça para o que eu sofri, nem política de prevenção. Quase nunca o feminicídio é reconhecido. A cada mulher morta pelo seu companheiro me faz refletir que poderia ter sido eu, poderia não somente ter as dores da alma, do corpo, mas poderia ter deixado minha família aqui sem mim.”

 
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