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A 96 anos de seu assassinato
Rosa Luxemburgo: lançar-se para mudar o curso da história
Cecilia Feijoo
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A ala esquerda da socialdemocracia alemã

Quando Rosa Luxemburgo chegou à Alemanha era uma militante desconhecida da socialdemocracia polonesa. Fugindo da repressão do tzarismo sobre o movimento revolucionário daquele país, atravessou Paris e permaneceu, desde 1898, em Berlim, aconselhada por seu camarada Leo Jogiches – que queria utilizar os recursos legais e ilegais da socialdemocracia alemã para fortalecer o socialismo polonês. Diferente de outros exilados, Luxemburgo não concentrou suas tarefas na política polonesa ou russa, mas se dedicou aos principais debates da Internacional. Na série de cartas que Luxemburgo enviou a seu companheiro Jogiches, pode-se ver o desnorteamento e a desconfiança que o partido alemão lhe causa desde o primeiro momento.
Quando deixou de ser uma “desconhecida” – estava no centro do debate contra o socialdemocrata Bernstein e o oportunismo – o “êxito” obtido e as ofertas que recebeu dos socialistas alemães não a fizeram retroceder “nem um centímetro meu senso crítico, nem me faz sorrir”. Era consciente do temor que sua figura despertava na “família” – assim chamava os dirigentes socialistas alemães – não “apenas entre os adversários”, mas também “no fundo da alma, entre os aliados (Bebel, Kautsky etc.). Ela escreveu isto em 1899!

Discutia amistosamente com um de seus “aliados” nessa época, Kautsky, rechaçando o esperançoso e tranquilizador espírito conformista da socialdemocracia, confrontava contra essa “imagem do mundo” que “representa o homem de tal maneira que sua vontade, sua capacidade e seus conhecimentos terminam sendo supérfluos” e dizia: “creio firmemente na ideia de que seria melhor se lançar nas cataratas do Rin e afundar como uma casca de noz, do que seguir balançando a cabeça sabiamente e deixar que as águas sigam correndo, como o fazem há tempos nossos antepassados e seguirão fazendo quando nosso próprio tempo tenha terminado”. Era melhor se lançar no curso da história do que esperar passivamente que o socialismo “nascesse” do progresso sindical e político, e de fato esse “progresso” se tornou o seu contrário, a catástrofe da guerra.

A ruptura

Consciente das contradições do “espírito” socialdemocrata, a fratura que ocorreu durante a Primeira Guerra não foi uma eventualidade para Luxemburgo, mas sim o aprofundamento de uma fenda que era teórica, sensível e prática. A socialdemocracia alemã, depois de apoiar a guerra e diante do fracasso das classes dominantes nessa empreitada, colocou sua habilidade à disposição para conter a revolução de 1918 nos marcos de uma república. O passo seguinte – aprendido das lições dos marxistas em junho de 1848 e julho de 1917 como indicava Trotsky – foi incitar os operários e soldados berlinenses a um levantamento prematuro: as jornadas de janeiro de 1919. O Partido Comunista Alemão (Espartaquista), recentemente fundado por Rosa e Liebknecht, era débil. A socialdemocracia aproveitou esta debilidade e se fez artífice da contrarrevolução burguesa, e em 15 de janeiro assassinou através de seus capangas Rosa Luxemburgo, Karl Liebknecht, Leo Jogiches e vários militantes comunistas.

O legado de Rosa

Enquanto na Alemanha sua figura continua sendo aproveitada atualmente pela formação socialdemocrata Die Linke, encabeçada por Oskar Lafontaine, uma Europa atravessada pelas contradições e padecimentos da crise econômica olha os escritos de Luxemburgo como uma possível explicação das profundas tendências que crescem nela. Claro que a crise europeia ainda não possui as dimensões que aquela que Rosa antecipou e viveu, mas as consequências das políticas imperialistas na Ásia e África, à flor da pele após o atentado de Charlie Hebdo, junto com a crise social e política, prenunciam tudo, menos um mundo calmo.

Se Luxemburgo nos legou algo foram seus escritos. Utilizou a palavra escrita, uma tradição do marxismo clássico dessas décadas, para propagandear a teoria marxista e a ação revolucionária. Quando publicaram seus artigos que depois seriam reunidos em “Reforma ou Revolução”, Franz Mehring pediu para entrevista-la. Disse que estava “maravilhado” com seu estilo e perguntou qual seria sua próxima “obra teórica”, uma Luxemburgo irônica comentava em uma carta “Que vamos fazer? Evidentemente tenho o aspecto de uma pessoa que deve escrever uma obra importante”, e Mehring não se equivocou. Até agora as obras completas de Luxemburgo haviam aparecido no idioma em que foram escritas, o alemão, publicadas nos anos 1970 pela editorial Dietz Verlang Berlín. Quase meio século depois dessa publicação, estão traduzindo textos importantes de sua biografia intelectual e política para outros idiomas, como o inglês, francês e espanhol. Este fato marca um sintoma importante dos tempos que estamos atravessando.

A editorial inglesa Verso publicou no fim de 2014 o primeiro volume de seus The complete Works of Rosa Luxemburg, dedicado aos escritos econômicos da revolucionária. Enquanto isso, na França, a editorial Agone, junto de um coletivo de trabalho de tendência “libertária” Smolny, publicou em 2014 o tomo IV das Oeuvres completes de Rosa Luxemburg. Os dois primeiros tomos foram dedicados aos trabalhos de economia marxista de Luxemburgo, enquanto os dois últimos volumes compilaram os textos de debate do socialismo francês e os escritos contra a guerra imperialista de 1914 a 1919. Atualmente o editorial IPS Karl Marx está preparando o lançamento de um volume das Obras Escolhidas de Rosa Luxemburgo, que reúne textos inéditos em castelhano sobre a revolução de 1918-19.

Após um grande período de reação ideológica parece renascer um certo interesse acadêmico e político por seus escritos. Isso é uma pequena homenagem à importância de sua figura política e intelectual.

Recomenda-se a leitura de Paul Frölich, Rosa Luxemburg, Edições IPS, 2014.

Também se pode ver o filme de Margarethe von Trotta, Rosa Luxemburgo (1986)

 
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