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VIOLÊNCIA NO RIO
Em 75 dias letivos, escolas do Rio funcionaram integralmente em apenas 7 deles
Redação

As 1.537 escolas do Rio vêm sendo vítimas da violência promovida pela política de guerra às drogas por parte do Estado. Em decorrência das operações policiais e dos conflitos entre traficantes e policiais, o sistema de educação básica funcionou em todas as unidades em apenas sete dias ao longo dos primeiros cinco meses desse ano.

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Foto: desenho de criança feito para reportagem do jornal Extra

O fechamento das escolas é decretado pela polícia carioca, que passou a determinar quando os alunos podem ou não ter aulas de acordo com suas operações de incursão nos morros para matar.

Essa rotina de absurda violência torna-se tristemente algo naturalizado pelas próprias crianças, como podemos ver no relato de uma professora ao jornal Extra: "— Se tiver incursão policial de manhã, não tem aula. Os professores não podem entrar, e a escola fica fechada. Normalmente, as crianças ficam mais agitados no dia seguinte — conta uma professora do 1º ano do ensino fundamental: — Quando já estamos na escola, protegemos os alunos. Muitos estão acostumados. Ficam apreensivos, só que, passando os tiros, já estão brincando, conversando. No início do ano, entrou uma menina nova que não morava lá. Na primeira vez, ela tremeu todinha e começou a chorar."

As mortes prosseguem, pelas balas da polícia ou dos traficantes, mas sempre por responsabilidade da criminosa política de guerra às drogas que é feita pelos governos um após o outro. Assim, centenas de inocentes morrem, como aconteceu com a jovem Maria Eduarda, assassinada pela polícia enquanto estava dentro da sua própria escola. Junto a ela, já são vários outros jovens que foram brutalmente assassinados esse ano pela polícia. Seu único crime foi serem negros, pobres e morarem nas favelas, onde a polícia faz o que bem entende transformando o cotidiano dos habitantes em uma guerra civil diária.

A consequência da perda das aulas pode não ser a pior, nem a mais violenta, mas é a mais recorrente, e tornou-se, assim, normal que seja a polícia quem decide quais crianças podem ou não assistir aulas. Em 2017, já foram 320 escolas afetadas, com 104 mil alunos que perderam aulas por conta das operações. Apesar de atingir um nível inédito esse ano, com apenas sete dias letivos em que as escolas funcionaram integralmente, essa rotina não é novidade: em 2014 e 2015, durante os primeiros 75 dias letivos, as escolas funcionaram integralmente em apenas 15 deles; em 2016, o número baixou para 14, e esse ano caiu pela metade. É evidente que o agravamento da crise, com o aumento do desemprego e da miséria, contribui imensamente para isso. O depoimento de uma diretora de escola do morro do Alemão corrobora essa hipótese: "Acredito que a violência esteja aumentando. Não só a violência de tiro, de bomba. Mas também uma violência dentro de casa. Violência doméstica, pai que bebe e bate na mãe. Isso dificulta nosso trabalho. São questões muito complexas."

A reportagem do jornal Extra pediu às crianças da escola Walt Disney, no Complexo do Alemão, que fizessem desenhos com o tema "paz". O resultado apresentou o temor das crianças, com frases como "pare de atirar na gente" e “O povo tem que correr do tiro todo dia”. Outra professora do Alemão relatou: "Tiro para eles (crianças) é a coisa mais comum do mundo. Visitar alguém na cadeia é a coisa mais comum do mundo. Eles passam por cima de alguém morto para chegar à escola."

Enquanto persistir a guerra às drogas, fomentando a milionária indústria do tráfico e com a polícia tendo permissão para matar e invadir casas, aterrorizando os moradores e as crianças nas escolas, essa situação vai persistir. Enquanto forem os trabalhadores a pagarem pela crise com mais demissões e cortes de direitos sociais, a violência irá aumentar. É preciso acabar com isso.

 
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