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DOSSIÊ STONEWALL
Pride: lésbicas e gays em apoio aos mineiros
Alejandra Ríos
Londres | @ale_jericho
Josefina L. Martínez
Madrid | @josefinamar14
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Publicado em Portal Palavra Operária

O nome do filme é Pride: orgulho. Um filme que emociona até as lágrimas, um filme poderoso que não tem o que perder. Pride se baseia na história do grupo LGSM (Lesbians and Gays Support the Miners), criado em 1984 em Londres para apoiar a grande greve dos mineiros britânicos durante o governo de Margaret Thatcher.

Estreou nos cinemas britânicos em setembro de 2014, no 30º aniversario da emblemática greve mineira, se transformou rapidamente em um êxito cinematográfico. Para o jornalista e ativista britânico, Owen Jones, Pride foi o melhor filme estreado em 2014. Embora ainda não tenha chegado as telas do mundo hispânico (e brasileiro), presenteamos de modo antecipado uma resenha de um filme imperdível.

O filme se baseia na história real; a experiência de ativistas da comunidade homossexual liderados pelo jovem Mark Ashton, um jovem irlandês militante dos direitos dos gays, cofundador do coletivo ‘Lésbicas e Gays apoiam aos mineiros” e militante do Partido Comunista.

Corria o ano de 1984, e uma Margaret Thatcher encorajada após o triunfo das Malvinas atacava, nesta oportunidade, a um inimigo interno. Em março de 1984 a gestão anuncia o fechamento da mina de Coronwood, em Yorkshire. Os trabalhadores concordaram em sair de greve e pediram o apoio do resto dos mineiros da região. Ao final de seis dias, Yorkshire, Escócia, Gales do SUL, Kent, Durham e Northumberland estavam em greve, aproximadamente, 140 mil dos 187 mil mineiros do sindicato National Union of Mineworkers. Esta disputa é considerada um dos acontecimentos mais importantes da história britânica do pós-guerra. O conflito atravessou todas as camadas da sociedade, abriu feridas em famílias inteiras, comunidades de trabalhadores e incluindo o ativismo gay.

A primeira cena nos localiza nas ruas de Londres, durante a marcha do orgulho gay em junho de 1984, numa época onde a repressão policial ao movimento homossexual era permanente. A greve fazia sentir seu peso. Durante uma reunião de ativista na livraria e centro cultural gay – sede deste coletivo – vemos que Mark, enfurecido e comovido pela greve dos mineiros, lança um pergunta sincera: “Estão vendo que a policia não está esses dias diante de nossos bares e não nos persegue tanto nas ruas? Sabem porque? Porque estão ocupadas com os mineiros.”, entretanto mostra a fotografia da capa de um jornal sobre os enfrentamentos nos piquetes da greve com a polícia. Nem todos o seguem, no entanto, consegue ganhar a um grupo e com uns baldes em mãos decidem sair arrecadando dinheiro para o fundo de greve do mineiros.

A proposta de Mark para conseguir apoio dentro do movimento homossexual se sustenta em um plano sólido: “Nós odiamos Margaret Thatcher, e sabem quem a odeia mais? Os mineiros. Portanto devemos apoia-los.”

Owen Jones, em sua coluna do matutino The Guardian, destaca o feito de que nos anos 80 eram uma época de sofrimento e luta, tanto para o coletivo homossexual como para os mineiros. Eram os anos de aparição da Aids, a falta de tratamento e ajudas estatais, e sua estigmatização como “doença rosa” , entretanto uns 60% da população sustentava que a comunidade homossexual era “completamente ruim”. Os mineiros por sua parte, eram para a primeira ministra uma prova de fogo para provar a efetividade de suas leis trabalhistas de 1980 e 1984, mediante as quais nenhuma greve seria considerada oficial a menos que se tenha realizado uma votação em escala nacional entre os afiliados do sindicato. Os trabalhadores diziam “nós estamos defendendo nossos postos de trabalho e esta mulher quer arrancar todos os nossos direitos.”

O filme mostra a aliança entre esses setores, superando preconceitos e desconfianças mútuas. O encontro entre os ativistas do coletivo lésbico e gay e os habitantes de uma pequena comunidade mineira do sul de Wales está repleto de momentos divertidos, desencontros, tensões, e muita emoção, com o começo de um laço de solidariedade profundo que rompe as barreiras dos convencionalismos.

Não obstante, a recepção do coletivo gay na comunidade mineira galesa não é um mar de rosas, sofre contratempos, rechaço e momentos difíceis, incluindo uma campanha de difamação pelos setores mais conservadores da aldeia galesa, que chegam a difundir artigos difamadores.

Um parágrafo a parte merece o momento onde as mulheres dos mineiros entoam a balada “Pão e Rosas”, lideradas pela belíssima voz de Bronwen Lewis, após o discurso de Mark prometendo voltar com coletas. Mark fecha seu discurso com a consigna “Vitória aos Mineiros!” e desde o fundo da sala emerge a sintonia ante a surpresa e emoção de todos. Elas participaram como ativistas destacadas da greve mineira, organizando o comando de luta, conseguindo fundo, compartilhando as decisões, fornecendo casa e comida aos jovens militantes. Elas também são o setor mais avançado em outras questões, ao final da greve, veem que suas vidas haviam se transformado e já não voltariam a ser o que eram antes.

O fim, para os efeitos dramáticos, se centra na relação de irmandade com o povo mineiro de Gales, no entanto, a solidariedade da comunidade gay com os mineiros em greve se expressou em várias regiões do país. Nos anos 80, os setores conservadores se referiam a comunidade homossexual como ‘pervertidos’. Porém o coletivo gay se apropria deste nome, em uma atitude de empoderamento e de desafio contra a moral conservadora. É assim como organizam ‘Pits and Perverts’ um festival em benefício dos grevistas em um clube do bairro de Camden em Londres. Chegam a arrecadar mais de 5.650 libras (pouco mais de 20 mil libras no valor atual, 40 mil dólares), todo o dinheiro foi destinado as famílias dos mineiros em greve do sul de Gales.

Esta aliança volta a celebrar-se na ultima cena, que nos transporta a marcha do Orgulho do ano de 1985. Vemos centenas de mineiros e suas famílias chegarem de ônibus para estar presentes na manifestação. A pedido dos organizadores que a encabeçam. Após as perseguições que vinham sofrendo, a Marcha do Orgulho Gay de 1985 marcou uma grande realização na luta pelos direitos dos homossexuais e foi uma das mais numerosas de Londres.

Com um elenco de primeira ordem e dirigida por Matthew Warchus, Pride é indubitavelmente um emocionante homenagem ao grupo Lesbians and Gays support the Minners, porem também é uma comemoração da heroica e difícil greve mineira. Este coletivo segue ativo e no 30º aniversário da greve tem cobrado um maior protagonismo nas negociações e debates onde põe os filmes Pride e ‘Still, the Enemy Within’, um documentário digno de ver, em que os mineiros e a comunidade gay voltam a ser os protagonistas de uma luta que marcará toda uma geração e transformará a vida dos trabalhadores e das mulheres ao calor da experiência de luta.

Veja nos links abaixo, como foi a exibição do filme e o debate sobre a temática, entre os trabalhadores da USP:

http://www.esquerdadiario.com.br/Sintusp-realiza-1%C2%AA-exibicao-publica-do-filme-PRIDE-no-Brasil

http://www.esquerdadiario.com.br/Trabalhadores-da-USP-exibem-filme-PRIDE-no-Sintusp

 
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