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VERÔNICA BOLINA
Transsexual negra torturada pela PM é inocentada após dois anos
Virgínia Guitzel
Travesti, trabalhadora da educação e estudante da UFABC

Apesar de cada vez mais, a grande mídia ter incorporado o tema de gênero na sua agenda e o aumento nada comparável a aparição de mulheres, homens trans e travestis artistas na televisão, nas revistas e nas propagandas comerciais, o escandaloso caso de Verônica Bolina foi apagado como é a realidade das massas transfemininas-masculinas negras no nosso país.

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Há dois anos, Verônica Bolina ganhava as redes sociais a partir das fotos vazadas propositalmente pela Policia Militar de São Paulo que comemoravam a escandalosa tortura contra uma mulher trans negra. O movimento transfeminista conseguiu organizar 19 mil apoiadores da campanha "Somos todas Verônica" dando visibilidade para a realidade de milhares de mulheres negras, que vivem de castigos secretos fruto da sociedade capitalista, patriarcal e transfóbica.

Desde este caso, e a terrível morte de Laura Vermont, a realidade antes apagada e escondida da profunda situação de violência e marginalidade, começou a ganhar espaço nos debates da esquerda e também dos movimentos sociais. Nós do Esquerda Diário colocamos nossas forças, ainda no começo deste projeto de um jornalismo dos oprimidos e dos trabalhadores, para reivindicar que a cada Verônica deveríamos construir um novo Stonewall.

Nesta semana, há dois anos deste caso, a jovem Verônica de 27 anos, foi solta pela Justiça de São Paulo, inocentada de tentativa de homicídio e outras quatro acusações. Segundo o G1, "Verônica passou por um exame de sanidade mental que a considerou "absolutamente inimputável" quando cometeu os crimes, ou seja, ela não tinha consciência do que estava fazendo e, por esse motivo, não pode responder criminalmente por seus atos". O jornal ainda utiliza o termo incapaz entre aspas e revela que ainda hoje tentam esconder a violência sofrida pela transsexual.

Na época, a corregedoria havia informado que não foi possível identificar o responsável por tirar fotos dela e espalhá-las na web e por isso, como de costume, foi arquivado o caso e os policiais seguiram impunes como na maioria dos casos de assassinatos da juventude negra e das vítimas da transfobia.

Porque Verônica e Laura não estão na agenda das mídias?

Quando Verônica foi presa, as redes sociais se tornaram uma verdadeira guerra de informações. A polícia e a mídia produziram todo tipo de campanha reacionária buscando consolidar uma opinião pública transfóbica, que garantisse primeiro esconder e depois justificar as profundas agressões sofridas contra uma travesti e negra. Mas hoje, 2 anos após o crime, porque a Globo e as demais mídias quando falam sobre a população trans, não citam este caso para debater a situação das mulheres trans e travestis no Brasil?

Em primeiro lugar, é preciso reafirmar que Verônica Bolina foi quem deu visibilidade ao movimento transfeminista e de sua profunda batalha pelo direito a vida e a dignidade das pessoas trans. Este caso que escandalizou as redes sociais, demonstrou que a justiça, a polícia e o Estado atuam contra os direitos mais elementares da população trans. Mas este caso contrasta muito com a lacração promovida nos comerciais televisivos e com a visibilidade positiva que as mídias vem dando, ainda que de maneira progressiva contra a violência, mas sem apontar seus verdadeiros responsáveis.

(Performance Artística de Denúncia da violência LGBTfobica e o transfemicidio)

A questão que se revela daí, é que as vitórias táticas da visibilidade alcançadas pelo movimento trans no último período que se somam as tristes e arrepiantes situações de violência e assassinatos, geralmente filmados e divulgados como o caso de Dandara, não questionaram a raiz do problema, mas seus sintomas. A longa cadeia de violência sofrida pela população trans inicia-se no nascimento com a compulsória norma de gênero definida pelo órgão genital, se arrasta nos primeiros anos da escola e dentro das casas onde a família recusa a transsexualidade e se perpetua na marginalização do mercado de trabalho, na burocracia para alcançar direitos básicos como a mudança do nome de registro, o atendimento para a hormonização (e a falta de estudos sobre os efeitos colaterais destes medicamentos produzidos para corpos cis) e cirurgias à depender da decisão da pessoa trans produzindo diversas doenças psicológicas até que outro individuo ou mesmo a polícia, como nos casos de Laura e Verônica, se responsabilize pela morte física desta população.

Não se fala sobre Verônica nas grandes mídias, porque seu caso escancara que o capitalismo e todas as suas instituições: polícia, justiça, igreja, escola, família são pilares desta opressão que não podem ser anuladas somente pela via dos avanços culturais ou da visibilidade de artistas trans. Pelo contrário, estes casos demonstram a concretude de que sem modificar radicalmente as instituições não é possível se garantir condições materiais para colocar um fim na transfobia.

Por um Plano de Emergência de Combate ao Transfeminicidio e a violência LGBTfobica

No momento em que Verônica Bolina foi presa, o movimento LGBT e transfeminista se dividiu. Enquanto todos denunciam a tortura e a violência sofrida por esta mulher, alguns sentenciavam que ela deveria ser presa "como qualquer pessoa que comete um crime". Nós do Esquerda Diário questionávamos fortemente este pensamento, pois partia de uma igualdade entre as pessoas trans e pessoas cis (que se reconhecem de acordo com a norma de gênero estabelecida pela genitália) que nunca existiu no capitalismo.

Se por um lado, algumas leis foram abrangendo as pessoas trans como o caso da Lei Maria da Penha e a Lei do Feminicidio, todavia não se existe uma única lei que garanta o direito a identidade de gênero, como o é na Argentina. A retira do debate de gênero das escolas tão defendida pela direita golpista e o veto promovido pela ex-Presidente Dilma ao Kit-Antihomofobia demonstram que desde as escolas não haverá nenhuma promoção de direitos sociais para as pessoas trans. Se hoje a própria polícia teve de reconhecer o estado incapaz de Verônica Bolina o faz porque não se pode esconder os danos psicológicos produzidos por esta cadeia de violência.

Por isso, seguimos defendendo um Plano de Emergência de Combate ao transfeminicidio e a violência LGBTfobica com 4 medidas que questionem as condições materiais de miséria, marginalidade e violência institucional que perpetuam a violência levando ao último elo do transfeminicidio e nas agressões físicas.

Exigimos retratação do Estado Brasileiro de ter mantido Verônica Bolina dois anos presa para abafar o escandaloso caso de tortura!
Investigação popular e Prisão dos policiais envolvidos na tortura!
Plano de Emergência de Combate ao Transfeminicidio e Violência LGBTfobica JÁ!

 
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