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NOVELA
A representação do povo negro nas novelas da Globo
Hélio

Autoria de Manoel Carlos e direção geral de Jayme Monjardim, Viver a Vida (2009), exibida no horário das 21h pela Rede Globo, conta a história de Helena” (Taís Araújo), top model renomada que se apaixona e casa com Marcos (José Mayer), um rico empresário.

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“A negação do Brasil - O negro na telenovela brasileira” (2001), livro-documentário do diretor Joel Zito Araújo, analisa o papel da grande mídia, mostrando como é representado o povo negro nas novelas produzidas no Brasil entre 1963 e 1997 e as consequências destas representações nos processos de construção identitárias no pais.

Meu objetivo aqui é seguir este percurso e analisar a representação do povo negro nas novelas produzidas pela Rede Globo entre 1969 e 2015.

A Cabana do Pai Tomás

Escrita por Hedy Maia, Péricles Leal e Walter Negrão, com direção de Fábio Sabag, Daniel Filho, Walter Campos e Régis Cardoso, "A Cabana do Pai Tomás" (Rede Globo), foi ao ar no dia 7 de Julho de 1969, no horário das 19h.

Baseada no romance "Uncle Tom’s Cabin" (1852), de Harriet Beecher Stowe, conta a história do escravo "Tomás", que ao lado da esposa "Cloé", enfrenta os latifundiários escravocratas no sul dos EUA à época da Guerra da Secessão.

"Cloé" foi a primeira protagonista negra da Globo, interpretada por Ruth de Souza, importante atriz negra, que na década de 1940 participou do "Teatro Experimental do Negro", iniciativa histórica de valorização do povo negro através da arte e da cultura. Mas a filial norte-americana da agência de publicidade Colgate-Palmolive, responsável pelo patrocínio das novelas na década de 1960 no Brasil, determinou a escolha do ator branco Sérgio Cardoso para o papel do escravo "Tomás".

Respeitando a exigência dos patrocinadores, foi inaugurado na televisão brasileira o "blackface", muito comum no início do cinema norte-americano, onde os atores brancos eram pintados de preto e usavam perucas. "O negro de alma branca". Bondoso, serviçal e fiel.

Proposta que causou polêmica por parte da imprensa. O ator e dramaturgo Plínio Marcos, em sua coluna "Navalha na Carne", no jornal "Última Hora", liderou uma campanha de repúdio à escolha do ator branco para interpretar um personagem negro. Segundo Plínio Marcos, no artigo "Lincoln só queria a igualdade dos homens" (02/05/1969), "não podemos permitir que no Brasil que a gente ama se faça uma afronta à dignidade humana".

Pecado Capital

No dia 24 de novembro de 1975 às 20h, a Rede Globo levava ao ar o primeiro capítulo da primeira versão da novela "Pecado Capital", escrita por Janet Clair e direção de Daniel Filho.

A novela conta a história de um triângulo amoroso composto por "Carlão" (Francisco Couco), taxista, "Salviano Lisboa" (Lima Duarte), um rico industrial e "Lucinha" (Betty Faria), uma jovem operária que trabalha na empresa de Salviano.

"Vilma" (Débora Duarte), a filha caçula de Salviano, apresenta sintomas de esquizofrenia e crises de agressividade. A jovem é consultada pelo psiquiatra "Percival Garcia", interpretado pelo ator negro Milton Gonçalves.

Nos anos 1950 e 1960 Milton Gonçalves atuou em importantes trabalhos no "Teatro de Arena", com direção de Augusto Boal e José Renato, e no cinema, trabalhou em produções como o "O Grande Momento" (1958), de Roberto Santos e "Macunaíma" (1969), de Joaquim Pedro de Andrade.

Ele, que já havia feito inúmeros papéis de escravo, empregado e capataz na Rede Globo, conta que pediu a Janet Clair um personagem "de gravata", um negro que fosse um profissional de destaque. E a autora criou o "doutor Percival", um psiquiatra negro formado em Harvard, renomada universidade norte-americana. No entanto, o personagem não teve qualquer influência determinante no desenvolvimento da novela, sendo apenas um personagem que serviu de trampolim para outros personagens brancos.

Escrava Isaura

Exibida pela primeira vez na TV Globo em 1976 no horário das 18h, “Escrava Isaura” é uma adaptação de Gilberto Braga do romance homônimo de Bernardo Guimarães (1875).

