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SANTIAGO MALDONADO
Caso Maldonado na Argentina: contra a crise, uma máquina de mentiras
Fernando Scolnik
Buenos Aires | @FernandoScolnik
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Os primeiros dias dessa semana foram, sem dúvidas, os mais problemáticos para o Governo nacional argentino desde o desaparecimento de Santiago Maldonado no dia 1 de agosto. As provas de DNA que descartaram a “hipótese” do barraqueiro, assim como os testemunhos públicos daqueles que viram os acontecimentos daquele dia, constituíram um duro golpe no centro de gravidade das operações de encobrimento e desvio da investigação que têm lugar já há mais de um mês.

O macrismo conseguiu com o tema, “voltar ao mundo”, ainda que talvez não da maneira desejada. Os principais meios de comunicação internacionais refletiram a gravidade da situação. O jornal El País de Madri, por exemplo, intitulou um editorial sobre o tema como “A primeira grande crise política de Macri”. A coluna de opinião aponta que o governo tardou 37 dias em tomar com seriedade o tema, entretanto agora colocou no centro para tratar de frear “a sangria de credibilidade” ao “constatar que estava forjando a tormenta perfeita”.

Nesse marco de adversidades, o Governo ensaiou um tardio e inverossímil giro, enviando à região de Esquel o secretário de Direitos Humanos, Claudio Ayruj, para mostrar uma atitude colaborativa para a resolução do caso.

Entretanto, menos de 24 horas depois já estava claro o conteúdo do novo giro. Enquanto que formalmente o macrismo afirma que estão abertas “todas as hipóteses”, se montou uma nova operação política e midiática: demonizar e desprestigiar as testemunhas que declararam o conteúdo que o Governo negou desde o princípio, ou seja, que a Polícia Militar é responsável pelo desaparecimento forçado de Santiago Maldonado.

Assim foi grande contribuição de Ayruj ao esclarecimento do caso, consistindo em anunciar ontem a repentina “descoberta” de que Matías Santana, a testemunha chave que viu como Maldonado foi levado pela Polícia Militar, é um importante quadro e porta-voz da Resistência Ancestral Mapuche (RAM). Em uma operação “manual” ao estilo dos serviços de inteligência, o Governo busca desacreditar seu testemunho: se trata de um “terrorista”, portanto o que diz não tem validez.

No jornal argentino Clarín, que levantou essas acusações com manchetes catastróficas, fez o mesmo com as declarações de Santana que retrucaram o evidente: que se tratava de uma nova mentira do Governo nacional. O jornal La Nación, por sua vez, dedicava seus esforços jornalísticos do dia em buscar contradições no relato de Santana.

Se algo é certo, é que o governo nessa crise não está sozinho. Os meios de comunicação contribuíram desde o começo nas operações oficiais de desvio da investigação, demonstrando dúvidas não sobre a Polícia Militar, mas sim sobre os mapuches e sobre o próprio Maldonado. Assim muitas mídias estavam controlando as versões que tentavam instalar de que Maldonado tinha sido visto na região de Entre Ríos, que estava no Chile, ou qualquer outra informação das que circularam durante as últimas semanas para tentar gerar confusão.

Como manobra complementária, ontem o aparato de propaganda oficial tentava mudar a agenda política, com base no pedido do fiscal federal Gerardo Pollicita de investigar a ex-presidente Cristina Kirchner pela denúncia do fiscal falecido Alberto Nisman.

O macrismo, que durante os anos prévios a sua chegada à presidência hasteou um discurso republicano a respeito dos meios de comunicação, está demonstrando o que verdadeiramente é nesse terreno. Frente a crise, sua política mente que algo permanecerá.

As manobras de distração seguem

Na tarde dessa quinta-feira, se confirmou a notícia de que o juiz Guido Otranto, o mesmo que ordenou a repressão na rota 40, autorizou um rastreamento sobre as terras do povo mapuche. Não é inesperado que dessa operação saia novas manobras de encobrimento e falsas acusações.

Também, de forma grosseira, o Clarín fechou seu portal do dia com a “notícia” de que “um casal declarou que levou em sua caminhoneta um jovem igual a Santiago Maldonado no dia 22 de agosto”.

Pouco antes dessa nova manobra, a advogada Verónica Heredia, representando a família Maldonado, denunciou a adulteração dos libros da Polícia Militar nas datas em que desapareceu Santiago. O grande jornal argentino lhe respondeu com outra cortina de fumaça.

Ocultar a luta de fundo

Enquanto tudo isso sucedia, ontem o Senado, onde o bloco do PJ-Frente para a Vitória é maioria, postergava o tratamento de um projeto para prorrogar por quatro anos a Lei 26.160, que suspende a desocupação de terras das comunidades indígenas em todo o país, e que vence no próximo dia 23 de novembro.

Os Benetton, os Lewis e todos os proprietários de terra milionários, festejaram. Se preparam para seguir avançando sobre as terras dos povos originários para seus negócios mineiros, petroleiros e agropecuários.

Isso é o que explica a forte perseguição às comunidades originárias da região, as quais estão se mobilizando para exigir a prorrogação da lei. O PTS-Frente de Esquerda e outras bancas se colocaram a serviço dessa luta.

*Dia 18 às ruas por Julio López, pela aparição com vida de Santiago*

Neste dia 18 de setembro se cumprirão 11 anos do dia em 2006 em que Julio López não chegou à sala de audiências onde se realizava o julgamento contra Miguel Etchecolatz. Após 11 anos, o desaparecimento de Julio López segue impune, sob um manto de encobrimento.

Esse dia, junto ao Encontro Memória, Verdade e Justiça, sairemos novamente às ruas pedindo justiça por Julio López e o fim da impunidade. Também para seguir levantando com força as bandeiras pela aparição com vida de Santiago Maldonado.
Neste 18 de setembro sejamos milhares mobilizados. Justiça por Julio López. Aparição com vida já de Santiago. O Estado é responsável.

 
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