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VENEZUELA
Governo de Maduro e a MUD, entre a negociação e o confronto
Milton D’León
Caracas

O plebiscito da MUD (Mesa de Unidade Democrática, organização da direita pró-imperialista venezuelana) e seu simulacro de oposição foram realizados. Ainda que os números dados pela oposição sejam difíceis de confirmar e era mais do que sabido que o governo os questionaria, o mais esperado era observar a demonstração de forças neste domingo e a tão mencionada “hora 0” com a qual MUD havia alardeado.

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Na dupla jornada do domingo, ambos setores utilizaram da tática de ampola, ou seja, a entrada para votar era pingada, retardando todo o processo e os poucos centros de votação se comparados com uma eleição normal, buscando mostrar uma maior concentração em pontos importantes. E funcionou, já que ao redor destes se mostraram aglomerações importantes, mas em termos gerais, a oposição se mostrou mais ativa e com maior dinâmica de participação que o chavismo.

Os dados jogados pela oposição sobre o referendo declarou para si mais de 7 milhões de votos comprovados, e a participação massiva do “ensaio” declara o chavismo como ao qual “atenderam milhões nos seus centros eleitorais” em relação aos níveis históricos de votantes que teve, que não podem ser confirmados, já que no caso do simulado do chavismo, de fato, não existe nenhum dado ou alguma cifra concretas. Tanto uns, quantos outros manipulam dados buscando mostrar uma fortaleza na crise política que o país vive.

Ainda que se deve destacar, como mostramos no Esquerda Diário em um artigo após algumas horas do meio dia do domingo, a importante participação no plebiscito da MUD em zonas populares de Caracas e outras cidades, descontado obviamente as zonas classe média e alta onde mantém um predomínio. No caso de Caracas, em comunidades como Catia, El Valle, Caricuao, Antímano, Petare, eram verdadeiramente grandes filas e mobilização. Se é certo que o governo também mostrou bastante participação em algumas dessas zonas, é sintomático que o contrário não ocorra, ou seja, o governo não consegue mostrar alta participação em seu simulado nas zonas de classe média e alta e isso marcou de certa forma a diferença real na dupla jornada de domingo: que a oposição tenha conseguido arrastar para sua consulta importantes franjas das zonas populares onde o chavismo era históricamente hegemômico.

A oposição, tanto na sua declaração ao final do dia mostrando seus resultados, como ao meio dia da segunda-feira se mostrou encorajada, anunciando com a presença do vice presidente da Assembleia Nacional, Freddy Guevara e integrante do Partido Vontade Popular de Leopoldo López, o plano da “hora zero”, uma série de ações contra o governo que começarão esta terça-feira com uma agenda de quatro pontos para esta semana, como ante-sala do que chamam histrionicamente de “escalada definitiva” para frear a Constituinte convocada pelo governo.

Destes pontos, o que sobressai é seu chamado a uma “paralisação civil” de 24 horas em todo país porque se realmente conseguem paralisar o país como declaram seria uma verdadeira demonstração de forças.

O outro, que a partir da quarta-feira começarão a “conformar um governo de unidade nacional”, não passa da propaganda, já que mais para além de que não poderá sustentar essa política, trata-se de um agravamento maior da crise, já que estaríamos falando de uma espécie de governo paralelo, que caso o conflito escale, poderá inclusive receber o reconhecimento de alguns países imperialistas, organismos internacionais ou governos de direita da região, assim seja no marco de pressionar ao extremo para uma negociação; o restante dos pontos, como a eleição dos juízes para o Supremo Tribunal da Justiça vem sendo anunciado há um tempo e tampouco tem real efetividade, ainda que significaria uma nova reviravolta na crise institucional e de poderes, posto que estaríamos falando de duplicidade de magistrados do TSJ, estando os atuais reconhecidos pelo governo, em adição à duplicidade que já existe de Vice-fiscais Gerais, o que nomeou o Fiscal e os que nomeou o TSJ.

Maduro já anunciou que a convocatória para sua Constituinte se mantém, declarando nesta mesma segunda-feira que “Assim a convoco, uma Constituinte pela independência e soberania e que a Europa diga o que queira dizer, não nos importa o que diz a Europa”, fazendo alusão ao chamado feito pela União Europeia a desfazer tal convocatória tendo em vista o resultado do plebiscito. Mas ainda faltam treze dias para o 30 de julho e todos os cenários estão em aberto.

