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NENHUMA A MENOS
Laura Vermont e o transfeminicidio no Brasil
Virgínia Guitzel
Travesti, trabalhadora da educação e estudante da UFABC
Bruno Portela
São Paulo

Os crimes mais bárbaros não ganham as telas, nem as capas dos jornais se tem como vítimas mulheres e homens trans ou travestis. Em menos de um mês da Parada LGBT que causou grande polêmica a performance que denunciava a cotidiana crucificação das identidades trans, seja pela moral ou pelos inúmeros assassinatos e agressões, já são diversas pessoas trans mortas. Laura Vermont está entre estas, assassinada pela polícia militar quando caminhava ensanguentada por São Paulo. Por Laura, Verônica e todas as identidades trans crucificadas, dizemos também: Nenhuma a menos!

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Mesmo com a aprovação da Lei do Feminicídio, as mulheres trans e travestis seguiram abandonadas pelo Estado, que além de seguir sem reconhecer a existência das identidades trans, ainda decidiu por não incluí-las nesta lei, como se a violência e a transfobia não fosse baseada no mesmo machismo que atinge milhares de mulheres todos os dias. Laura Vermont, Verônica, Géia Borghi também foram vítimas de violência de gênero.

Laura Vermont: uma tragédia cotidiana

Na periferia da Zona Leste, nessa sexta-feira (20), foi a última vez que família de Laura a viu. Assassinada duas vezes, pela polícia num dia, pela mídia no dia seguinte, reproduzindo seu assassinato enquanto homem reconhecido com direito a exposição de seu nome de registro e só depois por sua verdadeira identidade. . Até mesmo um vídeo já circula a internet no qual aparece ensaguentada e desesperada, caminha com muita dificuldade, sem qualquer ajuda ou indignação, agonizando. Mais uma tragédia cotidiana incentivada pela bancada moralista, o Congresso Nacional, o PT e a polícia que a executou.

Os PMs Ailton de Jesus, 43 anos, e Diego Clemente Mendes, 22, são do 39º Batalhão, na zona leste de São Paulo foram soltos um dia após serem desmascarados por mentirem nos depoimentos, encobrindo o tiro disparado por Ailton que a matou. Mas no país da impunidade, onde políticos são condenados por corrupção e seguem sua vida como empresários, o que legitima a LGBTfobia diária sai tranquilamente das bocas e dos projetos de leis no Congresso Nacional, para qual a base aliada do PT cumpre um importante papel. Na campanha eleitoral o PT fez uso da questão LGBT* para angariar setores, mas segue negando seus direitos.

Segundo o juiz Antonio Maria Patiño Zorz, “não parece razoável acreditar que os acusados, ainda que pairem suspeitas, causarão, em liberdade provisória, risco concreto à ordem pública". Não lhes parece um "risco" o envolvimento da polícia militar em centenas de casos que levam à morte as travestis, homens e mulheres trans? Este Juiz, representante deste mesmo Estado que nega o direito à identidade de gênero, da Lei João Nery e da Criminalização da homofobia só reafirma que a cadeia e as sentenças no Brasil tem cor, gênero e agora idade se se aprova a redução da maioridade penal.

A mira permanente sobre a vida das travestis

Laura tinha 18 anos. Teria direito a mais 17, segundo a perspectiva de vida de apenas 35 anos das travestis na América Latina. Não chegou a perspectiva. A mira permanente sobre as nossas cabeças não aceita que nos levantemos e nos revoltemos. Querem calar nossas vozes, das performances de crucificação à visibilidade trans que vem denunciando a repressão policial que está, inquestionavelmente, metida em milhares de assassinados país a fora, de jovens negros nas periferias e da juventude trans que não tem direito a futuro.

Há dois meses Verônica Bolina segue atrás das grades, mesmo após as torturas e assédios sofridos, nada mais se fala a respeito. A igualdade na lei já não significava igualdade na vida, todavia, nem mesmo na lei as identidades trans e as orientações não heterossexuais são iguais. Se depender dos fundamentalistas e do Congresso Nacional, os "ex-gays" e os que se levantarem contra os LGBT e contra qualquer combate à repressão sexual ou identitária terão mais direitos e até direito a uma "bolsa".

É uma tragédia cotidiana, nas universidades com pixações de "viado tem que morrer", nos transportes diversos casos de abuso e agressões que não é natural, nem por acaso. Mas de responsabilidade integral do governo Federal e do Congresso Nacional que não apenas se calam, mas seguem garantindo ataques como foi a retirada do debate de gênero nas escolas, em meio a esta crise de violência contra as mulheres cis e trans.

ÀS RUAS, com independência do governo e das polícias

Há três dias dos 44 anos da batalha de StoneWall, mais uma travesti escancara que nossas vidas não importam. Não chocam. Não causam revolta. O mito de libertação sexual conquistada pelas democracias não tem nenhum fundamento na realidade. Os fóruns de travestis e transexuais, assim como as ONGs e outras entidades que se fortaleceram dentro do movimento LGBT demonstraram com a prisão de Verônica sua profunda adaptação à democracia burguesa e às leis que servem para garantir a ordem sexual e cisnormativa vigente.

Retomar StoneWall, é seguir o exemplo de confiarmos em nossas próprias forças, nos movimentos sociais, na força dos trabalhadores, na juventude que provou em Junho ser possível colocar Feliciano e todos seus comparsas no seu devido lugar. Vamos às ruas, neste sábado (27), em São Paulo, às 13 horas na República pela aprovação da Lei João Nery e pela investigação independente do assassinato de Laura. Queremos justiça e prisão de todos os policiais assassinos, dos torturadores de Verônica. Para acabar com os privilégios que permitem o genocídio do povo negro e o transfeminicídio, é preciso exigir fim do júri especial para os policiais, que sejam julgados em júris populares com comissões de direitos humanos, movimentos sociais LGBT, feministas e organizações de trabalhadores como sindicatos e entidades estudantis.

Assim como nossas companheiras na Argentina, que levantam a campanha "Ni una menos" contra o feminicídio, também exigimos e gritamos aqui: basta de assassinatos e torturas contra as mulheres e LGBTs! Nenhuma a menos!

 
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