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RACIONAMENTO DE MERENDA
O que Dória não fala sobre educação, obesidade e saúde das crianças
Rafaella Lafraia
São Paulo
Amanda Navarro

A denúncia de racionamento da merenda escolar feita por Marcella Campos chamou bastante atenção e vem sendo confirmada e tendo ampliação de denúncias. Dória alega que a medida é como forma de controle a obesidade infantil. Aqui apresentamos uma crítica real mostrando que de o prefeito não nos engana, que nada entende de educação e saúde das crianças.

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A denuncia feita aqui pela professora da rede pública estadual e diretora da APEOESP pela oposição, Marcella Campos, sobre a ordem encaminhada pelo prefeito João Doria (PSDB-SP) às escolas e creches da rede municipal de São Paulo de impedir os alunos de repetir as merendas teve uma grande repercurssão nas redes sociais, ao ponto do secretário da educação de São Paulo, Alexandre Schneider, chegar a fazer um post na sua página alegando que era uma denuncia produzida. Entretanto, diversas confirmações confirmações de pais e professores chegaram e com denuncias que iam além destas como podemos ver aqui e aqui.

Veja mais: Nas escolas de Dória, canetada da fome marca crianças que já comeram

Após as denuncias sobre essa medida cruel tomada pela gestão Dória que, além de oferecer alimentação de péssima qualidade nutricional para os estudantes ainda os impede de repetir a refeição, veio acompanhada pela justificativa mais absurda possível: Dória estava preocupado com o controle da obesidade infantil.

Como bem colocado por Marcella Campos e outros professores que participaram no sábado (19/08) do encontro: “O papel dos professores para enfrentar a crise”. é comum encontrar alunos que vão pra escola contando com a merenda como única refeição do dia já que estas crianças que frequentam as escolas públicas nas periferias da cidade tem uma realidade duríssima.

Segundo as informações oficiais mais recentes apresentadas na “Pesquisa de orçamentos familiares - antropometria, estado nutricional de crianças, adolescentes e adultos no Brasil de 2008-2009”, feita em conjunto pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e Ministério da Saúde (MS), o excesso de peso e obesidade na população brasileira apresenta um quadro diverso, pois tem-se uma variação na tendência do aumento destes problemas de acordo com a faixa etária, mas que, de modo geral, houve um crescimento destas questões em todas as faixas etárias.

As entidades oficiais responsáveis pela pesquisa apresentam os motivos pelos quais ocorre o aumento do peso na população brasileira: o desequilíbrio entre ingestão e utilização de calorias pelo organismo humano. Mas, diferentemente do que é colocado por Dória, os órgãos oficiais relatam que, a partir de análises anteriores, verifica-se uma tendência crescente de substituição de alimentos básicos e tradicionais na dieta brasileira, como arroz, feijão e hortaliças, por bebidas e alimentos industrializados, como bolachas, refrigerantes e carnes processadas. Foram realizados quatro grandes inquéritos sobre os alimentos mais comprados pelas famílias brasileiras e o resultado foi que houve um aumento 400% para os alimentos industrializados, que acarreta no aumento na densidade energética das refeições, comprometendo a auto regulação do balanço energético dos indivíduos que levaria ao o risco de obesidade na população.

Em outras palavras: a qualidade dos alimentos é algo que está totalmente relacionado com o aumento de peso e a obesidade em qualquer faixa etária. E aqui colocamos mais uma questão sobre a justificativa de Dória: se o prefeito realmente quer combater a obesidade infantil - tendo até profissionais ligados a esta questão de saúde - por que oferece alimentos de baixa qualidade nutricional (biscoitos, carnes processadas e comida pronta), chegando ao máximo do descaso, já que estes alimentos tem estado de preservação e conservação contestado, como apresentado aqui?

Abaixo pode-se ver um infográfico que mostra as diferentes composições das dietas obtidas através de inquéritos e nota-se um maior desequilíbrio nas dietas das famílias brasileiras. Essa piora na qualidade da alimentação ocorre expressivamente nas famílias pobres, já que os alimentos industrializados são ofensivamente propagandeados pela mídia e que alimentos com menos açúcar e gordura são os mais caros nas prateleiras dos mercados.

