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PADRÃO DE BELEZA
“Nem todas as mulheres podem ser modelos”, diz estilista da alta costura
Patricia Galvão
Diretora do Sintusp e coordenadora da Secretaria de Mulheres. Pão e Rosas Brasil

Hoje a grife de luxo Dior apresentou sua coleção primavera/verão. A estilista da marca, Maria Grazia Chiuri em entrevista falou sobre feminismo e empoderamento. A frase do título denuncia, no entanto os limites desse empoderamento e feminismo neoliberais.

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A escolha do nome de Maria Grazia Chiuri como estilista da marca francesa de alta costura Dior foi celebrada no mundo da moda como a abertura para o feminismo num universo extremamente opressor às mulheres. Porém, como transparece na declaração da estilista dada hoje, após o desfile de sua coleção, esse feminismo neoliberal carrega diversas contradições e limites em relação a emancipação das mulheres.

Ao ser questionada sobre a atitude do grupo LVMH, detentor da marca Dior, de ter banido meninas com tamanho abaixo do 34 de suas marcas. "Eu acho que é uma boa ideia, pois sou uma mulher e tenho uma filha", disse ela. "Mas ao mesmo tempo, preciso explicar que nem todas podem ser modelos”, arrematou. Completou ainda "Não quero usar modelos anoréxicas, mas às vezes as pessoas esquecem que é um trabalho como qualquer outro. Existem características específicas que são necessárias. Precisamos de meninas que são talentosas e que nasceram com o tamanho ideal."

A frase é quase auto-explicativa, mas vale a pena deixar bastante claro os limites que carregam tal concepção de mundo quando o assunto é a emancipação das mulheres.

No ano passado, outra marca de luxo, a Calvin Klein havia anunciado como modelo da marca uma mulher “plus size”. A modelo em questão, Myla Dalbesio, usa manequim 40. A celebração da diversidade de corpos claramente mostra seus limites. Myla é belíssima. E magra! O que estava por traz da tentativa da Calvin Klein de nos convencer que Myla significava um novo marco na indústria da moda, mais “democrática”, mais “plus size” é a tentativa de nos tornar nichos de mercado sem, no entanto, destruir o padrão de beleza avassalador às mulheres. Maria Grazia Chiuri, nesse sentido, foi mais direta. Não é pra todo mundo esse padrão. E nem pode ser.

No início deste ano a polêmica “plus size” ficou com a Miss Canadá, que, embora não seja magra manequim 34, está longe de ser gorda. Ela usa manequim 40/42. Isso não impediu de receber diversas críticas, afinal era um concurso de “beleza”.

Maria Grazia Chiuri certamente acredita no empoderamento como ferramenta de luta para as mulheres, porém ao desassocia-lo de uma crítica mais profunda ao padrão de beleza e ao próprio sistema que impõe esse padrão para vender produtos, ela expressa os limites dessa estratégia para emancipação as mulheres. As mais empoderadas, seguindo o raciocínio de Chiuri ainda assim não podem ser o que quiserem, porque não nasceram com o “tamanho ideal.”

Por outro lado, não basta as mulheres simplesmente poderem ser modelos. Não lutamos para ser novos nichos de mercado nesse sistema capitalista. Porque a opressão às mulheres não é apenas através do padrão de beleza. Mas mesmo que o fosse, o padrão de beleza tal como ele é hoje, ou outro como já foi no passado, nunca vai deixar de existir. Sempre haverá um padrão de beleza, de feminilidade para dizer as mulheres que elas não podem ser o que quiserem, que elas não são boas o bastante. Porque isso é extremamente lucrativo no capitalismo. É extremamente lucrativo ter um exército de mulheres oprimidas pelo padrão de beleza, comprando milhares de produtos para parecerem modelos. É extremamente lucrativo usar o corpo das mulheres padrão para vender produtos, de cerveja à carros! É extremamente lucrativo a infelicidade das mulheres em relação a si mesmas pra indústria farmacêutica, de emagrecedores a antidepressivos. Porque ao acreditar que não é boa o bastante, essa mulher também acredita que que não serve para ser modelo, para ganhar o mesmo que um homem, para ter direitos nessa sociedade machista. É a ponta do iceberg da opressão às mulheres, mas é extremamente funcional à essa opressão.

Enquanto a grande mídia debatia sobre as curvas da miss Canadá, nas redes sociais viralizou uma carta de uma mulher que viu sua irmã morrer ao ser vítima desse padrão de beleza. Amanda Rodrigues jamais foi miss ou modelo. Sua irmã, Mayara Rodrigues, contou toda a tortura e tristeza que foi a vida de Amanda em busca desse padrão inalcançável de “beleza”. O relato enche os olhos de lágrimas e o coração de ódio.

É preciso destruir não apenas esse padrão de beleza, mas esse sistema que lucra com a vida das mulheres. Para que todas as mulheres sejam o que quiserem ser e sobretudo sejam livres!

 
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