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100 ANOS DA REVOLUÇÃO RUSSA
John Reed, o jornalista excepcional da Revolução Russa
Josefina L. Martínez
Madrid | @josefinamar14

No centenário da Revolução Russa, um convite a adentrar a obra do jornalista norte-americano, o cronista da revolução que comoveu o mundo.

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Ilustrações: Fernando Vicente

A Revolução russa de 1917 ganha vida no relato de John Reed, Dez dias que abalaram o mundo. As personagens se inflamam, sofrem e combatem na Revolução que mudou a história do século. O “melhor jornalista” para essa revolução, como apontou Vásquez Montalbán. A mais incrível experiência que teve oportunidade de viver um escritor militante comprometido com seu tempo. Suas palavras recriam as noites geladas em Petrogrado, os corpos quentes que se apertavam nas assembleias dos soviets, a ebulição de desejos que se transformam em uma firme vontade. “A exposição mais veraz e vívida da Revolução”, disse Lenin sobre esse livro, publicado pela primeira vez em 1919.

John Reed, o jornalista norte-americano que cavalgou com Pancho Villa, na Revolução mexicana, e entrevistou Leon Trotsky durante a insurreição de outubro.
O repórter e militante socialista que se uniu a piquetes de greve nos Estados Unidos e foi preso nesse país por falar contra a guerra. Uma personagem apaixonante, uma vida cheia de aventuras revolucionárias até sua morte aos 33 anos em 1920. Como escreveu em 1981 Howard Zinn, o establishment nunca o perdoou: “Nunca perdoou que eles e seus extraordinários amigos defenderam a liberdade sexual em um país dominado pela retidão cristã, que se opuseram à militarização em uma época de patriotismo militarista, que defenderam o socialismo quando o mundo dos negócios e do governo se dedicavam a espancar e assassinar grevistas ou que aplaudiram aquela que para eles era a primeira revolução proletária da história”.

Pelo centenário da revolução de 1917, a editora Capitán Swing publica Dez dias que abalaram o mundo. Mas isso não é tudo. À vibrante prosa de John Reed acompanham os intensos desenhos de Fernando Vicente. Uma edição ilustrada impactante que convida a submergir na obra – aos que já a haviam desfrutado –, essa crônica já clássica da revolução de outubro e se deixar comover pelos desenhos de Fernando Vicente.

Quando em 1917 chegaram a Nova York as notícias da Revolução russa, John Reed e sua companheira Louise Bryant embarcaram rumo a Petrogrado. Ao chegar, recorreram assembleias e manifestações, visitaram as trincheiras e entrevistaram os protagonistas. Naqueles agitados dias, Reed tomou notas, conversou com soldados impacientes e com operários, entrevistou políticos inimigos dos bolcheviques e compartilhou noites nas armas com os guardas vermelhos. Em 1918 regressou aos Estados Unidos, enfrentou um julgamento por sua militância contra a guerra e deu forma a seu penetrante relato sobre a revolução.

A crônica é vertiginosa, um relato em primeira pessoa que mostra um narrador viajando em um caminhão cheio de bombas com soldados que partem em direção ao front ou compartilhando rações com os delegados do soviet. Em uma dessas incursões, o jornalista está a ponto de ser fuzilado por equívoco, salvo a tempo por um destacamento amigo. Baseando-se em testemunhos diretos, documentos oficiais, recortes de diários e em suas próprias casas, reconstrói o clima de efervescência e as esperanças de milhões de operários, soldados e campesinos.

No coração dessa vasta geografia revolucionária se encontra o edifício Smolny, antigo Instituto de senhoritas que se transformou em comando revolucionário dos bolcheviques, uma “colmeia gigante” em constante atividade. “As janelas do Smolny seguiam resplandecendo, os automóveis iam e vinham, os soldados se juntavam ao redor das fogueiras que ainda estavam acesas, perguntando ansiosamente a todo mundo pelas últimas notícias. Os corredores estavam cheios de homens apressados, abatidos e sujos. Em algumas salas de reunião, os homens dormiam no chão, com os rifles ao lado. Apesar da marcha de alguns delegados, a sala de reuniões estava abarrotada e estrondosa como o mar”.

Entre multidões, marés humanas e turbilhões de atividade revolucionária, destacam-se os dirigentes bolcheviques, Lenin e Trotsky. Eles enfrentam o ódio de seus inimigos e as vacilações dentro de seu próprio partido. O papel de Trotsky à cabeça do Comitê Militar Revolucionário que planifica a insurreição é agudamente refletido por Reed, voltando sobre sua figura uma e outra vez ao largo daqueles dias decisivos. Quando o jornalista escreveu sua crônica faltavam ainda vários anos para que se impusesse a burocracia stalinista e sua falsificação da história que tentou “apagar” literalmente a Trotsky dos registros históricos.

Logo subiu à tribuna Trotsky, em nome dos bolcheviques, impulsionado por uma onda de aplausos entusiastas que foi crescendo até se converter em um clamor estrondoso. Seu rosto magro e afiado, com sua expressão de maliciosa ironia, era verdadeiramente mefistofélico. ‘Há duas alternativas; ou a revolução desencadeia um movimento revolucionário na Europa, ou as potências europeias destruirão a revolução russa’. Os assistentes o aclamaram com um imenso aplauso, decididos a se arriscar em defesa da humanidade. E a partir desse momento, houve em todos os atos das massas rebeldes algo consciente e resolvido que já nunca as abandonaria”.

O centro de gravidade da revolução é Lenin. Em um texto de Trotsky sobre a revolução espanhola, publicado postumamente, escreveu que sem Lenin não haveria revolução. No relato de Reed, o vemos agitando as grandes audiências operárias ou esperando, com um olhar penetrante, seu turno para falar. Lenin, diante do soviet, dá decreto para entregar toda a terra aos comitês campesinos e declarar controle operário da produção. No dia seguinte da tomada do poder, o soviet aprova a “Declaração aos governos e aos povos do mundo”, chamando a uma paz imediata e sem condições, rechaçando todas as anexações forçosas e proclamando a livre autodeterminação dos povos.

O livro de John Reed, junto com a História da Revolução Russa de Leon Trotsky (uma obra escrita e publicada entre 1931 e 1932), constituem dois trabalhos imprescindíveis para reconstruir a história da maior revolução que o mundo já viu.

Dez dias que abalaram o mundo, John Reed
Ilustrações de Fernando Vicente
Tradução de Íñigo Jáuregui
Capitão Swing, 2017

 
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