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O ciberespaço, sua dimensão desigual e os regimes de segurança
Friedrich Maier

Aconteceu na sexta-feira (12) mais um ataque cibernético que infectou, ainda com informações preliminares, mais de 150.000 computadores ao redor do globo, paralisando parte do sistema de saúde nacional britânico. Dessa vez, o ataque foi a partir de um vírus do tipo ransomware que “sequestra” os dados de um computador, criptografando-os, para depois cobrar um “resgate” pela liberação dos mesmos.

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Não é um acontecimento inédito. Ataques cibernéticos acontecem diariamente com alvos múltiplos, desde usuários individuais, empresas e até mesmo governos. Cabe recordar que o resultado das eleições dos Estados Unidos da América (EUA) ainda estão sob polêmica, visto a interferência de hackers na liberação ao público de uma série de e-mails do alto comitê eleitoral de Hillary Clinton. Fato que revelou a fragilidade da democracia estadunidense diante das “ameaças do ciberespaço”. É importante lembrar também, em 2010, o vírus Stuxnet que danificou uma série de centrífugas do programa nuclear iraniano em 2010; suspeita-se, inclusive, sua origem israelense com auxílio dos EUA.

O ataque dessa sexta, todavia, guarda uma peculiaridade. O grupo de hackers que reivindicou o ataque, Shadow Brokers, afirma ter roubado sofisticadas ferramentas digitais numa ação contra a Agência Nacional de Segurança (NSA) dos EUA (mesma agência para a qual Edward Snowden prestava serviços). Tanto o governo desse país, quanto a NSA ainda não se manifestaram sobre os ataques e sobre a reivindicação.

Apesar disso, é inegável que os países centrais do capitalismo global já desenvolvem há anos capacidades para uma futura guerra cibernética. Muitos exércitos já possuem batalhões que, ao invés de atuarem com metralhadores e mísseis, utilizam o poder dos bits e a velocidade da luz por detrás de teclados e mouses para aplicar danos e principalmente espionagem.

A temática de conflitos cibernéticos parece vinda dos filmes de ficção científica para a realidade do cotidiano. Aqui, a principal vulnerabilidade é a dependência dos sistemas eletrônicos de comando e controle (SCADA), cruciais em muitos pontos das sociedades dos Estados de capitalismo avançado.

Todavia, não podemos nos enganar com a aparente “aldeia global conectada” que a Internet nos apresenta. Em verdade, o mundo cibernético – assim como o mundo capitalista que o cria – é intrinsecamente desigual: existem as zonas dos países centrais, locais de nascimento das gigantes Alphabet (Google), Facebook, Microsoft, Apple, onde a fibra ótica produz os efeitos de uma “economia da informação” e, ao mesmo tempo, existem locais obscuros, sem conectividade na periferia. Cabe lembrar que quase dois terços do planeta ainda não tem acesso à internet.
Assim, os ataques cibernéticos, que ameaçam as economias altamente desenvolvidas das nações centrais do capitalismo global, emergem como a contradição que vem da liderança nesse novo ambiente de acumulação capitalista e desenvolvimento tecnológico. Sem dúvida, os próximos anos contemplarão um novo regime de segurança e securitização do mundo cibernético.

Regime, que assim como todos os outros regimes de segurança, expressará os interesses dessas mesmas nações centrais, criando mais um laço de dependência e subordinação dos países periféricos para com o centro do sistema capitalista. Para além das esperanças que a Internet engendrou no início do século XXI, está o interesse de grandes corporações que utilizam da nova commoditie da vez – a informação – para obter altos lucros.

Nesse panorama, o ciberespaço, que emergiu principalmente nas décadas de 80 e 90 com a bandeira libertária cyberpunk, se militariza cada vez mais. Os choques de interesses imperialistas se transferem ao ciberespaço. Não devemos nos esquecer que a rede já mudou muito com a popularização do e-commerce. Resta aguardarmos os movimentos dos governos, que não tardarão; e também, às surpresas que os grupos de hackers podem trazer.

 
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