Outra informação importante neste estudo é que a faixa etária inferior a 5 anos não tiveram mudanças significativas nos índices de obesidade, ou seja, ainda que João Dória estivesse de fato preocupado com a alimentação dos estudantes, pouco estaria se importando com quais as faixas etárias que mais sofrem com a obesidade. É tão pouco importante a qualidade dos alimentos oferecidos pelas merendas escolares a fim de controlar a crescente obesidade em crianças e adolescentes, que este ano Dória também descumpriu uma lei municipal que dispõe sobre a obrigação das merendas conterem alimentos orgânicos ou de base agroecológica.

Além disso, segundo dados da Organização Mundial da Saúde de 2004, apresentados ainda na pesquisa do IBGE e MS, o governo brasileiro teve acordo com a estratégia global em alimentação, atividade física e saúde apresentada pela Assembléia Mundial de Saúde, na qual foram firmados acordos para um enfrentamento consequente sobre o aumento da obesidade, que influencia na incidência de doenças crônicas e, consequentemente, nos custos dos serviços de saúde, que vão além de informar e educar os indivíduos sobre as os problemas que a obesidade causa, ligando com políticas públicas e ações para propiciar ambientes que estimule, apoie e proteja padrões saudáveis de alimentação e atividade física, sendo que nesta última deve-se ter um planejamento urbano que facilite a prática cotidiana de atividades físicas regulares.

Bom, nem precisaríamos colocar que a política para as áreas urbanas de lazer do município de São Paulo - como os parques - não vai de encontro com este acordo firmado, já que Doria pretende privatizar os parques deixando-os “abertos” somente para aqueles que tenham condições financeiras para entrar e aproveitar destas áreas, como apresentado aqui. Além disso, a desestimulação dos profissionais da área e as condições precárias de muitas escolas impede qualquer prática esportiva para os alunos de ensino público.

É necessário acrescentar nesta análise o histórico da empresa contratada por Dória para o fornecimento de merendas escolares. Como já colocado aqui, a empresa Comercial Milano é alvo de escandalos políticos tanto em São Paulo quanto no Rio de Janeiro. Foi essa empresa que forneceu toneladas de leite em pó contaminado para creches e escolas de São Paulo em anos anteriores e, apesar de ser declarada como de não confiança, ainda é a distribuidora de merendas escolares no município. Antes da denúncia atual do racionamento da merenda, a empresa veio novamente ao foco de escândalo por ser investigada na fase Ratatouille, da operação Lava Jato, no qual investiga-se se os empresários a utilizaram como parte de esquema de pagamento de propina.

Logo, não existe nenhum estudo ou política pública orientando que o combate eficaz e a obesidade é feita da forma como Dória coloca - com racionamento e baixa qualidade da merenda escolar oferecida. Esta política, além de comprovar o nível de crueldade - na qual nega alimento a crianças - evidencia que Dória não tem nada de bom gestor e sim de um político ligado aos interesses dos grandes empresários, ao colocar sobre as costas da população mais pobre o peso da crise orgânica que estamos passando, a partir da precarização da educação e do sistema de saúde.

O que realmente pode e deve ser feito, pensando de forma integrativa com as questões educacionais e de saúde, é oferecer uma nutrição saudável alcançada a partir do impulsionamento e disponibilização de recursos e meios para o desenvolvimento de hortas comunitárias com gestão coletiva e sem agrotóxicos, para abastecer hospitais e escolas, dentre outras medidas que se pense em conjunto com a população pobre e trabalhadora. Também a estimulação e disponibilização de áreas e equipamentos para a prática regular de esportes.

Como colocado por Diana Assunção não devemos permanecer apenas nas lutas pontuais, devemos ir além e construir uma organização revolucionária e, por isso, movidos por esta força em combater os ataques, principalmente agora, frente a esta conjuntura mais à direita, é preciso batalhar.

Por isso, os professores integrantes do Movimento Nossa Classe - Educação, militantes do Movimento Revolucionário de Trabalhadores (MRT) e o Esquerda Diário convidam todos os setores contrários a Doria - sindicatos, movimentos sociais e a população em geral - a ajudem a construir o ato contra o racionamento de Doria e por merenda para todos chamado para o dia 23/08 (quarta-feira), às 16h, em frente a prefeitura de São Paulo.

 
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