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CIÊNCIA
O princípio antrópico e o materialismo
Eduardo Baird

A ideia do princípio antrópico "débil" foi formulada em 1974 pelo físico Brandon Carter, para quem "as condições que regem o universo sempre serão aquelas que permitam a vida inteligente. Se não fosse assim, não estaríamos aqui para observá-lo".

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"A vida é a medida de todas as coisas". Porém, observamos o mundo de acordo com a nossa forma de percepção humana. Sabemos que os animais captam outras cores, outras frequências ou sons. A percepção não é absoluta, está determinada por nossas capacidades ou limitações. Nunca poderemos perceber como um gafanhoto ou como um ser inteligente de um planeta ainda por descobrir. Vemos o mundo não como ele é mas sim como o é para nós mesmos e, em geral, de acordo com nossas necessidades práticas. E nossa percepção evolui historicamente: não percebemos o mundo hoje da mesma maneira que o fazia o homem durante o Renascimento.

Para a vertente "forte" do princípio antrópico, o Universo está desenhado para produzir necessariamente vida inteligente. Evolui até que adquire consciência de si mesmo. Mas esta ideia considera que uma finalidade é o que rege o universo. John D. Barrow e Frank J. Tripler no livro O princípio antrópico cosmológico escrito em 1986 alegavam que "tudo o que existe, desde as constantes energéticas concretas do eléctron até o nível preciso da força nuclear parece ter sido precisamente ajustado para a nossa existência e para a existência de outros seres vivos". Isso significa sustentar que no desenvolvimento existe um desígnio, é introduzir à força um pensamento idealista e religioso em um universo onde o tema da origem e do desenvolvimento da humanidade teve suas respostas formuladas pela ciência.

Stephen Hawking, por exemplo, sustenta que "para a cosmologia moderna, a Terra é um planeta que gira ao redor de uma estrela que corre nos subúrbios exteriores de uma galáxia espiral ordinária, que seria somente uma entre bilhões de galáxias do universo observável... Pretender que toda esta vasta construção exista simplesmente para nós é algo muito difícil de crer". Surpreende-se de que esta nossa localização no universo satisfaça as condições necessárias para a existência... "é algo parecido a uma pessoa rica que vive em um entorno abastado sem conseguir ver nenhuma pobreza"(1). Sutil ironia deste notável cientista que recorda que o nosso lugar no cosmos é muito mais modesto do que o que a religião nos atribui e que no universo observável não existe lugar para figuras angelicais ou celestiais.

Para a cosmologia moderna, a Terra é um planeta que gira ao redor de uma estrela que corre nos subúrbios exteriores de uma galáxia espiral ordinária.

Por outro lado, Stephen Jay Gould afirma que: "Os seres humanos surgiram em virtude de um resultado fortuito e contingente de milhares de acontecimentos travados, cada um dos quais pode ter ocorrido de maneira diferente e ter alterado a história a partir de uma fenda alternativa que conduziu à consciência"... Considera que localizar os seres humanos na cúpula de uma história ascendente tem sido "colocar erroneamente no centro um fenômeno menor..." A sequência que parte de uma célula eucariota, existente em um nautilóide, em um peixe, em um dinossauro, em um mamífero e chega até o ser humano... "não é o fio condutor da história da vida... Durante todo esse tempo, a vida bacteriana vem crescendo de tamanho e mantendo sua posição constante. As bactérias são as triunfantes no que se refere a vida"(2).

São notáveis as fórmulas rebatidas que adotam as fábulas criacionistas para reaparecer e tratar de introduzir sua ideologia com um disfarce pseudocientífico. Entretanto, é nas condições materiais da existência que devemos buscar a base de nosso conhecimento antes de buscá-la em fraseologias sobrenaturais.

(1) Stephen Hawking, A história do tempo.
(2) Stephenuld, O livro da vida.

 
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