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ANÁLISE
Primeiras reflexões sobre a conjuntura e a situação com o crescente "tempo Lula"
Leandro Lanfredi
Rio de Janeiro | @leandrolanfrdi

Como se a política girasse em torno de sentenças e liminares e das ações de "grandes homens" por fora de suas bases reais e materiais de poder, anunciou-se por anos o "embate" do século entre Lula e Moro. Não foi bem o acontecido. Houve retórica de par em par mas nenhuma prisão e nenhuma desmoralização definitiva. Lula emerge fortalecido do embate. Como? E com quais implicações na situação política do país? E qual a implicação do dia de ontem na luta dos trabalhadores contra Temer e as reformas?

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A resposta de Lula no discurso depois do inquérito já indica o curso. Nenhuma menção às reformas, à greve geral, ao ato em Brasília convocado. Lula prepara-se para a presidência da República como alternativa de "todos" de "consertar o país" e não dos trabalhadores vitoriosos que derrubem as reformas e Temer com suas ações. A luta de classes fortaleceu Lula ao aumentar as indefinições de um país em prolongada crise política, econômica e social. O inverso não é verdadeiro, Lula com sua reedição de governar conciliando com os empresários, junto à direita e à oligarquia (ou existe um termo mais amigável para Renan?) é contrário aos interesses dos trabalhadores. O "tempo Lula" está separado e, em certo sentido oposto, ao "tempo da luta contra as reformas e Temer". O "tempo Lula" promete frutos eleitorais - se a justiça permitir - mas não resolverá até o fim uma crise duradoura no país.

Quem sai fortalecido de ontem?

Percorrendo a grande mídia e, alternativamente a mídia ligada ao PT, tem-se leituras muito discrepantes de quem emergiu vencedor do embate. É tempo de "pós-verdade" e talvez até de "pós-acusação" onde não são necessárias provas, mas somente convicções, mas o ocorrido ontem não depende somente do ponto de vista de narrativa e dos recursos financeiros investidos para a difusão dos "fatos" mas também de como eles casam com a percepção das massas e como se encaixam com fatores reais de poder.

Prevalece na mídia impressa e nas análises uma visão de que Lula se esquivou de responder as perguntas e assim, alegam, mostraria a debilidade da defesa petista. Na mídia ligada ao PT prevalece o relato oposto, Lula "triturou" Moro ao exigir provas de propriedade que o juiz treinado no Departamento de Estado Americano não pode oferecer, e também em suas extensas diatribres políticas, agressivas na forma e defensivas na localização estratégica.

A sentença judicial pouco tem a ver com evidências ou com leis. Essas são feitas, refeitas, rasgadas conforme a conveniência, seja por Moro, seja pelo STF. Talvez Moro sentencie Lula mesmo sem evidências, utilizando-se de teorias reacionárias como a do "domínio do fato", onde se pressupõe que o acusado sabe de algo e o ônus da prova recai à defesa e não a acusação, subvertendo conquistas civilizatórias do final da idade média. Condenar Lula sem provas contundentes é um "ataque fraco" que coloca em risco a credibilidade da justiça e a estabilidade política do país. A justiça precisa ter uma aura de imparcialidade e dia-a-dia Moro, o MPF e todo o judiciário vem perdendo essa aura, proibindo manifestações, acusando sem provas formais.

A crise do sistema político começa a atingir o judiciário

Essa percepção de que a justiça não é justa começa a combinar-se com a percepção de que são todos "farinha do mesmo saco". Não só os políticos, mas crescentemente o próprio judiciário entra nesse bojo. Eis aí um dos motivos do fortalecimento de Lula, entre as denúncias ouvidas todos os dias nos telejornais, já "precificadas" como dizem em "economês", e todo um show ontem armados pela mídia e por Moro apareceram "fatos alternativos" que aumentam essa percepção, que fortalece Lula como alternativa de manutenção de um regime político desgastado e com suas bases afetadas.

Dia-a-dia o judiciário, antes erguido como árbitro da política nacional, vira mais um agente político e um agente rachado internamente entre aqueles pró-Curitba e aqueles defensores da "casta política". Janot e Mendes são a expressão máxima dessa fratura e divisões no regime entrando para dentro dos tribunais.

