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RODOVIÁRIOS PORTO ALEGRE
Em defesa da Carris 100% pública, com administração de trabalhadores e usuários
Adaílson Rodrigues

Não é de hoje que, contra o prejuízo alegado por Marchezan como justificativa de vender a Carris, muitos trabalhadores respondem à prefeitura que coloque a administração da empresa na mão dos rodoviários e usuários. A declaração do prefeito dizendo que faria isso "amanhã" traz esse debate com força na categoria e na cidade.

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É necessário partir, primeiramente, do fato de que ninguém entende mais de transporte do que os rodoviários e os usuários. O prefeito, seus CCs e os patrões não andam de ônibus. Não dependem disso pra se locomover e para ganhar seu salário no final do mês.

Nas empresas privadas é histórica a choradeira dos patrões, alegando prejuízos. Na Carris a prefeitura que faz campanha para vender a Companhia, ao mesmo tempo em que passa linhas lucrativas para as empresas privadas e deixa frotas paradas por falta de manutenção, tudo para cavar prejuízo e usar isso como argumento para a privatização.

Contra isso, já dissemos: se está ruim para os patrões e a prefeitura, então que abandonem. Que deixem o sistema para ser controlado e administrado por trabalhadores e usuários. Alguns colegas ainda ficam inseguros sobre isso e é preciso dialogar com as diversas posições.

Cooperativa? Uma forma talvez até pior de privatização

É bom que fique claro que trabalhador nenhum tem interesse em transformar a Carris em cooperativa. A Carris deve continuar sendo pública, totalmente pública, inclusive com suas poucas ações privadas sendo estatizadas. Com a Carris se mantendo pública, a prefeitura ainda é responsável por garantir investimentos, o que não acontece no caso dela virar cooperativa.

Um exemplo de cooperativa que deve inspirar Marchezan a propor esse tipo de gestão na Carris é a Cootravipa, que faz a coleta de lixo e limpeza urbana na cidade. Com relações de trabalho extremamente precárias, a Cootravipa é controlada por empresários também. Inclusive na última semana os trabalhadores fizeram um grande ato na frente da prefeitura e nesse momento estão paralisados por falta de pagamento! A Cootravipa só é exemplo de superexploração e precarização do trabalho, e por isso é tão justa a luta dos trabalhadores.

Na Carris também seria muito rápido para que os empresários se "cooperativassem" e passassem a controlar, impondo redução de salários e ainda mais exploração. A cooperativa ainda permite um regime de trabalho parecido com o que querem impor à toda a classe trabalhadora com a reforma trabalhista. Os contratos individuais de trabalho, ou mesmo o registro dos trabalhadores como "prestadores de serviços", inclusive obrigando-os a ter CNPJ para serem contratados como empresas, é tudo que a máfia dos transportes queria para a Carris. Transformar a Carris em cooperativa seria, na prática, uma forma talvez ainda pior de privatizar.

Administração democrática de trabalhadores e usuários, livre da sede de lucro dos empresários

Alguns colegas temem que as diferentes posições políticas existentes na categoria poderiam inviabilizar a administração dos trabalhadores. Mas isso não é verdade. Com conselhos de trabalhadores eleitos, com mandatos revogáveis a qualquer momento, as diferentes posições serão debatidas e votadas democraticamente, prevalecendo as que tiverem maioria.

Com apoio dos usuários podemos ainda formar equipes com estudantes e outros profissionais, como economistas e administradores, cujo conhecimento possa ajudar na gestão pública e transparente da Carris. Inclusive dentro da própria categoria temos colegas que estudam administração e outras áreas, o que não é valorizado pela atual gestão, mas que certamente poderá contribuir muito. Todo esse conhecimento pode ser aplicado livremente, sem a pressão de um patrão que quer lucrar a qualquer custo, somente com o objetivo de melhorar a qualidade do transporte público.

Sem a pressão do lucro e sem precisar sustentar os privilégios dos CCs do Marchezan e de toda a chefia, com as contas abertas e de acesso público a qualquer trabalhador e qualquer cidadão, seria possível saber qual é a real situação da Companhia e o que deve ser mudado, o que deve ser feito. Tudo isso pelas mãos dos que mais têm interesse em um sistema que funcione: quem trabalha nele e quem o utiliza diariamente.

A Carris pode ser um exemplo e uma ferramenta de luta pela estatização de todo o sistema de transporte

Os trabalhadores têm totais condições de administrar a Carris e todo o sistema de transporte sem patrões e sem os cargos políticos que a prefeitura coloca lá dentro para ajudar a destruir a Companhia. Para isso funcionar sem ficar sujeito a boicote dos empresários do sistema, seria fundamental que todo o caixa arrecadado na Carris ficasse na própria Carris, sem ser repassado nenhum centavo à ATP e aos empresários. Por outro lado, garantir as contas da Carris total e constantemente abertas, mostrando à população e aos demais trabalhadores exatamente quanto é gasto, quanto é utilizado em manutenção, pagamento dos salários, reparos, melhorias, etc. Isso também serviria para desmascarar os empresários sobre os custos e sobre os prejuízos que eles alegam.

É possível a Carris ser controlada totalmente pelos trabalhadores e usuários. É preciso lutar por isso, para tirar ela das mãos dos políticos e colocar ela nas mãos da categoria e de quem a utiliza, com a transparência, a democracia e o profissionalismo necessário para ser exemplo à cidade e ao país.

Nas empresas privadas, tomar essa luta como parte da batalha para a estatização de todo o sistema, com o mesmo tipo de administração. A própria Carris gerida pelos trabalhadores seria um exemplo, um ponto de apoio, uma ferramenta de luta para isso. A partir do exemplo da Carris teríamos muito mais força para que os trabalhadores e a população deixem de ser reféns dessa máfia dos transportes, que persegue os trabalhadores, demite sem dó, sucateia, aumenta a passagem quando quer, tudo para manter seus lucros. A recuperação da Carris pelas mãos trabalhadores seria parte fundamental da luta para nos livrar de vez dessa patronal mafiosa que controla o sistema, e para que possamos garantir um transporte público de qualidade para a população e condições de trabalho dignas para a categoria.

 
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