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VIOLÊNCIA NA USP
A voz das Mulheres sobre a violência do dia 7 de março na USP: M.B., 27 anos, graduanda na USP
Redação

Relato de M.B., 27 anos, graduanda na USP, sobre a violência policial sofrida em 7/3 durante manifestação pacífica na USP.

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A violência institucional praticada pela Universidade de São Paulo em relação às mulheres tem se intensificado em ações cada vez menos veladas, num comunicado agressivo e não dialogado.

Vejo isso diariamente, no processo de desmonte das creches, na permissividade diante de alunos agressores e estupradores (como o atual estudante de Medicina que pode obter o seu diploma e mira na ginecologia como especialização), com o machismo vivido em sala de aula, com o assédio moral sofrido por trabalhadoras e alunas pesquisadoras, com o não atendimento devido, e inclusive barrado, de muitas mães à moradia universitária, entre tantos outros casos.

No ato realizado pela comunidade universitária em função da reunião do C.O., presenciei mais uma vez esta política lamentável. Sobre a reunião que pretendia decidir muito do futuro desta mesma comunidade, não fomos sequer consultados. Para que o pacote de “Parâmetros de Sustentabilidade Econômico-Financeira da USP, um verdadeiro catalisador do processo de precarização da universidade, fosse aprovado, a reitoria optou pelo uso da força.

O ato pacífico, em seu início contava inclusive com crianças e um bebê num carrinho. Presenciei a chegada da tropa de choque no meio da rua em frente à Reitoria, que imediatamente jogou bombas de gás para todos os lados. Seguiram-se também spray de pimenta e balas de borracha, cujo ferimento que provocaram ainda vejo cicatrizar em amigo próximo. A violência foi contra alunas e alunos, trabalhadoras e trabalhadores, professoras e professores e contra o caráter público da universidade.

Pessoalmente, além de toda truculência que presenciei, fui agredida ainda mais fortemente em dois momentos. No primeiro, levei golpes de cacetetes. No segundo, fui cercada por 5 policiais e machucada, sacudida e imobilizada, jogada ao chão. Fizeram manobras em meu peito me parando a respiração, em seguida jogada de bruços agressivamente. Recebi, então, uma pisada de botina violenta no meio das costas, e novamente impedida de respirar. Em seguida me colocaram algemas, torcendo meus braços e me machucando. Me conduziram para dentro da Reitoria (?), onde encontrei, num canto isolado onde não foi permitido chamar nenhum auxílio, mais uma professora da creche, um aluno e um trabalhador “detidos” (além de nós, houveram mais uma trabalhadora, que teve a cabeça inclusive cortada pela agressão e mais dois alunos). Eles tiveram seus celulares confiscados e, o tempo todo, o policial ali presente quis que eu entregasse minha bolsa. Só conseguiu retirá-la de mim ao me colocar dentro da viatura, na parte do fundo. Segui ali com a professora da creche. O carro partiu em altíssima velocidade junto às demais viaturas, que ziguezagueavam pelas ruas da universidade numa espécie de racha sádico, e os PMs riam-se de nós no interior do veículo enquanto nosso corpo se batia contra o carro devido às suas manobras na direção. Levaram-nos ao HU e, após muito tempo, à delegacia, onde permaneci por muitas horas até que, já no início da madrugada fui ao IML fazer o exame de corpo de delito. Minha bolsa só foi devolvida na delegacia após eu comprovar com imagens que estava com ela, pois o policial negava que a tinham levado e que eu trazia comigo nos momentos anteriores.

Assim como eu, houveram muitas outras e outros e penso que o recado foi bem claro, o C.O. não decide senão para os próprios interesses individuais e qualquer fala que se contraponha clamando por seus direitos será silenciada.

O ato foi um dia antes do 8 de Março, dia internacional da Mulher, e o que vi diante de mim foi duma hipocrisia tamanha. Hoje, andando pela universidade, só percebo mais ironia ao ver os “outdoors” da universidade com suas propagandas institucionais falsamente feministas, em que “NA USP AS MULHERES PODEM”.

M.B., 27 anos, graduanda na USP

 
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