A direção da MUD alardeia uma “escalada definitiva” indicando confronto, no mesmo tom que tem Maduro de que “troveje, chova ou relampeje a Constituinte vai acontecer”, todos estes movimento não podem deixar de ser lidos como pressão para negociar em melhores condições. Uma saída negociada da crise está sob o tapete como viemos escrevendo e não é de se estranhar que se estejam fazendo reuniões discretas.

E mais, analistas políticos mais relacionados com a oposição apontam neste sentido, como declara Luis Vicente León: “assim, transformar o plebiscito em gatilho para uma massificação real dos protestos e conseguir quebrar o adversário, o que poderia pressionar para uma negociação política que leve a uma oportunidade de mudança pacífica. Este acredito que seja o real objetivo do plebiscito.” E entre “quebrar o adversário” obviamente se encontram as Forças Armadas, que com uma maior escalada da crise política possa terminar de provocar alguma ação por parte de setores dos militares ou incidir em algum setor deles. O próprio dirigente da MUD, Fredy Guevara, fez alusão nesta segunda-feira à “discussão e negociação”, obviamente falando de “condições” para isto.

Deve-se considerar que o chamado à Constituinte por parte de Maduro está em crise, só se inscreveu o próprio chavismo e a simulação neste domingo não reverte esta situação. O movimento foi tanto do chavismo que até se pedia de entrada ao “ensaio” das eleições, o “carnet da Pátria” e aquele que não o tivesse lhe era oferecido fazê-lo ali mesmo. Caso Maduro decida avançar sim ou sim com sua Constituinte, que já sustentou que será “plenipotenciária”, concentrando todos os poderes sob a tutela do governo e nomeando novos integrantes de outros poderes públicos como o do Ministério Público e obviamente anulando de fato a Assembleia Nacional, a única maneira de impô-la, nestas condições, é com maior autoritarismo, o que só se pode ler como um auto-golpe sustentado pelos militares.

Não se pode esquecer que o governo de Maduro veio concentrando cada vez mais poderes políticos, inclusive aqueles que não são da ordem do Executivo, acompanhado de uma crescente militarização do país, o que denominamos uma maior bonapartização com o apoio das Forças Armadas e toda uma burocracia política, militar, corrupta e antipopular, no marco de uma grande debilidade política e a decadência do próprio chavismo. Portanto este último cenário de “auto-golpe” não está descartando, disfarçado com a farsa da Constituinte.

Mas também não pode ser descartado, caso a oposição chegue a níveis de maior escalada na sua política de enfrentamento com o governo, terminar de conseguir incidir nas Forças Armadas ou em setores importantes da mesma, atuando por vontade própria frente a uma situação que se torne incontrolável, o que evidentemente seria bem-vindo pela oposição. Como escreveu Eduardo Molina em um recente artigo, “a longa confrontação entre o governo chavista, que não consegue conter seu desgaste mas conserva a manutenção das FANB, com grande peso na vida nacional e o gerenciamento do Estado, e a MUD, apoiada pela alta burguesia e as camadas médias e com respaldo imperialista; se estende sem resolver o ’empate catastrófico’ na correlação de forças enquanto se aprofunda o sofrimento dos trabalhadores, os mais golpeados pela brutal crise econômica".

Neste quadro de putrefação das condições objetivas sem irrupção operária e de massas, os tempos da crise se alongam preparando o terreno para uma saída reacionária. A isto colaboram o autoritarismo chavista e a oposição ’republicana’ pró-imperialista da MUD, que também compartilha o temor de uma “explosão social”, ou seja, são inimigos de que as massas intervenham de forma independente. Por isso este grande temor frente a fenômenos que começam a surtir de descontentamento de setores mais empobrecidos, como se viu há pouco na cidade de Maracay, descontentamento que tanto a MUD quanto o governo de Maduro condenaram.

Isto pode ser também uma grande pressão para avançar para uma negociação ou uma saída militar se o canal do confronto chegue a situação que não pode resolver.

 
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