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CAMPINA GRANDE (PB)
Minicurso sobre 100 anos da Revolução Russa: Contribuições do Esquerda Diário
Gonzalo Adrian Rojas
Shimenny Wanderley
Campina Grande

Na quarta-feira, 30 de agosto, no II Seminário Discente do Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal de Campina Grande apresentamos um Minicurso intitulado: “A revolução russa 100 anos depois: Perspectiva sociopolítica e debate de estratégias”. Tentamos articular o acúmulo acadêmico que temos sobre o tema com o político por fazer parte do staff de Esquerda Diário, impulsionado no Brasil pelo Movimento Revolucionário dos Trabalhadores (MRT).

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Estruturamos o minicurso da seguinte forma: uma introdução geral sobre o tema, tomando como ponto de partida as Teses de Abril de Vladimir Ilitch Lenin para depois ter dois momentos. No primeiro a preocupação de Shimenny Wanderley foi destacar as Lições de Outubro de León Trotsky no sentido de reforçar a importância política da estratégia bolchevique. No segundo momento Gonzalo A. Rojas focou na crítica as leituras burguesas da revolução russa, os lugares comuns na academia e na imprensa para depois abordar o debate de estratégias. Os dois fecharam com uma conclusão.

Com base nas Lições de Outubro foi explicada a perspectiva de León Trotsky enfatizando o por que a Revolução Russa deve ser estudada, em particular em termos organizativos e políticos, e neste sentido destacar como os cem anos da Revolução Russa é um momento chave para realizar um balanço político, um debate de estratégias. Para isso é preciso defender de forma ofensiva todas as lições e conclusões que a classe trabalhadora possa tirar da primeira ocasião em que chega a se apoderar do poder político no nível estatal nacional.

Nesta parte do minicurso foi crucial diferenciar tática e estratégia a partir do acúmulo dos debates sobre o tema na III Internacional e de Trotsky, mas também do marxista italiano Antônio Gramsci e de uma análise crítica do general prussiano Carl von Clausewitz, o principal teórico burguês da guerra. Na perspectiva bolchevique entendemos a tática como a arte de conduzir as operações isoladas, a direção dos combates parciais, e estratégia como a arte de vencer, ligar os resultados parciais ao objetivo da guerra, a conquista do poder político pelo proletariado e a instauração de um governo operário, compreendida como afirma Trotsky no Programa de Transição (1938), a forma popular da ditadura do proletariado.

Convertida em "conquista tática", a conquista do poder em um país deve servir como centro irradiador e alavanca da revolução mundial, uma concepção irrevogável do marxismo clássico, intrinsecamente ligado à Lênin e Trotsky, já que o futuro da revolução internacional subordina o destino da revolução em um determinado país. Essa estratégia marxista de opõe - e combateu através de Trotsky - pelo vértice a "teoria" do "socialismo num só país" de Stálin, chefe da burocratização grotesca da URSS a partir de 1924 e antítese contrarrevolucionária do bolchevismo.

Só conseguiremos este objetivo com independência teórica e política, subordinando a tática à estratégia e criticando a todas as frações da burguesia e seus ideólogos, os que, por diferentes meios, vão querer apagar as conclusões revolucionárias que podemos tirar de seu legado e apresentar a Revolução Russa como a criadora de todos os males da humanidade.

Trotsky em seu livro Lições de Outubro trata principalmente do período fevereiro a outubro de 1917, mostrando as divergências no interior do partido bolchevique no que diz respeito a estratégia, um tema estava na ordem do dia. Durante todo o transcurso da Revolução Russa, no Comitê Central do partido bolchevique havia uma ala a direita, que em todos os momentos mais cruciais da revolução esteve em desacordo com Lênin. Essa ala defendia uma estratégia de encaminhar a revolução para uma democracia burguesa e, inclusive, mesmo depois da tomada do poder pelos bolcheviques, queria devolver o poder à burguesia e o governo aos reformistas. Trotsky fala de acontecimentos centrais nesse período para entender essas divergências.

Trotsky e Lenin, defendem a ditadura do proletariado apoiado no campesinato, mas sob a hegemonia do proletariado, um elemento central no marxismo. As tarefas imediatas da revolução podem ser democráticas (democrático-estruturais, como a libertação da opressão imperialista e a revolução agrária), mas o caráter da revolução tem que ser socialista para cumpri-la integralmente. Depois de realizar uma periodização no marco do processo político, foi exposto que a tarefa da conquista do poder só foi posta ao partido depois que Lênin chegou à Rússia, vindo do exílio em abril. Quando se dá a Conferência de abril e ele desenvolve suas teses. A grande questão da divergência com os chamados "velhos bolcheviques" (do qual eram parte Kamenev e Stálin) era a tomada do poder político pelo proletariado. Por isso para Trotsky, o estudo dessas divergências permite tirar lições uteis ao conjunto dos partidos da Internacional Comunista.

