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UNILEVER RACISTA
Unilever: racismo do chão da fábrica à propaganda
Flávia Telles
Grazieli Rodrigues
Professora da rede municipal de São Paulo

“Unilever atende a necessidade diária das pessoas enquanto cria um futuro melhor”, essa é a primeira frase que encontramos ao acessar o site brasileiro da multinacional Unilever. Mas o racismo escancarado na propaganda da sua marca Dove, as demissões e plano de terceirização em Vinhedo mostram qual é o presente e o futuro que a Unilever planeja para os trabalhadores, maioria negros, no Brasil.

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Recentemente a marca Dove, uma das maiores do mundo, que produz no Brasil desde 2002, lançou uma propaganda profundamente racista, repetindo o mesmo absurdo que já havia cometido em uma propaganda em 2011, que coloca mulheres negras como “sujas” em contraposição ao padrão de beleza e higiene branco, ou seja, um padrão que não reflete a realidade da maioria das mulheres no Brasil, que são negras, mas reflete o que significa o racismo, o mito da democracia racial e a ideia de que por ser negra nós mulheres somos inferiores às mulheres brancas, e com o uso dos seus produtos iríamos ficar “limpas e bonitas”, reafirmando a divisão entre mulheres negras e brancas.

É na região de Campinas, na cidade de Valinhos e Vinhedo que se produz a marca Dove no Brasil, um das poucas fábricas do produto no mundo, se transformando num centro exportador de Dove para toda a América Latina, uma oportunidade para a Unilever, a dona da marca, produzir mais explorando a mão-de-obra brasileira, umas das mais baratas na divisão internacional do trabalho, marcada pelo racismo e o machismo nos postos de trabalho. Segundo Diana Assunção em seu artigo “A classe operária feminina no Brasil hoje” da segunda edição da revista Ideias de Esquerda: “em 2015 as trabalhadoras brasileiras ganhavam 23,5% a menos que os trabalhadores homens… as mulheres negras brasileiras ainda não conseguiram alcançar nem 40% do rendimento total dos homens brancos, segundo o IPEA.”

É exatamente em Vinhedo, uma das produtoras da marca, que hoje a Unilever está demitindo cerca de 130 funcionários, e quer terceirizar os trabalhadores utilizando o argumento de que quer "manter a fábrica de Vinhedo competitiva por meio de ganho de eficiência no processo produtivo e da especialização da área de logística", com isso pretende deixar famílias sem a possibilidade de se sustentar, se juntando aos índices de desemprego atual que já bate os mais de 14 milhões de brasileiros, enquanto seu faturamento em um só ano chega a R$ 2,017 trilhões. Além disso se utilizou da polícia racista para reprimir os trabalhadores que entraram em greve. O racismo na sua propaganda é uma expressão do racismo que ocorre em toda sua linha de produção e circulação, e pretende se aprofundar ainda mais pela via da terceirização.

Tomando os rumos das reformas e ataques impostos por Temer a partir do golpe institucional, como a ampliação da terceirização com a PL4302/1998 e a reforma trabalhista, a Unilever pretende impor uma divisão ainda maior entre classe operária dentro das suas fábricas com a terceirização, para assim ampliar seus níveis de exploração de mais-valia. O professor de sociologia da Unicamp Ricardo Antunes disse em entrevista à Revista Ideias de Esquerda:

“A principal consequência da terceirização, no que diz respeito ao aumento do nível de exploração do trabalho, é a maior divisão que a terceirização traz dentro do movimento sindical e operário, na medida em que ela cria fraturas muito grandes entre terceirizados e terceirizadas com não-terceirizados e não-terceirizadas, dificultando, ainda que não impedindo, ainda mais os laços de coesão e solidariedade da classe operária.”

Essa divisão se utiliza da desigualdade de gênero e raça, entre homens e mulheres, negros e brancos, para melhor explorar, coloca mulheres negras nos piores postos de trabalho, com baixos salários, poucos direitos e muita rotatividade, conseguindo assim ampliar ainda mais a exploração da mais-valia e rebaixando os salários do conjunto da classe trabalhadora. Essa já era a marca do trabalho no Brasil antes do golpe. Se nos anos de governo do PT se aumentou o trabalho formal em 45% de 2000 a 2015, segundo a metroviária e economista Daphnae Helena, é também nesses governos que se amplia o aumento da precarização do trabalho, saltando de 4 para mais de 12 milhões o número de terceirizados no país. Temer hoje, num momento de crise capitalista aguda, quer aprofundar ainda mais essa exploração e divisão do trabalho, é esse o sentido de todas suas reformas.

Assim, a terceirização ao se utilizar da opressão que já existe dentro e fora das fábricas para melhor explorar, também reafirma e aprofunda a opressão às mulheres, negros, lgbts e migrantes. Essa é a verdadeira cara da Unilever não só no Brasil, mas em todos os países que produz, uma multinacional que demitiu mais de 20 mil trabalhadores nos últimos anos e que segue seus planos de demissão e precarização das condições de trabalho, com o único objetivo de manter e aumentar seus ritmos de lucratividade. A propaganda absurda da Dove é uma expressão do racismo e da opressão do capitalismo às mulheres negras, quer nos fazer comprar seus produtos esmagando nossa auto-estima, nossa subjetividade, dizendo que somos “sujas”, para assim também nos esmagar dia-a-dia no trabalho precário da terceirização, que nos humilha, divide e escraviza.

Não podemos permitir essa divisão imposta pela burguesia, é mais que urgente que a pauta pela equiparação salarial e de condições de trabalho entre homens e mulheres, negros e brancos, seja parte da reivindicação de toda a classe operária, assim como a luta contra as demissões, por melhores condições de trabalho e contra a exploração capitalista seja parte da luta dos negros e negras no Brasil e em todo o mundo. Só assim, com essa profunda aliança que podemos dar o verdadeiro combate ao racismo. Por isso, dizemos com muita força e certeza: TODO APOIO À LUTA DOS TRABALHADORES DA UNILEVER! ESSA LUTA É NOSSA LUTA!

 
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