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TEORIA QUEER
Movimento Queer e a luta de classes (Parte 1)
Verónica Landa
Àngels Vilaseca

Durante o mês de Maio em Barcelona foi realizado um “Seminário Feminista” em que as mulheres do Pão e Rosas fizeram uma exposição a partir do marxismo sobre a teoria Queer e a luta de classes.

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Libertação sexual sem luta de classes?

Em uma sociedade hiperssexualizada como a nossa – sexualidade exposta no cinema, na educação, no entretenimento, lazer, etc. – é possível acreditar que vivemos em uma época de liberdade sexual. Mas a realidade é de milhões de mulheres que continuam sem ter plena liberdade para decidir sobre seus próprios corpos por vários motivos. Um deles, e o mais grave nessa cadeia de opressões, é quando “sequestram os corpos” das mulheres através das redes de tráfico, as enganando com o objetivo de exploração sexual. O feminicídio é o fim desta longa cadeia. Ou é o mais denunciado na opressão cotidiana, quando se impõe padrões de beleza impossíveis que provocam doenças e inclusive a morte. As pessoas LGBTI também continuam sofrendo estigmatização, discriminação e perseguição – em alguns países sofrendo com prisão e assassinatos.

O sistema capitalista continua se apoiando na estrutura da família tradicional e na religião para legitimar e reproduzir preconceitos misóginos, sexistas, homofóbicos e xenófobos. Os valores da família tradicional, ligado ao conservadorismo religioso, e que se expressa diariamente através da educação, são reproduzidos continuamente nos meios de comunicação, na publicidade e na literatura que, sob a imagem de uma sexualidade extremamente limitada e heterossexual, estigmatizam as múltiplas formas de prazer.

Toda a sexualidade humana é privada de liberdade: quem “cumpre” com a heteronormatividade também não escapa. Seus corpos estão submetidos a extenuantes jornadas de trabalho, estão sujeitos a modelos estereotipados do masculino e feminino e recebem uma forte pressão social se não se adaptam às normas pré-estabelecidas, por exemplo, não formalizando o casal heterossexual ou decidindo não ter filhos. Ainda assim, as mulheres e pessoas que não cumprem com a sexualidade dominante hegemônica são as que mais sofrem opressão e repressão.

Trajetória dos movimentos pela libertação sexual

Nos anos 60, em um contexto de radicalização política – manifestações contra a Guerra do Vietnã, o Maio Francês, a Primavera de Praga e os cordões industriais chilenos, por exemplo – os movimentos de mulheres e pela libertação sexual conquistaram reformas e ganharam reconhecimento. Além disso, questionavam os valores tradicionais, a cultura e as instituições capitalistas.

É importante ressaltar toda a repressão exercida sob a comunidade LGBTI pela sociedade e instituições capitalistas. As batidas nos bares se somava com a estigmatização e patologização. Em junho de 1969 em um bairro Nova Iorquino, gritaram “basta!” Basta de espancamentos, de humilhações, de perseguição policial, de discriminação no trabalho... Stonewall nos deixou muito mais que o Dia de Orgulho LGBTI. Deixou uma base para que se constituísse a Frente de Libertação Gay, onde se reuniram todas as organizações de gays, lésbicas e trans dos Estados Unidos.

Este fenômeno ultrapassou fronteiras e foi criado em muitos países da América Latina, Espanha e França. Foi um movimento muito progressivo porque não somente questionava a discriminação da comunidade LGBTI, mas também a estigmatização do prazer sexual. Graças a luta e mobilização, o movimento pela libertação sexual conseguiu, dentre outras coisas, que a homossexualidade fosse descriminalizada na maioria dos países ocidentais e que desaparecesse nos manuais de diagnóstico de doenças mentais.

Nos anos 70, a conquista de alguns direitos foi acompanhada pelo desemprego e a maior precarização do trabalho, sendo então, um momento de retrocesso para os movimentos sociais. Foi incentivado uma maior institucionalização, cooptação, fragmentação e despolitização. A “conquista” do casamento igualitário foi fortemente criticado por amplos setores da comunidade LGBTI como mostra Andrea D’Atri no Dossiê Pecados & Capitais.

Dentro do próprio movimento surgiram discussões sobre a identidade sexual, já que muitos setores não se sentiam representados com a centralidade nos gays, que não consideravam os graves problemas da grande maioria desse coletivo: mulheres, imigrantes, trans, pobres e trabalhadores ou dos países não ocidentais. Ao invés de buscar a unidade com base em uma perspectiva política que leve em conta os problemas da maioria oprimida, o movimento eclodiu em múltiplas identidades na busca do “eu”.

Hoje vemos como a origem combativa e de questionamento radical das barricadas de Stonewall é invisibilizada pelas paradas de orgulho gay. Paralelamente, os lobby gay atuam sem ter como interesse outra coisa a não ser seus interesses econômicos, os que se relacionam com o chamado “capitalismo rosa”. O último caso foi entre os organizadores do “Orgulho Madri”, que chamavam a toda a comunidade LGBTI de Madri a votar na reacionária e direitista do Partido Popular (PP) Esperança Aguirre, sem importar que nunca tenha se pronunciado contra a discriminação e as agressões homofóbicas.

Em uma segunda parte continuaremos nossas reflexões sobre Judith Butler e a Teoria Queer, o marxismo e a libertação sexual.

Leia a parte II clicando aqui.

Tradução: Ana Fulfaro

 
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