Entrada em cena da classe trabalhadora e "tempos" na política nacional

O consenso golpista entre mídia, Lava Jato, tucanos, Temer, maioria do empresariado se desfez pouco depois do impeachment.

O que fazer com a crise política? Não é possível nem jogar fora a Lava Jato e arriscar ainda mais a percepção de corrupção, nem pode-se deixa-la indefinidamente sangrando os políticos e as empresas, até mesmo o agronegócio como fez a operação "Carne Fraca". Assim que vemos mais editoriais da grande mídia criticando abusos e os messianismos dos procuradores, dia 10 foi a vez do Estadão, dia 11 da Folha. Algumas mostras das divisões e dos jogos políticos onde o que menos importa é o combate à corrupção.

A essa divisão sobre quem sacrificar e o que mudar no regime político se soma à crescente divisão sobre as reformas. Diariamente Temer, o mercado financeiro e o Estado de São Paulo contam os possíveis votos dos deputados na reforma da previdência. O placar de hoje (11/05) publicado no jornal paulista, mesmo se considerados que todos "indecisos" virarem a favor, fica quase 30 votos abaixo do necessário.

A pergunta do cafézinho no planalto central é quem resolverá se manter no barco de Temer plenamente? E a qual preço? 80% do eleitorado é contra as reformas e os trabalhadores entraram em cena primeiro no dia 15 de março e, com maior força no dia 28 de Abril. Temer age para "comprar" esse apoio. Cargos, dinheiro para a mídia. Tem conseguido dar passos para manter seu cronograma. Mas mostra grandes debilidades. Essas debilidades tem sido habilmente capitaneadas por Lula construindo sua candidatura. Eis aí outro motivo de ontem emergir um "tempo Lula" fortalecido frente a Moro, fortalecido com a maior divisão dos de cima com ação operária do dia 28 de abril.

Palco de reviravoltas políticas diárias o país vê variados atores entrarem em cena e ganharem o centro do palco político com suas agendas e promessas de salvação.

Lula, Moro, STF, Temer em sucessões e combinações diferentes. O dia 28 marcou a entrada de um novo e mais subversivo ator: os trabalhadores. As centrais sindicais ainda não marcaram nova data de greve geral, mesmo com Temer prometendo acelerar as reformas. Foi decidido Ocupar Brasília dia 24. Lula sequer mencionou essas ações no seu discurso de ontem. Seu "tempo" corre em separado do tempo para a luta da classe trabalhadora. E isso não é novidade. Prepara-se para ser conduzido ao poder como alternativa para manutenção do statuos quo.

Temer tem seu tempo para tentar impor os ataques e manter seu governo. O PSDB e seu arquipelágo de caciques procura um tempo e alguma intervenção divina que abafe Doria e ajude algum deles. A Lava Jato procura seu tempo. Janot tem um tempo para impor seu sucessor nas eleições do MPF. E cada ator tem seu tempo, seus interesses particulares e respostas pouco hegemônicas sobre o que fazer com o conjunto.

Lula é o nome mais popular do velho regime em crise para buscar sua própria salvação, mas um eventual novo governo Lula também não teria facilidade para estancar a crise nacional. Como pacificaria a classe média "In Moro we Trutst" e a nova direita ávida por um Doria, Bolsonaro? Por outro lado como conteria as aspirações dos trabalhadores se a velha base para hegemonia de seu governo não é possível reproduzir em tempos de crise? Ou de onde criaria bases para expansão de salários para expandir o crédito sem afetar lucros ainda maiores? Como faria com as empresas "campeãs nacionais" profundamente golpeadas pela Lava Jato? Por qual caminho o Brasil re-emergeria no plano mundial em um mundo de crescentes instabilidades? Os fortalecimentos na conjuntura não parecem resolver o problema na situação.

Entre os muitos tempos na política nacional os trabalhadores precisam impor o seu. Ele é da luta consequente pela derrubada de todas as reformas e de Temer, da construção de uma nova geral até esses objetivos. Fazendo isso será possível não somente derrotar reformas, um judiciário autoritário, mas superar a velha conciliação de classes petista.

 
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