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ELEIÇÕES DO DCE NA UNB
Por que se aliar com a UJS não é o caminho para derrotar a direita na UnB?
Odete Assis
Mestranda em Literatura Brasileira na UFMG

Nos últimos dias, o debate sobre as eleições do DCE da UnB tem sido parte das discussões de grande parte dos jovens de esquerda em nosso país. Nesse artigo pretendemos apresentar uma visão diferente da que a maioria da esquerda vem tendo, ao comemorarem a vitória da chapa Todas as Vozes – composta por militantes do PSB, PT, PCdoB e organizações de esquerda como Juntos, Rua e Mais – como fruto de uma suposta unidade da “esquerda” contra a direita do MBL.

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Em primeiro lugar, temos que considerar o cenário em que acontecem as eleições na Universidade de Brasília. Há alguns anos o Diretório Central dos Estudantes vem sendo dirigido por setores da uma direita reacionária e neoliberal que apoiou o golpe institucional e todos os ataques de Temer, que defende o policiamento ostensivo na universidade, a privatização e a terceirização. Após a consolidação do golpe institucional, um clima de muita politização passou a tomar conta da universidade. De um lado, parte dos estudantes ocuparam a reitoria contra a PEC do fim do mundo, confluindo com a onda de ocupações que tomou conta do país. Do outro, o DCE – dirigido por esses setores da direita – atuou contra os estudantes em luta e a favor da implementação dos ataques do governo golpista. Ainda que o processo de luta tenha se encerrado, a intensa politização gerada por esse momento não se acabou, e para entender o clima que perpassa a universidade nesse momento é preciso levar em conta essa questão.

Quem é a chapa da direita que dirigia o DCE?

A chapa Aliança pela Liberdade era composta pelos setores da direita e do MBL, que estavam há cerca de cinco anos na gestão do DCE. Uma chapa que tinha em seu programa a defesa de um projeto neoliberal de universidade, que paralisava os estudantes, não só facilitando como diretamente apoiando a implementação de diversos ataques contra a juventude e os trabalhadores.

Diversos setores vêm dizendo que a aliança que se estabeleceu para essa eleição de DCE era parte de uma política necessária de frente única contra a direita, sendo que alguns chegam a classificar o MBL como fascista. Antes de colocar a diferenciação a respeito de como os revolucionários encaram a discussão de frente eleitoral e frente única, primeiro nos parece necessário refletir sobre quem é o MBL e qual a política necessária para combatê-lo.

Está claro que as eleições de entidades estudantis são diferentes das eleições burguesas. Dizemos o mesmo em relação às eleições de entidades operárias, em que contra chapas abertamente pró-patronais não está excluída a hipótese, a depender da situação concreta, de alianças com organizações reformistas (trata-se de um enfrentamento de classe no local de trabalho). O que é diferente no movimento estudantil, justamente por que esse tem em sua composição representantes das diversas classes sociais. Por isso a disputa programática na universidade ganha uma importância ainda mais decisiva, buscando forjar uma fração pró-operária e combativa no movimento estudantil, que possa apontar para a luta por uma universidade a serviço da massa trabalhadora.

Se os companheiros caracterizam o MBL como uma organização “fascista”, melhor forma para combatê-la é com os métodos da frente única na ação. Não apenas por uma disputa eleitoral no DCE contra o MBL, mas por uma organização prática para enfrentar o fascismo e seus métodos. Somos totalmente a favor de travar acordos práticos de ação e de autodefesa contra as provocações dessa direita que podem perfeitamente envolver partidos como o PT ou PCdoB, entre outros.

Infelizmente não se trata disso na UnB, em que MAIS, Rua, Juntos e outras organizações da esquerda cumprem o triste papel de apêndice de uma chapa dominada pelo conciliacionismo petista, sem nada a ver com a ação. Isto é assim porque se em geral as coalizões com organizações burocráticas sempre os fortalecem em detrimento dos revolucionários, a tática da Frente Única, cujo terreno é a luta concreta de massas, tem por função o oposto: fortalecer os revolucionários às custas dos reformistas.

