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TERCEIRIZAÇÃO
UERJ e terceirização: um exemplo da barbárie
Valdemar Silva
Mestre em Serviço Social - UERJ

Falar de precarização na UERJ tem se tornado um constante pleonasmo, sobretudo quando falamos de terceirização. E nesta semana esse tema ganhou as redes sociais por conta da aprovação da terceirização irrestrita na Câmara dos Deputados. Os liberais comemoraram porque desconhecem o que é trabalhar de forma precária. Comemoram porque talvez nunca tenham passado fome. Comemoraram porque ignoram a barbárie que há por trás de seus lucros.

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Com a aprovação da terceirização irrestrita, os liberais estão comemorando como se os trabalhadores saíssem incrivelmente beneficiados. Como se aumentar a jornada de trabalho; a rotatividade nos subempregos; os acidentes de trabalho e a subtração de direitos trabalhistas fosse um avanço do Brasil. Se falam do avanço das desigualdades sociais e da barbárie, estão certos.

Não sabem como é o trabalho precário e nem querem saber, pois só visam os seus lucros, mesmo que isso custe o sangue e suor dos outros. Mesmo que custe vidas.

Em sua história recente, a UERJ mostrou inúmeros exemplos da verdadeira face do que é a terceirização, sobretudo para o setor mais precarizado da classe trabalhadora: as mulheres negras. O mais marcante é o caso das terceirizadas do setor da limpeza.

Pra quem não sabe, ser terceirizado é não ser contratado diretamente por uma empresa. Ou seja, uma empresa te contrata para prestar serviços para uma outra empresa. Em casos de crise ou falência de ambas, o trabalhador terceirizado não tem à quem recorrer se não à justiça.

As "auxiliares em serviços gerais" que são contratadas para limpar a UERJ, fazem parte dos exemplos do porque devemos dizer não à todo tipo de terceirização do trabalho.

Entre bonanças, negociatas, corrupção e incontáveis irresponsabilidades fiscais para priorizar a burguesia, em 2015 o Estado do Rio de Janeiro dava sinais de uma crise que posteriormente o afundaria e imporia a conta aos trabalhadores.

Os salários das terceirizadas que já são baixos, passaram a atrasar porque o Governo deixou de repassar a verba para o custeio básico da universidade.

A representação sindical dos trabalhadores terceirizados quando não é fantasma, é uma verdadeira máfia.

Na UERJ, quando as terceirizadas começaram a se manifestar fazendo greve, iniciaram-se as perseguições e posteriormente algumas demissões.

Meses depois a crise se agravou, o Estado continuou fazendo isenções fiscais aos burgueses, a UERJ rescindiu o contrato com a empresa que prestava serviços de limpeza no Hospital Universitário Pedro Ernesto, ocasionando mais de 400 demissões de uma só vez. Sem pagar os salários.

A empresa que manteve parte dos seus contratados fazendo a limpeza do campus Maracanã, disse que não poderia pagar porque o Estado não repassou a verba. A Reitoria disse que não tinha nada a ver com essa situação e o Governador... bem, o Governador não disse nada.

E os trabalhadores, como ficam? Com quem ficam? No limbo?

Mais quatro meses se passaram e a outra metade de funcionários dessa empresa, à saber, a Construir, convoca os terceirizados para um evento extraordinário na universidade que mudaria suas vidas radicalmente.

Esse evento ocorreu num dos auditórios da UERJ. Mais de 500 trabalhadores foram convidados à contra gosto, afinal, já amarguravam 6 meses sem salário. Todos tiveram que levar suas carteiras de trabalho. O que aconteceu nesse dia na verdade foi um grande balcão demissões.

Não devemos esquecer desse dia, 1° de junho de 2016: um a um, todos foram convocados em alto e bom som através de um microfone para assinar sua demissão. E pior: sem receber os atrasados. Sem receber o décimo terceiro, e ainda os descontos por causa da greve.

Mas como o descaso com os trabalhadores está no DNA da terceirização, logo outra empresa seria contratada e ninguém mais ouviria falar naquelas mulheres terceirizadas que ousaram fazer greve numa das mais importantes universidades da América Latina. Apesar disso, seus nomes estão marcados na história e não serão esquecidas.

Na volta às aulas da UERJ, após 5 meses de greve em 2016, muitos sabiam que aquele retorno não iria durar por muito tempo. Outra empresa prestadora de serviços de limpeza já havia sido contratada.

A crise do Estado se agravou ainda mais. As novas terceirizadas conheciam o risco de ficar desempregadas, mas mantiveram a esperança, afinal de contas, precisam pagar as contas. Precisam alimentar seus filhos. Precisam se alimentar. Precisam sobreviver num sistema que só se mantém através da exploração.

2017 chega, mas a UERJ não volta. O Governador continua isentando capitalistas de seus impostos, mas jura de pezão junto que não há verba para manter a UERJ. Reclama e diz que a universidade é cara.

Nesse meio tempo, a nova empresa de limpeza, APPA, demitiu seus mais de 300 funcionários terceirizados. Os motivos vocês já conhecem.

Se com a legislação atual a rotatividade de vidas nos subempregos é tão incessante quanto o coração de um beija flor, com a aprovação da terceirização irrestrita, não haverá beija flor pra contar história.

O exemplo das terceirizadas da limpeza é apenas um dentre outros setores na universidade. Aqui não foi citado a área da segurança; da manutenção ou alimentação, por exemplo, que enfrentaram situações igualmente estarrecedoras, e em muitos casos, análogas à escravidão.

Portanto, ao passo que lutamos contra qualquer tipo de terceirização, devemos em primeiro lugar, lutar para que haja a efetivação de todos os trabalhadores terceirizados.

 
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