O homem carrega um fuzil no olhar...
E o dispara quando vê
Que há injustiças no Mundo,
Antes dele e de todos os outros homens,
Hoje, privatizado.
A injustiça está no próprio Mundo, hoje privado, e não mais público!
O privado o excluí, o privado o domina, o privado o oprime...
O homem carrega balas na boca...
E as dissipa cada vez que fala para a massa,
Que ela só trabalha por trabalhar,
E se mantém com as migalhas do pão que o patrão come,
Produzido pelas mãos da própria massa.
Fala em quem construiu o forno, quem cortou as lenhas,
Quem plantou o trigo e dele o fez farinha,
Quem sintetizou os ingredientes.
O homem carrega um tambor e uma bandeira dentro do peito...
Que o toca e a tremula cada vez que a vê,
E se enfurece com a contradição de querer se aburguesar e viver ao seu lado
Fazendo dela uma propriedade...
Entretanto, vê nela A Unidade que faltava -
Não só entre os olhos sensíveis à injustiça,
A boca que expurga o incômodo que tem com a ideologia burguesa e dominante,
E o peito que se contradiz por ama-la...
A Unidade...
Não só entre pernas, lábios e corpos
Mas nela vê a possibilidade
De prender-se
Para libertar-se dos grilhões capitalistas;
De tanto ama-la
para odiar o sistema que também a oprime;
De sofrer como amante
para ganhar uma camarada de luta.
Vê nela a relação dialética entre o amor e a revolução.
O homem a carrega em seus pensamentos,
Que, volta e meia,
O desconcentra ao ler Marx,
Mas a via nas entrelinhas
De qualquer poema de amor e combate.
O que ele quer é ama-la para rebelar-se!
Pois ela é
Sua pulsão revolucionária!
E, ao mesmo tempo,
Sua pulsão de vida.
Deseja a unidade
Para não perecer
Na insegurança do seu Ser.
Ela é a metade
Que faltava para luta...
O homem não quer objetivar somente o seu amor
Mas também a democracia operária
Pois ele carregava em suas costas
O compromisso
Do direito de todos
Amarem
Como ele amou
De todos viverem
Iguais ou melhores de como ele viveu
O homem carrega na sua vida
A paixão pelo outro
E carregaria até a sua morte
Ideais de emancipação
A unidade não brota somente
No asfalto em que pisa o peão
A unidade que o homem queria
Começava no coração
Depois ia
Para os livros de teoria...
Mas nenhuma revolução
Para ele, se materializaria
Se ele não tivesse
Como companhia,
Ela,
A Artilharia da nova noção
Do amar.
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