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MACHISMO
Robôs sexuais simulam estupros, mais um capítulo do machismo no sistema capitalista
Patricia Galvão
Diretora do Sintusp e coordenadora da Secretaria de Mulheres. Pão e Rosas Brasil

Há poucos dias a indústria pornográfica anunciou novos robôs sexuais. Entre as possibilidades que as personalidades do robô sexual oferece é possível simular estupros e experimentar jovens “novinhas” e sexualmente inexperientes. Mais um capítulo do machismo a serviço do capitalismo.

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Há décadas a indústria do sexo se vale das sexdolls para simulação da relação sexual. Bonecas de plástico infláveis, com abertura na boca, na região genital “evoluíram” para bonecas super-realistas de silicone e agora para robôs com “personalidade”. O que essas iniciativas escondem é o adoecimento das relações sociais, a objetificação da mulher e a apologia à violência e ao estupro.

No início de julho, o jornal o Globo dedicou uma reportagem para um fenômeno principalmente no Japão, de homens que se “casam” com bonecas hiper realistas. Não apenas fazem sexo com elas, saem para passear, “conversam”. Acreditam, assim, terem achado a cura para solidão moderna.

Longe de serem uma “cura” de fato à solidão, essas bonecas dão sinais de uma sociedade doente onde o contato humano físico, a conversa, compartilhar a vida, pode ser substituído por algo artificial que não sente nada. Uma das esposas trocadas por essas bonecas “do amor”, como são chamadas no Japão, denuncia como ficam as mulheres reais, esposas de carne e osso trocadas pela fantasia da boneca de silicone: "Eu me limito aos trabalhos domésticos, o jantar, a limpeza, a roupa". Essa tal cura da solidão masculina está longe de emancipar as mulheres. Tampouco os homens estão, de fato, imunes a solidão na companhia de seres inanimados.

Mas o sistema capitalista não vê limites e aproveita inclusive da violência machista para vender mais. A especialização na produção cada vez mais realista dessas bonecas levou uma companhia norte americana, a Roxxxy True Companion, a criar bonecas robôs com personalidades distintas que simulam desde a adolescente sexualmente inexperiente até a reação diante do estupro. A Jovem Yoko, por exemplo, simula uma adolescente ingênua inexperiente na relação sexual. A ideia é uma possível relação pedófila. A Frigid Farrah, ao ser tocada nas partes íntimas reage negativamente. Assim, essa “personalidade” da boneca seria escolhida para simular uma relação não consensual, ou seja, estupro.

A ideia “genial” do fabricante é de que assim, os homens poderiam simular suas fantasias mais secretas e as mulheres e adolescentes estariam seguras. Porém, a própria personalidade da boneca já carrega o termo frígida, termo usado na maioria das vezes de forma pejorativa para tratar da mulher que não gosta de sexo. Assim, ela não pode dizer não por que ela não quer, ela não gosta de sexo. Com a boneca, você força a mulher frígida a fazer o que ela não gosta ou não quer, quase como uma lição. O que aprendemos é que isso é machismo, mesmo que seja com uma boneca (pois ela é feita para parecer uma mulher real).

No estudo encomendado pela Fundação pela Responsabilidade em Robótica (Foundation for Responsible Robotics), o pesquisador Noel Sharkey alerta: “Descobrimos que várias companhias estão produzindo e vendendo [essa bonecas-robôs] e achamos que é preciso atenção (...) Algumas pessoas dizem que é melhor que estuprem robôs que pessoas reais. Há outras que dizem que isso só encoraja os estupradores mais”. Acrescenta: “Robôs não sentem qualquer emoção. As pessoas se ligam a esses robôs, mas isso só se dá por uma via. Você se apaixona por um artefato que não pode te amar de volta e isso é o que torna essa realidade mais triste”.

Laura Bates, fundadora do projeto Everyday Sexism Project (Machismo de todo dia), coloca que “o estupro não é um ato de paixão sexual. É um crime violento. Não devemos encorajar estupradores a encontrarem uma saída supostamente segura, ou vamos facilitar aos assassinos dando a eles uma experiência mais realista com bonecos jorrando sangue ao serem esfaqueados”.

A comparação de Bates não poderia ser mais gráfica. Chocaria aos olhos ver uma simulação de assassinato tão realista. Por que não a de um estupro? O que a Frigid Farrah incentiva é a fetichização do estupro. Além disso considera que o desejo de estuprar faz parte das fantasias secretas de todos os homens, que assim poderiam realiza-las de forma segura. Mas segurança pra quem?

Não é nem verdade que o estupro, o desejo pelo sexo não consensual, a vontade pela violência de gênero está nas mentes de todos os homens. Isso é produto do patriarcado, incentivado pelo sistema capitalista machista, não é instinto natural. A única segurança possível para as mulheres é o combate ao patriarcado e ao sistema capitalista que se vale dele para oprimir metade do gênero humano. Cada boneca dessas custa cerca de R$40 mil. O estupro está em função do lucro dos capitalistas. Nunca foi interesse do fabricante das bonecas robôs a vida das mulheres.

 
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