Frente Única e Frente Político-Eleitoral

A tática da Frente Única operária foi concebida pelos revolucionários para a intervenção de massas na luta de classes, não para eleições. Esta aplicação da tática da frente única por objetivos práticos de ação teve sua origem e significado para a III Internacional e também para Trotsky, que a defendia sempre em íntima conexão com a mais clara delimitação política com as organizações reformistas (políticas e sindicais) do movimento operário.

A princípios dos anos 30, Trotsky assinalava sobre a Frente Única, no contexto da luta contra o fascismo na Alemanha: “Os acordos eleitorais, as negociatas parlamentares concluídas entre o partido revolucionário e a socialdemocracia reformista costumam servir, regra geral, à segunda. Um acordo prático frente a ações de massas, por objetivos concretos de luta, se faz sempre em proveito do partido revolucionário”. Como se não bastasse, remarcava “Nenhuma plataforma comum com a socialdemocracia ou os dirigentes dos sindicatos alemães, nenhuma publicação, nenhuma bandeira, nenhum cartaz em comum! Golpear juntos, marchar separados! Colocar-se em acordo unicamente sobre como golpear, quem golpear e quando golpear” ("Por uma frente única operária contra o fascismo", 1931).

Ou seja, para Trotsky, o terreno propício para a tática da Frente Única não são os acordos eleitorais, mas as “ações de massas por objetivos de luta”. Diferencia taxativamente ambos os terrenos, eleitoral e da luta de classes extraparlamentar, seguindo a tradição da III Internacional: “golpear juntos, marchar separados”, o que significa que apesar dessa unidade momentânea, as "bandeiras", posições políticas não se misturam. Uma concepção muito diferente da que se expressou nesse acordo de chapa unitária para o DCE de uma universidade.

Pode uma chapa com PSB, PT e PCdoB ser um instrumento efetivo para organizar os estudantes e combater a direita?

Conforme expressamos no início desse artigo, é preciso levar em conta o cenário que se abre na universidade e em todo o país após a consolidação do golpe institucional. O PT, com o apoio do PCdoB e setores “críticos” como o Levante Popular da Juventude, governou durante anos tendo como seus aliados Cunha, Malafaia, Kátia Abreu e companhia, aplicando diversos ataques contra os trabalhadores e a juventude, abrindo assim o caminho para o fortalecimento dessa direita golpista. Enquanto mantinha sob sua direção burocrática importantes sindicatos, centrais sindicais, centros acadêmicos, DCEs e entidades estudantis, como a UNE. Buscando dessa forma controlar qualquer ação espontânea que pudesse surgir por parte dos trabalhadores e da juventude.

O golpe institucional sem dúvida agudizou a crise que esse partido vinha passando. Mas hoje podemos dizer que nos encontramos em um novo momento dessa crise, onde claramente vemos Lula em primeiro lugar, e a partir disso a tentativa de recompor o PT, o petismo e seus apoiadores críticos no cenário político nacional. Parte dessa recomposição se dá pela estratégia consciente de tentar dividir a sociedade entre a direita e a esquerda, diluindo dessa forma qualquer perspectiva de classe que possa existir. E conseguindo se alçar como o “grande partido da esquerda”, ao qual os outros precisam se aliar para enfrentar essa direita que vem se fortalecendo, enquanto na prática o próprio Lula disse no lançamento do 6º Congresso do PT que o momento não deve ser de contestação, mas de construir essa alternativa eleitoral, enquanto esse partido veio se aliando aos golpistas do PMDB e até PSDB nas câmaras e assembleias legislativas.