Depois de isto abordamos um debate de estratégias no interior da própria esquerda que apresenta que a Revolução Russa é sinônimo de Estatismo e stalinismo, justamente sua contra-cara a da contrarrevolução burocrática, assim como das variantes kautskystas, maoístas, foquistas assim como o próprio anarquismo ou autonomismo.

Os outros eixos escolhidos, tiveram relação com a necessária crítica a um conjunto de afirmações que em geral historiadores e jornalistas, ideólogos da burguesia, apresentam sobre a Revolução Russa, diferenciar bolchevismo de stalinismo de forma clara e acrescentando que deve se fazer também uma caraterização e um necessário balanço das diferentes estratégias da esquerda. Foram sugeridas as leituras de alguns textos como por exemplo de Trotsky Três concepções sobre a Revolução Russa, seus apêndices a História da Revolução Russa e A revolução Russa de 1932 conhecida Conferência de Copenhague do mesmo autor.

Esclarecemos que todos estes temas e argumentos, por razões de espaço, deveriam ser mais desenvolvidos em matérias posteriores.

Quatro teses contra os historiadores e jornalistas de direita

Durante o minicurso trabalhamos cinco teses sobre a Revolução Russa em polêmica com os historiadores e jornalistas ao serviço da burguesia:

A primeira tese é que a Revolução Russa foi uma revolução social e não um golpe de estado. Reivindicamos sua organização e o papel do partido bolchevique tentando dar conta do processo. Uma visão do conjunto do processo, deve ter em consideração que os bolcheviques eram minoria no fevereiro de 1917 nos sovietes dirigidos pelas alas conciliatórias os mencheviques e os socialistas revolucionários, a chegada de Lenin e a mudança a partir de suas conhecidas Teses de Abril, onde centralmente afirma que a Rússia, sendo capitalista, o caráter da revolução é socialista e a defesa político-estratégica de não apoiar o governo provisório, se manter firme na independência política, para que o movimento de massas fizesse sua experiencia até os bolcheviques se tornarem maioria nos soviets. Este apoio político foi o que permitiu tanto a tomada do poder político como se manter no poder.

A segunda tese é rejeitar a afirmação que os bolcheviques abortaram um processo no qual havia um desenvolvimento de uma democracia burguesa na Rússia;
A terceira tese é que os bolcheviques estavam preocupados pela participação política das massas exploradas e oprimidas os soviets não eram nem fetichisados nem instrumentais;

A quarta tese é entender ao bolchevismo como um fenômeno político marxista revolucionário, contrário a sua contra cara a contrarrevolução burocrática estalinista. Desta forma rejeitamos usar bolchevismo como sinônimo de estalinismo.
A quinta tese foi defender a atualidade da estratégia bolchevique para o qual entramos no debate de estratégias.

Como a maioria destas teses foram desenvolvidas com mais detalhe em outras oportunidades remitimos a duas matérias. Uma de Esquerda Diário "100 anos da Revolução Russa: um debate de estratégias" e outra publicada na Revista Lanzas y Letras da Colômbia: 100 años de la revolución rusa. la importancia política de la discusión estratégica.

Debate de estratégias na esquerda

Entendemos a estratégia bolchevique como a toma do poder político pela classe operária e ditadura do proletariado como socialismo, um momento histórico de transição entre o capitalismo e o comunismo.

Outras estratégias foram elaboradas e até importantes revoluções realizadas mas diferentes que a bolchevique como por exemplo a estratégia reformista de Karl Kautsky conhecida como “estratégia de desgaste”, criticada por Rosa Luxemburg, a estratégia com que foi realizada a Segunda Revolução Chinesa em 1949 ou a Revolução Vietnamita, a través da estratégia maoísta de guerra popular prolongada; a Revolução Cubana de 1959 que em 1961 se declara socialista e na sua leitura oficial se apresenta como a teoria foquista elaborada por Regis Debray. Além destas podemos mencionar também as estratégias anarquistas o anarquisantes como as autonomistas, que tem em comum o negar a necessidade da ação política.

Karl Kautsky e a “estratégia do desgaste”

Na realidade a estratégia de Kautsky, eliminando a possibilidade de revolução socialista, articula uma combinação de táticas como a participação política em eleições e em sindicatos numa estratégia que acaba sendo conhecida como uma “estratégia de desgaste” (retomando o termo utilizado pelo historiador da guerra alemão, Hans Delbrück).

Para Kautsky o objetivo do proletariado é aspirar que as instituições legislativas mandem sobre as executivas e as judiciais. Se existem dificuldades deveria se apelar ao poder de mobilização das massas para pressionar no marco da institucionalidade burguesa. A tarefa do proletariado não seria, para Kaustky, tomar o poder político para destruir o Estado burguês mas mudar as relações de força no interior do Estado.

