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PRÊMIO PARA O REITOR DO RACISMO
Reitor da USP, uma das universidades mais racistas do país, recebe prêmio “Raça Negra”
Redação

Entrevistamos William Garcia, diretor do Centro Acadêmico da Faculdade de Educação da USP, e Pablito Santos, da Secretaria de Negros do Sindicato dos Trabalhadores da USP, ambos do Quilombo Vermelho, sobre o prêmio recebido pelo reitor Marco Antonio Zago.

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Esquerda Diário: o reitor Marco Antonio Zago recebeu nesse dia da Consciência Negra o Troféu Raça Negra, oferecido pela Faculdade Zumbi dos Palmares e pela Organização Não Governamental Afrobras. Vocês podem dizer a nossos leitores quem é Zago?

Pablito Santos: Zago está concluindo sua gestão como reitor da USP esse ano. Ele representa o que chamamos de "burocracia acadêmica", que é um punhado de professores titulares encastelados no Conselho Universitário, um órgão que dirige a universidade de acordo com seus próprios interesses, de forma completamente autoritária, e que faz de tudo para manter a USP como uma instituição absolutamente racista.

Para se ter uma ideia de como é racista a reitoria de Zago, podemos lembrar que eu e o companheiro Zelito, também negro e ex-diretor do sindicato, fomos processados pela reitoria justamente porque estávamos lutando, ao lado dos estudantes, pela aprovação das cotas raciais na USP. Nessa empreitada da reitoria, que queria demitir os negros que lutam contra o racismo da universidade, a reitoria já foi parcialmente derrotada, com o julgamento contrário à minha demissão. Seguimos em luta para derrotar a demissão de Zelito também.

E esse está longe de ser o único caso de repressão racista na USP durante a gestão de Zago. Em junho desse ano, mais uma vez o companheiro Zelito foi vítima de racismo na universidade, dessa vez com a ação policial que o prendeu seu nenhuma justificativa quando voltava de seu almoço. Apenas 50 dias depois foi novamente a minha vez de ser enquadrado pela polícia na USP.

Não é à toa: além de sermos negros, a abordagem policial foi feita justamente ao lado dos portões de pedestres que dão acesso à favela da São Remo, que fica ao lado da USP. Como nós, muitos outros negros são ali constantemente abordados pela polícia racista. A reitoria já tentou diversas vezes fechar esses portões, por onde entram e saem todos os dias centenas de trabalhadores terceirizados, que são superexplorados pelas empresas contratadas pela reitoria. São casos que expressam não apenas o racismo arraigado na USP, mas como a reitoria de Zago foi responsável pelo seu incremento em novas formas.

ED: Além dessa perseguição política contra os que lutaram pelas cotas, que outras medidas a reitoria de Zago tomou que afetam a vida dos negros?

William Garcia: Poderíamos citar muitas, praticamente toda a gestão de Zago foi voltada para o desmonte da universidade, e, portanto, representa um ataque sobretudo aos negros, que são o setor mais excluído das universidades públicas no país. Na Faculdade de Educação, por exemplo, travamos uma luta duríssima contra a reestruturação curricular, que precarizaria a formação dos professores e retiraria as matérias mais críticas do currículo. Até hoje a formação que a USP oferece sobre a cultura e a história africana, por exemplo, são totalmente precárias, mesmo com a obrigatoriedade do ensino desses aspectos no ensino básico há mais de uma década.

Pablito: E as medidas de desmonte feitas por Zago são outro aspecto central do ataque aos negros. As demissões no Hospital Universitário levaram à uma imensa precarização do atendimento à população, com absurdos como o fechamento do atendimento pediátrico. Sabemos que quem depende do atendimento do HU, quem depende da saúde pública, são sobretudo os negros, a população mais pobre que vive nas comunidades e favelas da região oeste. São Remo, Sapé, 1001, entre outras comunidades, ficarão completamente sem alternativas de atendimento. São as vidas dos trabalhadores negros que estão sendo diretamente ameaçadas por ações como essa de desmonte do hospital.

ED: Aparentemente, o troféu teria sido entregue a Zago em decorrência da aprovação das cotas raciais na universidade. O que vocês têm a dizer sobre isso? Que papel Zago cumpriu na aprovação das cotas?

Will: É um absurdo que entreguem um troféu a Zago pela aprovação das cotas. A luta pelas cotas é uma luta do movimento estudantil e de trabalhadores dentro da USP há muitos anos, e mesmo após ter sido aprovada nas universidades federais e em quase todas as universidades públicas do país, o Conselho Universitário da USP e a reitoria seguiam lutando até o fim para manter o caráter de "casa grande" dessa universidade, querendo barrar a entrada dos negros e se pautando pelos argumentos mais abertamente racistas, como de que a qualidade da universidade seria reduzida ou que ela se tornaria mais "violenta". Zago foi parte disso, inclusive impedindo que se pautasse as cotas nas reuniões do Conselho. O processo mencionado por Pablito foi fruto justamente dessa luta, quando estudantes e trabalhadores se colocaram às portas do Conselho para lutar pelas cotas.

O representante dos trabalhadores no Conselho, Bruno Gilga, denunciou sistematicamente as manobras que a reitoria tentou fazer até o último instante para que não fossem aprovadas as cotas. Contudo, vendo que não conseguiria barrar a aprovação, Zago fez um acordo de última hora para posar de progressista e tentar dizer que era ele o responsável pela vitória dos negros que foi conquistada justamente contra ele e a sua reitoria.

Agora, o Troféu Raça Negra colabora com essa farsa, premiando Zago ao lado de outros absurdos, como a premiação de João Doria, o prefeito que tentou impedir a marcha da consciência negra na Paulista.

Pablito: Mais do que apenas preservar a imagem de Zago e da reitoria racista da USP, o que fazem ao premiar essa gestão é fortalecer os novos ataques que seguirão sendo feitos contra o povo negro por parte da USP. O reitor recém-eleito pela absurda e antidemocrática farsa eleitoral da universidade é Vahan Agopyan, vice de Zago, que dará continuidade à sua política de desmonte. Os negros conscientes estarão do lado oposto, enfrentando seus ataques e lutando por uma USP radicalmente democrática, que se abra e coloque seu conhecimento a serviço dos trabalhadores e da população negra.

Veja vídeo de Bruno Gilga e Pablito em junho, em ato pela aprovação das cotas na USP:

Em seguida, reunião em julho em que Bruno Gilga protesta contra as manobras para tentar deixar de fora a pauta das cotas:

Por fim, reunião em 5 de julho em que a reitoria foi obrigada a aceitar as cotas raciais:

 
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