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RACISMO
Aluno da UFSC sofre racismo de professora e colegas em aula
Lourival Aguiar Mahin
São Paulo

Professora e alunos destilaram comentários racistas durante aula de metáforas em curso de design.

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O Estudante do curso de design da Universidade Federal de Santa Catarina, João Francisco Araújo, foi vítima de racismo durante uma aula na manhã da última quinta-feira (28), em que o tema era criar metáforas sobre o cabelo “black power” do aluno, na qual a professora diz que, quando pensamos no cabelo afro, identificamos elementos do que é ruim, feio e diz que o aluno não vai se opor pois “é uma criatura que a adora” e que “não estaria cometendo bullying”.

João chegou a procurar uma delegacia acompanhado de um colega e tentar registrar queixa, mas foi aconselhado pelo escrivão a não fazê-lo, dizendo que “isso seria perigoso e que poderia se voltar contra eles mesmos". O jovem foi ao distrito policial acompanhado de uma colega. Em seguida, segundo primo do aluno, a professora compareceu à polícia — também para registrar queixa. A professora não teve o nome revelado. João Francisco é negro e filho de professores da Universidade Federal do Pará. A professora é branca.

Parentes do estudante João Francisco concordaram com sua identificação e um deles definiu o episódio como “um terrível ato de racismo dentro de sala de aula”.

O caso ocorreu durante uma aula em que a professora pede para os alunos pensarem metáforas para o cabelo “black power”, achando que seria uma experiência positiva e livre de incômodo ao aluno. Ao se isentar de questionar as ideias racistas e negativas contidas nas “metáforas” escolhidas pelos alunos, a professora apenas reforçou esses estereótipos, que categorizam o cabelo negro como ruim, duro, feio, sujo e desprezível. A professora, através do encorajamento dos demais alunos a buscar definições do cabelo que João usa, encontra definições como: algodão, arbusto, juba de um leão, mola e caracol, entre outros. A professora tinha como objetivo chegar à definição de “ninho”.
“O cabelo black power é ninho e que nesse ninho, além de proteger, esconde muita coisa”, afirma.

A família de João Francisco vai denunciar a professora e pedir esclarecimentos à instituição sobre o ocorrido. "Irei amanhã para Florianópolis. Vamos prestar queixa na Polícia e procuraremos os dirigentes da Universidade para cobrar as ações de investigação e, se for o caso de comprovação de racismo, pedir a punição devida", informou Ronaldo Araújo, pai do rapaz. Um áudio gravado por um estudante registrou o fato e o comportamento da professora.

Além de ignorar completamente o significado político da existência do penteado BlaCk Power, que remete a luta pelos direitos civis nos EUA e de movimentos pelo fortalecimento da auto-estima dos negros no mundo, representa um resgate das matrizes de identificação com o continente africano, mas que acima de tudo é um dos principais símbolos de resistência da luta dos negros contra o sistema que o oprime.

Além disso, podemos entender este caso como parte do racismo estrutural presente na sociedade capitalista, que se utiliza disso para manter negra e negros submissos a vontade das elites brancas que são detentoras dos locais de poder, e que visa punir todos os negros que se coloquem contra isso.

Como exemplo podemos citar os medalhistas dos 200 metros Tommie Smith e John Carlos, que nas Olimpíadas de 1968 no México levantaram os punhos cerrados durante a execução do hino dos Estados Unidos em protesto contra as leis de segregação racial do país, e que após isso foram excluídos da seleção de atletismo e nunca mais disputaram uma Olimpíada.

Temos também o caso de Colin Kaepernick, ex-San Francisco 49ers, hoje sem equipe, que no ano passado começou a se ajoelhar durante as partidas da NFL (liga nacional de futebol americano dos Estados Unidos) contra a violência racial e agora contra o governo racista de Donald Trump.

Kaepernick foi demitido no começo desta temporada e mesmo sendo um atleta considerado de elite, segue sem clube (o jogador inclusive foi chamado de “filha da puta” pelo presidente Donald Trump na última semana).

No Brasil temos o caso do goleiro Aranha, que na época em que defendia o Santos foi chamado de "macaco" por uma torcedora do Grêmio em um caso que tomou proporções nacionais e internacionais. A torcedora foi absolvida e o jogador foi transferido para times menores e cada vez mais sem expressão.

Temos como exemplo também o recente caso da demissão de um funcionário do metrô de São Paulo, Valter Rocha, que foi vítima de injúria racial por um usuário e que foi demitido após uma suposta agressão ao mesmo. Vale ressaltar que o funcionário vinha sendo perseguido pelo metrô, que em algumas oportunidades, nos quase 15 anos do funcionário na empresa havia ameaçado de demissão por contra do mesmo utilizar cabelos dreads, mesmo não havendo nenhum instrumento normativo da empresa que o impedisse de utilizar este tipo de cabelo.

Estes casos apenas mostram o quanto ainda temos que avançar no debate sobre o racismo estrutural da nossa sociedade, que não é cometido apenas pelas pessoas, mas sim pelas instituições, sejam elas públicas ou privadas, contra os trabalhadores negros. Mesmo este racismo se manifestando inicialmente em pessoas civis, é o amparo que este tipo de comportamento encontra nas instituições que faz com que as manifestações racistas nunca parem, uma vez que não há punição para as pessoas e tão pouco para as instituições.

Devemos lutar contra o racismo na sociedade e pedir a imediata punição aos racistas, em especial as instituições que são cúmplices dessas manifestações cotidianas de racismo por parte de seus funcionários e inclusive contra os mesmos.

 
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