Mao Tse Tung e a guerra popular prolongada

Por sua vez, quando nos referimos a Revolução Chinesa, dirigida por Mao Tse Tung em 1949, estamos falando da segunda Revolução Chinesa e sua estratégia conhecida tanto na China como no Vietnam de Ho Chi Ming como a estratégia de guerra popular prolongada. É preciso lembrar que fins da década dos anos ‘20 em 1927 e 1928 China tive insurreições operárias derrotada pela política estalinista.
Depois das derrotas das insurreições, uma em Canton em 1925 e duas em Shangai em 1926, derrotadas pela política da direção stalinista, as tropas de Mao foram atacadas pelas forças nacionalistas e iniciam na sua fugida a “Longa Marcha”.

Estabelecidos no norte do país iniciam a política conhecida como guerra popular prolongada, que na verdade é uma estratégia militar de revolução campesina num contexto de guerra e ocupação. Mao mantem a política stalinista de conciliação de classes conhecida como a política de frente popular, que na China estaria formada pelo bloco das quatro classes: proletariado, campesinato, pequena burguesia urbana e burguesia nacional.

O Castrismo e a estratégia foquista

Da mesma forma que a leitura oficial da Revolução Chinesa subordina na análise o papel do proletariado na revolução, a visão oficial da Revolução Cubana é diferente que o processo político que permitiu seu triunfo.

A estratégia seria a do foco guerrilheiro, elaborada e simplificada por Regis Debray, como a forma em que se generalizou o modelo da revolução cubana além de seus mitos. Uma revolução anti-ditatorial em 1959 que se faz socialista em 1961 quando havia se expropriado de conjunto a burguesia, contra todas as teorias stalinistas dos Partidos Comunistas e que se burocratiza em 1968.

Centralmente na interpretação oficial aparecem ausentes as condições objetivas e subjetivas na revolução. Para esta teoria seria possível uma revolução sem crise, sem situação revolucionária, só pela existência de governos impopulares e fome, o que a partir da inevitabilidade da luta armada seria possível criar um foco no campo onde uma vanguarda armada do povo seria o pequeno motor que colocaria em movimento o grande motor das massas como um catalizador político.

O partido revolucionário, central na estratégia bolchevique, está ausente e a revolução baseada num exército, do mesmo jeito que na estratégia maoísta tampouco desenvolveram organismos de auto-organização das massas como foram os soviets na Rússia.

Para Trotsky, voltando as Lições de Outubro, nada pode substituir o partido revolucionário na sua ausência o proletariado não pode conquistar o poder através de uma insurreição espontânea.

Autonomismo e anarquismo

Existe outra estratégia que poderíamos denominar anarquista o autonomista, as quais se bem tem especificidades, se caracterizam por negar a necessidade da ação política do proletariado, a importância social do Estado como instrumento de transição do capitalismo para o comunismo e desta forma renegam a tomada do poder político.

Nesta perspectiva encontramos teóricos como Antonio Negri ou John Holloway com seu libro Mudar o mundo sem tomar o poder, sendo a referência social mais importante o Exercito Zapatista de Libertação Nacional (EZLN) no Estado de Chiapas no México e dirigido pelo Sub- Comandante Marcos.

Existem no mínimo duas divergências desde a estratégia bolchevique. No primeiro lugar se nega a necessidade dum período de transição, a ditadura do proletariado, entre o capitalismo e o comunismo. Estas teorias negam ao Estado, mas como Engels falava para os bakuninistas na Espanha, o Estado não se esquece deles, continua reprimindo e reproduzindo as relações sociais capitalistas (além do que, nos processos de revolução e contrarrevolução da década de 30 na Espanha, os anarquistas que "renegavam o Estado" assumem o posto de dóceis ministros burgueses contra os trabalhadores em luta).

Por isto para os bolcheviques era necessário tomar o poder político do Estado para quebrar o aparelho político da burguesia e substituir por formas de autodeterminação das massas, mas organizadas politicamente que constituiria uma nova forma de organização política que, na ausência de um termo melhor, Lenin falaria que continuamos denominando Estado mas é um Estado não-Estado que tenderia a acabar com as classes sociais e o próprio Estado, se extinguiria uma vez que deixam de existir as classes e dessa forma as contradições irresolúveis da sociedade.

A crise orgânica do capitalismo desde 2008 e a chegada ao governo de um conjunto heterogêneos de governos denominados como “pós-neoliberais” assim como o processo de cooptação e repressão dos movimentos sociais fez com que estas ideias, tanto teórica como politicamente, perderem muito espaço durante os últimos anos.

Breves conclusões

Para Trotsky é central o estudo da Revolução Russa em termos organizativos e políticos e sua estratégia. Tentamos mostrar no minicurso a atualidade da estratégia bolchevique. Para isto foi central uma crítica a seus detratores por direita, mas também uma crítica ao stalinismo, sua contra-cara, a da contrarrevoluciona burocrática, e as diferentes estratégias utilizadas nas revoluções mais importantes do século XX.

Como conclusão, para nós é importante construir partidos revolucionários da classe trabalhadora, tanto no plano nacional como internacional, independentes dos governos, dos patrões e do Estado, que para nos é o Movimento Revolucionário dos Trabalhadores (MRT) no Brasil e a Fração Trotskista (FT) e a IV Internacional.

 
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