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ECA
O ato em defesa do ECA fortalece a luta contra a redução da maioridade penal?
Isabel Inês
São Paulo

Nessa segunda feira, dia 13 de julho, se realizou em São Paulo um dia com atividades em comemoração aos 25 anos do ECA – Estatuto da criança e do adolescente – terminando com um ato na Praça da Sé.

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O ato foi chamado pela Frente Nacional Contra a Redução da Maioridade Penal, frente composta por diversas organizações e partidos como PT e PSDB, contando com falas de representantes do PT, como Eduardo Suplicy.

O debate sobre a redução da maioridade penal tem pautado o cenário nacional, principalmente após a manobra de Eduardo Cunha para votar na Câmara a PEC 171, um dia depois de ter sido rejeitada pela mesma. Não tão falado têm sido as propostas de mudanças no ECA para estender o tempo de prisão dos jovens de 3 a até 10 anos. Essa proposta foi elaborado pelo José Serra (PSDB) e hoje está sendo levada pelo PT e setores governistas.

O ECA, que completou nessa segunda seus 25 anos, é um conjunto de leis que devem proteger as crianças e adolescentes, assegurando o direito à saúde, educação, ao desenvolvimento social do jovem e sua dignidade. Contudo na realidade o estatuto é usado primordialmente para punir, e o projeto do PT visa aprofundar seu caráter punitivo, na prática pretende reduzir ainda mais a maioridade penal, já que qualquer jovem poderia ficar até 10 anos na cadeia.

O PT ao defender o ECA contra a redução da maioridade, não se apóia nos pontos positivos do estatuto, pelo contrário, visa aprofundar a punição ao jovem. Essa política levada também pelas correntes governistas no movimento estudantil, como o Levante Popular da Juventude e as entidade como UNE e UEE, quer tentar desviar o desgaste da juventude com o PT ao levantarem uma política contra a redução, enquanto apoiam as mudanças no ECA.

O ato realizado nessa segunda é parte dessa política e, apoiado até pela prefeitura de São Paulo, tinha como objetivo claro fortalecer o governo e disputar a opinião publica com o debate de “ameaça da direita” e do golpe do Cunha para garantir as mudanças no ECA. Com Dilma com apenas 9% de popularidade, uma situação econômica de crise e inflação, cortes em direitos sociais, principalmente educação e aumento de desemprego, essa mudança é fundamental para o governo do PT como uma resposta a Junho e preparar a punição para novos levantes de juventude que podem se gestar frente à situação mais precária.

A demagogia no debate do ECA

A distância entre a vida de centenas de milhares de jovens que sofrem com as filas nos hospitais, com trabalho infantil, com assassinatos pela policia, falta de acesso à educação, entre outros exemplos, com o que supostamente a lei deveria assegurar é de quilômetros. Os dados mostram como, apesar de na lei prometer defender as crianças e adolescentes, o ECA é usado pelo Estado como regimento punitivo e principalmente para punir a juventude negra e das periferias.

O artigo 7 prevê o direito à saúde, que permitam o nascimento e desenvolvimento sadio, contudo só em São Paulo a estimativa é que faltam mais de 300 pediatras na rede pública. A educação é um direito universal e garantido pelo ECA, mas 3,8 milhões de brasileiros de 4 a 17 anos estão fora da escola, e quando se analisam os dados do acesso à cultura e o esporte a situação é ainda pior. Em um dos países que menos se lê no mundo, apenas 45% das escolas da rede pública de nível fundamental têm biblioteca e só 33% têm quadras de esporte.

O trabalho infantil, que deveria ser ilegal, contrasta com a realidade de 3,1 milhões de crianças de 5 a 17 anos trabalhando e na grande maioria com condições péssimas de trabalho e salários miseráveis, sem contar os jovens que vivem nas ruas pedindo esmolas. Por fim, a saída defendida pelo PT de aumentar as penas, mas também por todos os partidos da ordem, PSDB, PMDB e outros, é que ao em vez de dar acesso à cultura, lazer e educação, é necessário punir e prender em um sistema carcerário já super lotado, assim como nos centros de internação de menores. No país, para 18.072 vagas há 21.823 internos, ou seja, existe mais de 20% de internos do que capacidade de vagas.

O que comemorar?

Na realidade dos jovens no Brasil hoje há pouco o que se comemorar, em uma realidade onde a polícia assassina diariamente a juventude negra, os anseios de se ter um futuro melhor que das gerações anteriores começam a entrar em choque com o desemprego, a crise econômica, a precariedade dos serviços sociais, escancaram ainda mais as contradições sociais que fizeram Junho explodir. Nesse caráter próprio da juventude de para defender seu futuro, se rebelar, é onde está a “comemoração”.
Para barrar a redução da maioridade penal e o aumento das penas no ECA é preciso se apoiar nesse sentimento da juventude. As entidades estudantis precisam levantar essa demanda ligada a defesa das pautas sociais como educação e lazer, disputar assim a política nacional com os governos que querem colocar os jovens atrás das grades, principalmente os negros. Nessa lógica, a maior unidade para barrar a redução e o aumento das penas não deve ser sem uma delimitação e denúncia clara do governo.

No ato dessa segunda, de comemoração do ECA, tanto a ANEL, o PSTU e as correntes do PSOL, Juntos! e RUA, participaram do ato, com faixas contra a redução, mas sem nenhuma denúncia e delimitação com o governo. Sem denunciar o aumento das penas, proposto pelo PT, a esquerda acaba participando de atos como este que tinha o objetivo claro de defender as mudanças no ECA, e se dilui acabando fortalecendo um ato que, mesmo apoiado pela prefeitura e com figuras do PT, não conseguiu mobilizar ao menos mil pessoas.

A luta contra a redução só vai se fortalecer se as entidades estudantis anti governistas e correntes de esquerda colocarem todas suas forças para transformar em uma grande luta nas ruas, desmascarando as manobras do governo do PT e das direções governistas como a UNE.

 
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