Não podemos cair nesse discurso petista, deixando de lado um fundamento básico para todos aqueles que se dizem revolucionários, que é o fato da sociedade capitalista ser divididas entre classes sociais com interesses irreconciliáveis, e não entre direita e esquerda. A estratégia petista de conciliação de classes já se mostrou falida. Acabou levando a consolidação de um golpe institucional em nosso país, cujas consequências estamos vendo com a aprovação de 20 anos de congelamento nos investimentos na saúde e educação, com reforma da previdência, reforma trabalhista, terceirização irrestrita e tantos outros ataques.

Não é possível que a esquerda finja que não vê as diferenças entre uma unidade na ação com um objetivo claro e especifico e uma unidade para a direção de uma entidade estudantil onde o discurso é sobre a necessidade de que essa volte a ser um instrumento para a organização dos estudantes. Será mesmo que os companheiros acreditam que podem retomar o DCE da UnB como uma entidade a serviço desse objetivo se aliando com setores que compõe um partido burguês como PSB, que em diversas cidades, como Campinas, faz frente com a direita para aplicar os ataques? Com o PT, que governa diversas cidades e estados, sendo ele mesmo o responsável direto pela repressão contra aqueles que lutam contra os ataques, como aconteceu com estudantes e professores em Minas Gerais? Com o PCdoB, que se aliou com os golpistas no parlamento e por meio da UJS dirigem há anos a UNE, a maior entidade de juventude do país, de forma absolutamente burocrática? Acham mesmo que com essa política podem fazer com que o movimento estudantil avance para ser um polo de combate efetivo à direita que se fortaleceu? Para nós essa aliança só serve para ajudar a recompor o petismo.

Justamente por que estamos em meio a um momento decisivo, onde está colocada a possibilidade de surgir uma alternativa de esquerda independente do petismo, é que nos parece ainda mais grave essa tática de alianças eleitorais sem princípios em uma entidade estudantil. Para que essa alternativa possa surgir e conquistar amplos setores de jovens e trabalhadores para um projeto de sociedade que rume a posições anticapitalistas e revolucionárias, ela precisa aparecer como uma possibilidade concreta nesse momento, em cada batalha que travamos contra as reformas de Temer e em combate com a direita. Por esse motivo, nos parece absolutamente equivocado achar que uma chapa com o petismo pode fortalecer essa posição. Quando na verdade só estão trabalhando para que este se recomponha entre os jovens lutadores, sob a máscara de oposição ao governo golpista de Temer. Toda a esquerda que acriticamente se coloca com o discurso de unidade, sem se delimitar claramente do PT e de sua estratégia de conciliação de classes, acaba mesmo que indiretamente trabalhando para que esse partido e sua estratégia de Lula 2018 se fortaleça como a grande resposta para a crise política que atravessa o país. Seja numa eleição de DCE, ou num combate na luta de classes.

A tarefa colocada para a esquerda combativa e anticapitalista nesse momento é preparar uma greve geral efetiva, organizando em cada universidade, em cada escola, em cada fábrica, comitês de luta contra os ataques de Temer, que possibilitem que sejam os trabalhadores e a juventude os principais sujeitos na preparação para o dia 28 de abril. Podemos derrotar completamente todos esses ataques já aprovados ou em andamento e com a força da nossa mobilização dar uma resposta política à crise nacional. Por isso a esquerda precisa assumir um papel fundamental, dando um grande exemplo de luta para que a paralisação do dia 28 seja efetiva e para começar a oferecer um programa alternativo de resposta à crise desde agora.

Abrimos esse debate com todos os setores da esquerda, especialmente com os militantes do MAIS e com todos os jovens, que frente à profunda crise política, econômica e social que estamos passando, buscam por uma alternativa anticapitalista e revolucionária, por que acreditamos que a luta pela retomada das nossas entidades estudantis, como instrumento de luta e auto-organização, não pode nunca ser vista como uma luta descolada da batalha pela transformação profunda e radical dessa sociedade baseada na exploração e opressão de milhares de trabalhadores, jovens, mulheres, negros e LGBTs.

 
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