A novela apresenta a luta abolicionista no Brasil tendo como fio condutor as opressões cometidas por “Leôncio” (Rubens de Falco), um senhor de escravos, contra “Isaura", uma escrava branca, interpretada por Lucélia Santos. A jovem escravizada é apaixonada por “Álvaro” (Edwin Luisi), um jovem abolicionista branco.

A personagem é inocente e consciente de sua época, e para a Família Marinho, a mulher negra representa sexo e inconsciência, por isso escolheram uma atriz branca para interpretar uma escrava. Fortalecendo as imagens racistas da mulher negra sexualizada e irracional, do povo negro sem consciência de sua condição e do "herói branco" que liberta os negros.

Sinhá Moça

"Sinhá Moça" (1986), exibida no horário das 18h é uma adaptação de Benedito Rui Barbosa da obra homônima de Maria Dezzone Pacheco Fernandes, com direção de Jayme Monjardim. A novela se passa em 1886, numa pequena cidade do interior paulista, dois anos depois da promulgação da “Lei Áurea”.

Segundo Joel Zito Araújo, esta novela apresentou um grupo de negros que participam ativamente da luta contra a escravidão, mas é a “Sinhá” (Lucélia Santos), filha de um coronel escravocrata e “Rodolfo” (Marcos Paulo), um republicano abolicionista branco que protagonizam a luta pela libertação dos escravos. Sob o codinome “Irmão do Quilombo”, “Rodolfo” invade as senzalas e liberta os negros entregando-os às associações abolicionistas e quilombos.

Para os Marinhos, o povo negro é incapaz de lutar contra a exploração e a opressão capitalista e precisa de um "salvador branco e corajoso”. O negro é mostrado como fraco por um lado, e por outro, no caso do personagem “Justo Filho” (capitão do mato), interpretado pelo cantor e ator negro Tony Tornado, o negro aparece como interesseiro, traidor e violento.

A Próxima Vítima

Escrita por Silvio de Abreu com direção geral de Jorge Fernando, "A Próxima Vítima" (1995), foi uma novela "das 8" da Rede Globo com enorme audiência. Apresentou em uma de suas principais tramas paralelas uma família negra de classe média machista, homofóbica e antioperária composta pelos personagens "Kleber Noronha" (Antônio Pitanga), um contador de empresas, "Fátima Noronha" (Zezé Motta), secretária executiva e os filhos "Sidney" (Norton Nascimento), gerente de banco, "Jefferson" (Luís Mendes), estudante de direito e "Patrícia" (Camila Pitanga), modelo.

Uma família negra de classe média que, apesar de frequentar espaços brancos e elitizados, vive harmoniosamente no “paraíso da democracia racial”.

Os personagens "Sidney" (Norton Nascimento) e "Carla" (Mila Moreira) dançam numa boate de um bairro nobre da cidade. "Sidney" quer beijar "Carla", uma jovem branca e rica.

(Carla) - Não... Não quero escândalos.
(Sidney) – Por que sou negro?
(Carla) - Não... É porque você é muito bonito, muito gostoso, e eu tenho medo de começar a beijar você e perder a cabeça.

Da Cor do Pecado

“Da Cor do Pecado” (2004), escrita por João Emanuel Carneiro com direção geral de Luiz Enrique Rios. Exibida pela Rede Globo no horário das 19h é a primeira novela contemporânea e urbana da emissora protagonizada por uma atriz negra. A novela conta a história de amor entre “Paco” (Reynaldo Gianecchini) e “Preta de Souza” (Taís Araújo). Ele é um jovem branco e rico e ela uma jovem negra trabalhadora.

Viver a Vida

A cena em que “Teresa” (Lilia Cabral) ofende e agride “Helena” causou indignação. Na semana em que comemorávamos o "Dia da Consciência Negra", a Globo apresentou uma jovem negra vítima de racismo que se ajoelha e pede perdão de forma servil.

Babilônia

Em “Babilônia” (2015), nova novela “das 9” da Globo, escrita por Gilberto Braga com direção de Maria de Médicis. Conta a história de “Teresa” (Camila Pitanga), uma jovem negra trabalhadora que se apaixona por “Vinícius” (Thiago Fragoso), um jovem branco, advogado, rico e defensor dos pobres e oprimidos. A mesma história do "herói branco" que vai salvar o povo negro e pobre.

 
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