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DEBATES NA ESQUERDA
MAIS: diminuir a força da FIT na Argentina para justificar sua adaptação ao PT
André Barbieri
São Paulo | @AcierAndy
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O MAIS nos presenteou com um “esclarecimento” sobre sua primeira análise dos resultados da esquerda argentina nas eleições. Dedicando-se a enfatizar no início do artigo o reconhecimento que faz do avanço da Frente de Esquerda e dos Trabalhadores (composta pelo PTS, o PO e a IS), renova o objetivo original da análise: depreciar os dados concretos da FIT, e inventar uma “divisão da esquerda” sendo a filial brasileira da crítica lançada pelo MST e o Nuevo MAS.

Essa operação ocorre porque, para o MAIS, segue sendo muito importante separar o êxito eleitoral da FIT, hoje encabeçada pelo PTS, com o conteúdo de independência de classe de sua política. Não em vão, a apreciação da FIT se baseia na distorção dos dados eleitorais e um artificial debate de prognósticos para diminuir o efeito do evidente crescimento da FIT; ao mesmo tempo em que “não é desprezível” o resultado de uma frente política (Izquierda Al Frente) que sequer passou pelo piso de 1,5% onde realmente importava: abaixo de 1% na Capital Federal (MST) e não mais de 1,14% (Nuevo MAS) na Província de Buenos Aires.

O rodeio argumentativo, que tenta corrigir a falsificação do conteúdo dos dados eleitorais com o reconhecimento das chances da FIT em várias províncias, não elimina o central:

É vergonhoso para o trotskismo que o MAIS se dedique a diminuir as conquistas da única frente política de independência de classe no mundo, que tem sólida inserção no movimento operário (uma votação de caráter operário e popular que prova a entrada do trotskismo em bairros e distritos antes hegemonizados pelo peronismo, como nos municípios de Merlo, Moreno, Malvinas Argentinas, José C. Paz, etc.) e que defende a constituição de um governo dos trabalhadores de ruptura com o capitalismo.

Ato da FIT no estádio de futebol de Atlanta, que reuniu mais de 20 mil trabalhadores e jovens em Buenos Aires

Como o MAIS reconhece, a FIT tem como deputada federal até 2019 a dirigente docente de La Matanza (maior regional do sindicato de professores), Natália Gonzales Seligra (PTS). Nicolás Del Caño, que obteve 321.464 (3,62%) com apenas 74% dos votantes registrados (nas eleições gerais, essa porcentagem fica acima de 80%) muito provavelmente será eleito. Em Mendoza, os votos de duas pequenas formações de esquerda (PCR e MST) que não ultrapassaram o piso de 1,5%, vão para Noelia Barbeito em outubro, que já registrou quase 9% (o que se agrega aos já três deputados provinciais, 2 senadores provinciais e cinco vereadores da FIT nessa província). A histórica votação de Vilca muito provavelmente garante dois deputados provinciais a mais para a FIT em Jujuy. Na Capital, com os mais de 80 mil votos de Myriam Bregman (4,38%), excede em 20 mil o necessário para ser eleita em outubro. Em Córdoba há três deputados estaduais da FIT, além dos mais de 70 mil votos de Liliana Olivero.

Estes dados são a prova “dura” de que a campanha da grande mídia burguesa, como o Clarín e a rede de televisão C5N, de que a esquerda estaria “dividida”, fracassou. Nas duas eleições estratégicas do país (Capital federal e Província de Buenos Aires) a FIT foi a representação da esquerda. Descontentes com o fato, o MST e o Nuevo MAS tomaram nas mãos a campanha do Clarín para disseminar o “sectarismo” da FIT em “dividir a esquerda”. O MAIS se reserva o triste papel de copiar essa mentira passada por várias mãos e difundi-la no Brasil.

Curiosamente, parece que para o MAIS o oportunismo do MST (corrente irmã do MES de Luciana Genro no PSOL) ficou em 2008 (quando aliou-se à burguesia agrária durante a crise do campo). De fato, a Izquierda Al Frente hoje vai com a centro-esquerda na Província de Santa Fe, unindo-se com peronistas e “socialistas” no interior da Frente Social e Popular, pisoteando qualquer vestígio de independência de classes. Esta Frente Social e Popular, da qual o MST é parte em Santa Fe, se associa com o PS, o peronismo e com a coalizão de Sergio Massa em todo o país, algo que merece as críticas inclusive do Nuevo MAS. Para o MAIS, entretanto, não há nenhum problema presente que tornem “incompatíveis” os programas da FIT, e da IAF.

O MAIS tem todo o direito de “não enxergar incompatibilidade alguma” entre os programas da FIT, e da Izquierda Al Frente; é compreensível, já que no Brasil não enxerga “incompatibilidade alguma” entre o princípio da independência de classe, e sua política de debater um “programa de país” com o PT na plataforma “Vamos!”. Luta por confundir porque fortalecimento de uma frente política de independência de classe no país vizinho não ajuda a conferir entusiasmo num projeto de adaptação completa ao petismo, como defende o MAIS.

Temos o direito, por nossa parte, de considerar um pouco ridícula a “magia” de ignorar a diferença entre independência de classe e conciliação de classe, aumentando artificialmente a importância de uma frente inexistente na realidade e que se alia ao peronismo em distintas províncias, para atacar como sectários os componentes da FIT e assim justificar seu oportunismo de aderir ao Vamos no Brasil.

Sabemos para onde leva a “teorização” do MAIS sobre como superar a suposta marginalidade da esquerda: como afirma Henrique Canary, “Chamamos e continuaremos chamando Lula e o PT a colocarem toda a sua influência a serviço da luta contra as reformas do governo Temer. Lutaremos ao lado de qualquer um que queira lutar [...] A esquerda socialista pode e deve voltar à verdadeira cena política do país, sair de seus pequenos espaços sectários, derrubar os muros e as paredes que a separam do debate real na sociedade”. Ou seja, sentando com Gleisi Hoffmann e Vagner Freitas é que a esquerda pode “voltar ao centro da cena política”.

Esse caminho catastrófico do MAIS o faz correr alegre ao precipício. Nos reservamos o direito de aplicar na prática as grandes lições que oferece o fortalecimento da FIT rumo a outubro, a forma mais adequada de expandir a influência da esquerda classista e anticapitalista.

 
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