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COMBATE AO RACISMO E AO CAPITALISMO
MRT realiza curso de formação sobre a questão negra no Rio de Janeiro
Redação

O Movimento Revolucionário de Trabalhadores (MRT) realizou seu curso de formação sobre a questão negra no Espaço Plínio. Foram debatidas questões como o racismo e sua relação com o capitalismo, a luta do povo negro e seu caráter revolucionário, a revolução haitiana, entre outros.

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Conduzido por Pablito Santos, diretor da Secretaria de Negras e Negros do Sintusp (Sindicato dos Trabalhadores da USP) e Daniel Alfonso, um dos responsáveis pela edição das duas principais elaborações teóricas do MRT que tratam do tema, o curso reuniu dezenas de pessoas para aprofundar um debate crucial para todos os que se propõem a lutar contra a exploração e a opressão, e particularmente num país como o Brasil e uma cidade como o Rio, em que a violência contra o povo negro está presente em inúmeros aspectos da vida e na brutal violência do Estado com sua polícia e exército nos morros e favelas.

Foi debatido, resgatando elaborações do trotskismo, como o racismo surge a partir do capitalismo e como forma de dar sustentação ideológica para a escravidão dos negros africanos, cujo trabalho forçado nas colônias foi base fundamental para a acumulação primitiva capitalistas, sendo um motor para o desenvolvimento industrial europeu.

A partir disso, o racismo ganha um fôlego renovado com o processo da abolição, pois com a liberdade dos negros era necessário para os capitalistas aprofundar os mecanismos de diferenciação. Isso porque a diferença jurídica intransponível da escravidão possibilitava que houvesse uma “aparência” de igualdade já que a exploração era garantida pela própria relação de mercadoria que existia entre os senhores de escravo e os negros. Já no período pós-abolição, era necessário reforçar os mecanismos ideológicos de tentar apresentar o povo negro como inferior, para que assim se mantivesse assegurada a relação de exploração.

Outro tema de grande importância abordado no curso foi o processo da revolução e independência do Haiti, em que os negros escravizados foram protagonistas de uma revolução sem precedentes, que aboliu a escravidão e derrotou até mesmo as temidas tropas de Napoleão Bonaparte.

Voltando ao Brasil, o curso explorou o tema da inconfidência mineira para tratar das contradições e limites do processo de formação da burguesia nacional, mostrando seu caráter reacionário desde o princípio, em que a luta contra a metrópole esbarrava nos próprios limites da elite colonial brasileira, que não poderia recorrer ao único recurso capaz de fazer frente ao poder militar português: o armamento dos negros. O medo – bastante fundado – de que os negros, uma vez armados, não se deteriam no enfrentamento à metrópole portuguesa, mas se colocariam contra o regime escravocrata, foi maior do que a vontade de combater o colonialismo e os abusos da metrópole.

Também se debateu como o processo de formação da classe trabalhadora brasileira está profundamente relacionado ao povo negro, e que entender essa relação da identidade negra dos trabalhadores no Brasil é fundamental para compreender com profundidade o entrecruzamento entre a luta contra o racismo e a luta revolucionária contra o capitalismo no Brasil. Desde os tempos da escravidão, exemplos de organizações operárias que colocaram em seu programa e sua prática política a luta pela emancipação negra existem, como o sindicato dos padeiros que organizava fugas de escravos e comprava alforrias, e o sindicato dos gráficos, que decidiu que os trabalhadores não deveriam imprimir nenhum material que defendesse a escravidão.

Por outro lado, a formação da polícia está vinculada desde o começo ao combate à resistência dos negros, à perseguição de escravos foragidos, à garantia de uma força armada capaz de assegurar o direito da elite à explorar e manter os negros como mercadoria e propriedade. São os descendentes dessa força armada à serviço da escravidão os que hoje matam a juventude negra nos morros.

As rebeliões de negros, a formação dos quilombos, os processos de luta e resistência no Brasil fazem parte da história da luta de classes no Brasil, e são um testemunho de que, como se diz em um dos livros utilizados no curso “a luta negra era revolucionária antes mesmo de que pudesse ser anticapitalista”.

Portanto, cada processo agudo da luta de classes no país está profundamente ligado à questão da luta negra e da luta contra o racismo. Se, por um lado, entender como o racismo está na base do capitalismo permite compreender que é impossível acabar com essa forma de discriminação sem abolir o sistema econômico que a sustenta e que dela se enriquece, por outro lado nos mostra que a luta pela revolução socialista tem como componente central o combate sem tréguas contra o racismo. Nesse sentido, debatemos não apenas a centralidade da luta contra o racismo para a revolução, mas também formas ideológicas específicas que a ideologia racista adquiriu em nosso país, como a democracia racial, e como infelizmente grande parte da esquerda – como foi o caso do PCB por muitas décadas – se adaptou a esse tipo de ideologia racista nacional.

Com essa iniciativa, o MRT pretende seguir armando teórica e estrategicamente os revolucionários para podermos continuar atuando decididamente na luta de classes e na luta antirracista com uma perspectiva revolucionária e anticapitalista, que seja capaz de articular profundamente esses aspectos de nosso combate para emancipar o povo negro em aliança com os trabalhadores.

Agradecemos ao Renato Cinco e companheiros do mandato que gentilmente cederam o Espaço Plinio para a realização do curso.

 
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