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RESPOSTA AO GLOBO
O Globo sobre Revolução Russa: ridículos malabarismos para defender ataques hoje
Simone Ishibashi
Rio de Janeiro

O jornal O Globo publicou nesse domingo, 29/10 um incrivelmente tendencioso editorial contra a Revolução Russa. Trata-se de uma operação ideológica absolutamente interessada e que se baseia, e acima de tudo fomenta, o desconhecimento histórico básico sobre a Revolução Russa.

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O jornal O Globo publicou nesse domingo, 29/10 um incrivelmente tendencioso editorial contra a Revolução Russa. Não que isso surpreenda, ou que o argumento seja novo. Como toda a ampla gama de setores que querem deslegitimar a experiência da revolução de Outubro de 1917, o editorial do Globo busca igualar esse processo com o stalinismo. Trata-se de uma operação ideológica absolutamente interessada e que se baseia, e acima de tudo fomenta, o desconhecimento histórico básico sobre a Revolução Russa. Já debatemos isso em vários outros artigos.

O processo de burocratização da URSS sob Stalin, a consequente adoção da política de socialismo num só país, a perseguição e o assassinato dos dirigentes do próprio partido bolchevique, bem como ditadura de partido único, foram a ruptura da estratégia elaborada por Lenin e Trotski. E não sua continuidade lógica. Sobre essa questão, publicamos já uma série de artigos, que tratam de demonstrar como a burocratização da URSS não foi uma “tragédia”, mas um processo marcado por determinações materiais. Dentre as quais, insere-se o atraso da Rússia legado pelo czarismo, e mais importante, as derrotas da possibilidade de revolução alemã em 1923, e posteriormente da revolução espanhola durante os anos 1930.

Evidentemente o jornal O Globo mantido pelo monopólio da família Marinho não se dedicaria a esmiuçar, ou mesmo nomear ainda que superficialmente, essa complexa gama de fatores. Rapidamente afirma, sem nenhuma análise, que toda e qualquer revolução a começar pela russa “não deu certo”, para em seguida definir que mesmo assim ela exerce apelo, restrito não apenas aos partidos da esquerda. Segundo O Globo a “o aceno à igualdade tornou-se mais forte que os anseios milenares de liberdade”.

Nessa afirmação nota-se um coro envergonhado com as odes liberais que insistem em sair da tumba em nossos dias, segundo a qual a igualdade não restrita apenas aos direitos formais, mas sobretudo aquela que almeja o fim da exploração do homem pelo homem, como a Revolução Russa pautou, seria uma reivindicação em si mesma absolutamente contrária à liberdade. Cabe ressaltar como a “liberdade” aqui nada mais é do que a velha imposição feita pela minoria capitalista às amplas massas dos trabalhadores de se submeterem a viver na escravidão assalariada.

Ou seja, liberdade uma ova, ainda mais em nossos dias, em que como produto dos ataques de Temer e da crise econômica, política e social criada pelos capitalistas, vimos o tema da legalização do trabalho análogo à escravidão em troca dos votos da bancada ruralista para safar Temer ser quase aprovado em pleno século XXI. A “liberdade” no caso seria a “do mercado” inspirada na velhíssima ideia do laissez faire, cuja superioridade cai por terra quando se analisa como o Estado no capitalismo intervém para salvaguardar os interesses da classe detentora da riqueza. Que aliás foi responsável por lançar a humanidade em duas guerras mundiais, e inúmeras outras, muitas das quais se dão em países pobres e semicoloniais, algo que o Globo ser exime de mencionar.

Cuba, também citada pelo editorial, “teria demonstrado que o máximo que se conseguiria seria uma distribuição igualitária da pobreza, e algumas necessidades básicas”, e jamais a tal liberdade. Decerto que a revolução cubana nasce com a imensa contradição de ter sido dirigida desde o início por uma burocracia. Não houveram sovietes, como na Rússia, e nunca tiveram como objetivo a internacionalização da revolução socialista. Façamos uma comparação simples. Mesmo com todos os problemas de Cuba, a reforma agrária foi realizada. Proibiu-se os despejos de inquilinos, e os alugueis estavam entre os mais baratos do mundo, antes da reforma urbana que transformou 85% dos cubanos em proprietários de suas casas, algo que durante a primeira década do século XXI se mantinha. Não há no país meninos de rua, e 100% das crianças estão na escola. Sobre a Saúde, todo o sistema além de gratuito, permitiu que ainda hoje a expectativa média de vida seja de 76 anos.

Comparemos isso com a realidade brasileira. Não precisa ser nenhum gênio para saber que a concentração da riqueza aumenta a cada dia. De acordo com estudo da OXFAM publicado em 2017 seis bilionários brasileiros concentram a mesma riqueza que metade da população mais pobre. Jorge Paulo Lemann (AB Inbev), Joseph Safra (Banco Safra), Marcel Hermmann Telles (AB Inbev), Carlos Alberto Sicupira (AB Inbev), Eduardo Saverin (Facebook) e Ermirio Pereira de Moraes (Grupo Votorantim) são as seis pessoas mais ricas do Brasil. Estes seis bilionários, se gastassem um milhão de reais por dia, juntos, levariam 36 anos para esgotar o equivalente ao seu patrimônio. Estima-se por baixo que 23 mil crianças vivam nas ruas das principais cidades brasileiras. Mais de 7 milhões de pessoas passam fome no Brasil.

Se os dados são tão óbvios, e explicitam a demagogia de quinta categoria do Globo sobre o balanço da URSS, Cuba e a pretensa incompatibilidade entre “igualdade” e “liberdade”, a serviço de que estaria esse editorial?

Em primeiro lugar de defender nas entrelinhas que seria o “Estado excessivo” o grande vilão do crescimento econômico. Desculpem, mas dentre os elementos que fazem a economia decair residem os entre 15 e 22 bilhões foram gastos por Temer em emendas. Ou porque as empresas continuam tendo isenções fiscais milionárias. Ou ainda porque as riquezas do país são entregues cada vez mais abertamente aos monopólios internacionais, e a dívida pública que transfere trilhões a banqueiros continua sendo paga.

Todo esse malabarismo do Globo além de tratar de forma simplória o que efetivamente foi a Revolução Russa, com suas conquistas e contradições, na verdade busca dar um verniz novo para o já gasto argumento que o Brasil seria um “Estado hipertrofiado”. Nada de novo front. A já gasta defesa dos ataques como a reforma trabalhista e da previdência.

Cabe lembrar que tudo isso se dá na mesma semana em que “coincidentemente” uns gatos pingados barulhentos da ultra direita invadiram a UERJ para hostilizar docentes e alunos que debatiam a Revolução Russa. Frente a tanta distorção, ignorância, e mais importante, às imensas tarefas colocadas para fazer com que os capitalistas paguem pela crise que criaram – nada mais justo, não? – é que retomar e atualizar as lições da Revolução Russa é uma grande tarefa.

 
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