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JOAO DORIA
O fracasso da política higienista de Doria
Beatriz Catalan

Foi há um mês, após uma noite de brutal repressão como parte da ação da Policia Militar (PM) e da Guarda Civil Metropolitana (GCM) na região da Luz, no centro da cidade de São Paulo, que literalmente expulsou os dependentes químicos e pessoas em situação de rua que ali viviam. Logo em seguida, o prefeito gestor Joao Doria anunciou o "fim da Cracolândia" e lançou o programa municipal chamado Redenção, de combate ao uso de drogas, desconhecido até o momento pelo que deveriam ser os usuários.

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Foto: WERTHER SANTANA/ESTADAO

Esse foi o início de uma serie de ações apressadas e impensadas, combinadas com o governador Geraldo Alckmin, que tem por objetivo intensificar a higienização da região central da cidade, consequentemente, favorecendo o mercado imobiliário e a parcerias público-privadas que aguardam ansiosamente para desfrutar também de mais esta região. As iniciativas foram muitas, que combinadas a remoções truculentas a base de bomba de gás e remoção de pertences pessoais, mas também de transferências a quadras poliesportivas do bairro, bem como alojamentos de baixo do viaduto, assim como a demolição de prédios com pessoas dentro. Ações como essas fizeram com que esta população que vivia na região, se espalhasse por 23 pontos distintos da cidade de São Paulo, aumentando ainda mais a tensão entre os moradores das regiões próximas ao centro.

De acordo com matéria divulgada pelo El Pais, um mês foi o tempo necessário para que o aglomerado de dependentes de drogas que viviam na Cracolândia, deixasse a Praça Isabel e retornasse a antiga zona, agora do lado da estação Júlio Prestes e da Sala São Paulo. A movimentação começou por volta das 20h de ontem, quando uma multidão deixou a praça Isabel, atravessando a cerca de 400m dali, onde foi caracterizado um novo "fluxo", como denominaram o mercado aberto de drogas. Adriano, um dos últimos a abandonar a praça, alegou ter recebido ordem do comando, que até o fim da reportagem não se sabe ao que se refere.

De acordo com o capitão da PM, Marcelo Martin, a movimentação foi repentina e partiu dos próprios usuários. Já o secretário municipal de segurança urbana, Jose Roberto Rodrigues de Oliveira, confirmou que para a prefeitura o novo local é melhor, já que estão próximos aos equipamentos de atendimento, já que está ao lado da sede do programa Redenção (Governo do Estado), e de uma tenda que pertencia ao programa Braços Abertos (Gestão Haddad) e de um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), o que contradiz com a matéria divulgada pelo Portal Globo, em que revela que os dependentes desconhecem quaisquer propostas da atual gestão, e muitos ainda dizem fazer parte do antigo e agora extinto programa de redução de danos, chamado Braços Abertos, da anterior gestão.

O fim do projeto que previa a reinserção social dos usuários de droga da região, por via de emprego e moradia nos hotéis do bairro, já era anunciado desde a campanha eleitoral de Doria, porém, grade parte das estruturas seguem em vigor. Atualmente, 388 pessoas pertencem ao programa Braços Abertos, e seguem sendo atendidas até que sejam implementadas as formas alternativas de acolhimento que almejam. “A gente não sabe pra onde vai, ninguém diz nada”, afirma uma beneficiária do antigo programa, que prefere não se identificar.

Em nota enviada à imprensa nesta terça (20), a gestão municipal afirma que equipes da assistência social realizaram, desde o dia 21 de maio, 25.235 abordagens na região da Luz. Deste total, houve 10.786 encaminhamentos para acolhimento nos equipamentos da rede assistencial, 7.719 atendimentos na Unidade Emergencial de Atendimento, e 6.730 recusas de atendimento. Apenas no último domingo (18), foram feitas 1.293 abordagens na Luz, com 472 acolhimentos e 62 recusas.

Das conhecidas artimanhas midiáticas do gestor Doria, suas divulgações de marketing insistem a divulgar que 60% dos moradores da capital paulista apoiam as ações na região, bem como 80% se dizem favoráveis as internações compulsórias, insistindo e passando por cima de lutas em curso contra a luta antimanicomial, dentre distintos posicionamentos de categorias de profissionais da área da saúde mental e do trabalho com população em situação de rua. O que se viu nestas últimas semanas foi a intensificação das intervenções policiais, reprimindo não só os cidadãos que se encontram nestas situações, como também profissionais que atuam junto a essa população, como aconteceu nesta terça-feira, dia 20, com a funcionária de uma ONG que presta serviço para a Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social, e que foi detida por acompanhar uma abordagem policial na Praça Princesa Isabel.

De acordo com o Promotor Arthur Pinto Filho, da promotoria da Saúde, situações como estas impedem a existência de qualquer serviço com profundidade. "Enquanto a PM e a GCM estiverem fazendo o que estão fazendo, a chance de um programa, qualquer programa, dar certo, é zero”. O mesmo afirma que nos próximos dias o Ministério Público, a Defensoria Pública, o Conselho Regional de Medicina, dentre outras entidades, se reunirá com a Prefeitura afim de fazer um balanço e traçar um rumo ao programa.

Enquanto isso, o que se vê é uma lacuna de um programa que tem como menor preocupação a garantia de condições básicas para a superação desse problema, uma vez que permanecem a criminalizar os dependentes e usuários de drogas, bem como suas condições de vida. Ha mais de um mês do lançamento da tenda do projeto Redenção, a mesma foi desmontada nesta terça-feira (20), segundo a Prefeitura a ação estava prevista por se tratar de um contrato emergencial feito com a Saturais. A administração municipal informou que a nova tenda seria instalada a partir de um contrato definitivo já realizado, mas até o momento não souberam informar a empresa responsável, muito menos ousaram falar da defasagem de Assistentes Sociais nos equipamentos públicos da Prefeitura de São Paulo, que só no ano de 2014, perpassavam a necessidade de mais de 800 profissionais para área, e que ainda que tenha concurso já renovado em aberto, segundo a própria administração, não há previsão para contratação, bem como não se trata de nenhuma das prioridades acertadas por esta gestão. Longe de extinguir tal questão, a gestão tucana só tem por interesse a “reurbanização da Cracolândia”, que só tem causado o caos e aprofundado ainda mais este problema de saúde publica, afim de atender os anseios da especulação imobiliária.

 
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