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As causas profundas do ataque em Las Vegas
Diego Sacchi

O ataque mais mortífero nos EUA desde o atentado às Torres Gêmeas está separado do aumento do discurso racista e belicista que caracteriza a presidência de Trump?

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O ataque em Las Vegas durante um show, na noite deste domingo, deixou ao menos 59 mortos e 527 feridos e se transformou no mais mortífero em solo estadounidense desde o atentado às Torres Gêmeas em 2001.

As autoridades locais e nacionais descartaram que se trata de um atentado terrorista, frente à tentativa do Estado Islâmico de reivindicá-lo como seu, e confirmaram que o atacante foi uma só pessoa que atirou do 32º andar de um hotel. Stephen Paddock, um homem branco de 64 anos aposentado e sem antecedentes criminais, perpetrou o maior massacre realizado por um atirador solitário nos Estados Unidos.

Logo após o tiroteio massivo em Las Vegas, as ações dos gigantes da indústria de armas como Sturm Ruger ou American Outdoor Brands (antigo Smith & Wesson), subiram entre 4 e 5%, segundo informa a CNBC. O motivo, segundo alguns analistas de mercado, seria que se prevê um aumento na demanda de armas frente a um potencial endurecimento das regulações e que os compradores queiram aumentar seu “arsenal” pessoal para se defender de novos atentados.

Ainda que o presidente estadounidense, Donald Trump, tenha tentado condenar o feito reduzindo-o a “um ato de pura maldade”, o ataque colocou novamente em foco a questão do porte de armas em uma sociedade cruzada pela violência do Estado, o racismo e a desigualdade, exacerbados pelo belicismo e racismo do atual presidente.

Violência, belicismo e racismo nos tempos de Trump.

Trump buscou explicar o ataque em Las Vegas como um feito de “pura maldade”, reduzindo a questão ao estado mental do atacante. Assim o presidente estadounidense resolve o problema colocado quando o atacante é um homem branco mais velho e não responde a algum dos “grupos inimigos”, segundo ele, do estilo de vida estadounidense.

Para outros setores, incluindo reconhecidos líderes do Partido Democrata, a questão se reduz ao debate sobre o controle do direito individual de portar armas e aumentar as restrições para a compra das mesmas.

Ao se reduzir esta questão a esta dicotomia, a favor ou contra de um maior controle de armas, se deixam de lado as raízes da violência em um país cujo Estado se fundou no racismo e na guerra imperialista. Estados Unidos é uma sociedade profundamente polarizada onde uma minoria detém o poder econômico e político, concentrado em um punhado de empresas e grandes bancos, e a polarização social e política somente se aprofundou com a recessão econômica iniciada em 2008. O novo governo só contribuiu em aumentar esta polarização.

Trump dirigiu seus ataques racistas contra as comunidades latinas e muçulmanas, catalogando alguns dos responsáveis pela falta de trabalho para os operários estadounidenses e outros possíveis “terroristas” a ponto de atacar o país.

Na última semana do mês passado, o governo deportou 498 imigrantes em uma ofensiva da ICE contra as Cidades Santuário, enquanto continua a ameaça da construção de um muro na fronteira com o México. A isso se soma que Trump vetou a entrada de refugiados e impede a concessão de vistos para entrar nos Estados Unidos para países de origem muçulmana.

Ao mesmo tempo, Trump tem exacerbado o discurso de supremacista branco, favorecendo a ação de grupos como a Ku Kluz Klan e Oath Keepers, também de grupos antimuçulmanos e de intermináveis organizações da direita religiosa que impulsiona medidas regressivas contra os direitos das mulheres (especialmente o direito ao aborto) e a comunidade LGBT em todo o país. A resposta do presidente à ação destes grupos em Charlottesville é um exemplo.

Isso também tem aumentado o racismo institucional e a impunidade policial, se reproduzem os preconceitos contra islâmicos e antiimigrantes por meio de detenções, perseguição e deportações que recaem contra a comunidade latina e muçulmana. Somado a que os Estados Unidos contam com um sistema de vigilância monstruoso de sua própria população, amparado na suposição de uma ameaça à segurança nacional, herdade da longa “guerra contra o terrorismo” iniciada por George W. Bush e continuada por Barack Obama.

O racismo, a brutalidade polícia, a homofobia e os crimes de ódio, sustentam uma profunda relação com a violência armada. A chegada de Trump à presidência, com seu discurso racista e belicista só colocou mais combustível ao fogo. Ou por acaso seu discurto antiimigrandes, sua retórica belicista ameaçando “destruir” a Coreia do Norte e seu racismo não exacerbam a violência social, alimentada pela forma com a qual os Estados Unidos impõe sua vontade com guerras e invasões?

Mais controle das armas é a solução?

Como resposta ao ataque em Las Vegas, setores do progressismo e o Partido Democrata colocaram novamente em primeiro plano o debate sobre o controle de armas. A ex candidata à presidência, Hillary Clinton, atacou diretamente a direitosa Associação Nacional do Rifle. “Nossa dor não é suficiente. Podemos e devemos colocar a política de um lado, fazer frente à NRA e trabalhar juntos para conseguir impedir com que isso ocorra de novo”, escreveu na sua conta no Twitter.

Diferentemente do que coloca o discurso democrata, nos Estados Unidos não existe um problema de armas em geral, existe um problema com aqueles que possuem as armas e quem atacam: se trata principalmente se homens brancos que atacam contra grupos oprimidos, na sua maioria mulheres, negros, latinos e pessoas da comunidade LGBT. Os ataques indiscriminados, como em Las vegas, são casos excepcionais.

Assim, enquanto a resposta democrata volta a insistir sobre um pedido recorrente na administração de Obama, o de maior controle para o porte de armas, continua sem questionar os fatores que alimentam o círculo da violência estatal, racismo, militarização e mais violência.

A ausência deste questionamento acaba deixando livre o atual discurso de Trump e sua cruzada em defesa dos “valores americanos”, que fortalece os setores reacionários e a direita conservadora (incluindo setores de elite como os que financial a Associação Nacional do Rifle mas também setores médios e baixos sem perspectivas). E na contramão do relato de Trump, o inimigo não chega de terras distantes ou influenciado por alguma crença exterma, mas há tempos está em casa e está armado até os dentes.

Tradução: Marie Castañeda

 
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