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ELEIÇÕES TURQUIA
Erdoğan perdeu a maioria dos votos e o partido pró-curdo entra no parlamento
Baran Serhad

Em 07 de junho, tiveram lugar as eleições parlamentares. O partido governante AKP de Erdogan perdeu a maioria absoluta dos votos, enquanto entrou no parlamento o partido de esquerda pró-curdo, HDP, chamado por alguns de “Podemos” turco.

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Apesar da campanha midiática de Erdogan para introduzir um sistema presidencial e de haver utilizado o aparato estatal e a corrupção, o partido governante AKP (Partido pela Justiça e o Ascenso) perdeu a maioria absoluta depois de 13 anos. Em consequência, a Turquia volta a ter um governo de coalizão, ainda que o AKP não descarte ainda a opção de novas eleições antecipadas.

Segundo os resultados oficiais, quatro partidos conseguiram entrar no parlamento turco. O partido governante neoliberal e autoritário AKP caiu de 49,95% e 341 cadeiras para 40% e 258 cadeiras e perdeu portanto sua maioria absoluta depois de 13 anos de governar sozinho. Para conseguir a maioria seriam necessárias 276 das 550 cadeiras.

O partido burguês kemalista CHP (Partido Popular Republicano) que, durante sua campanha prometeu uma restauração liberal do regime, obteve 25% e 132 cadeiras no parlamento. O partido de direita MHP (Partido do Movimento Nacionalista) aumentou seus votos em comparação com as últimas eleições parlamentares de 2011 em 4 pontos, conseguindo 16% e 80 cadeiras. O fato sem dúvida mais interessante da campanha eleitoral é que o HDP (Partido Democrático dos Povos) conseguiu superar o piso prescritivo de 10% ao obter 13% dos votos e estará representado no parlamento com 80 deputados.

Depois das eleições, o CHP e o HDP voltaram a expressar seu rechaço a uma coalizão com o AKP, enquanto que o MHP se pronunciou contra o sistema presidencial mas não se negou a fazer a coalizão. Pelo contrário, o MHP pretende se coligar com o AKP, mas sob a condição de que o ex-primeiro ministro e atual presidente RECEP, Tayyip Erdogan, não tenha influência nessa coalizão. Isso significaria uma ruptura dentro do AKP, o que seria um passo na sua própria decadência.

Dado que o apoio eleitoral ao AKP se debilitou por seu rumo autoritário, sua corrupção e suas derrotas na política exterior, os outros partidos se distanciam de uma possível coalizão, preparando-se para – em possíveis eleições antecipadas – ganhar mais a base do AKP.

Por outro lado, a opção de uma coalizão entre o CHP, MHP e o HDP parece impossível, o que deixa aberto o cenário de novas eleições. O prazo para formar um governo de coalizão é de 45 dias. Se os partidos não chegam a um acordo, o presidente pode chamar eleições antecipadas.

A entrada do HDP no parlamento é uma conquista democrática contra o governo anti-operário e corrupto do AKP. A juventude de Gezi, muitos trabalhadores, a população curda e outros setores oprimidos votaram no HDP e se referenciaram nele. O piso prescritivo de 10%, uma lei da constituição golpista de 1982, é um muro construído pela burguesia turca para manter a esquerda e os setores oprimidos fora do parlamento. Em um período de avanço do rumo autoritário e neoliberal – que inclui ataques massivos contra a nacionalidade curda, os trabalhadores, as mulheres e a juventude -, o HDP pretende representar esses setores.

A entrada do HDP custou a maioria absoluta ao AKP. Frente a massiva repressão e campanha midiática contra o HDP, sua entrada no parlamento significa um êxito. Justo dois dias antes das eleições, houve um atentado a bomba contra um ato eleitoral do HDP, em Diyarbakir, matando três pessoas e ferindo mais de cem. Mas esse êxito é um resultado de uma tática eleitoralista completamente populista. Na região curda, o HDP apresentou candidatos conservadores e burgueses para influenciar a base do AKP. No resto do estado turco, o HDP apresentou candidatos de esquerda, antigos e feministas para ganhar apoio da base do CHP kemalista e setores de esquerda.

O HDP, comparado por comentaristas europeus com o partido espanhol Podemos, agora tem de provar no parlamento que se oporá verdadeiramente à política autoritária do AKP. Mas se diz querer abolir o piso prescritivo de 10%, a orientação parlamentarista reformista do HDP não poderá brindar uma oposição de verdade contra o autoritarismo de Erdogan. Apenas será possível barrar o rumo autoritário do AKP com uma mobilização das massas nas ruas, em que se coloque fortemente contra o sistema eleitoral antidemocrático, contra a opressão da nacionalidade curda, contra a opressão às mulheres e outras minorias, e com o despertar do jovem proletariado curdo.

Enquanto ainda não são visíveis, há tensões dentro do AKP que podem dar lugar a uma ruptura em frações pró e contra Erdogan. O presidente Recep Tayyip Erdogan – que até antes das eleições de fato “governou para o governo”, cujo rumo na política exterior levou a uma derrota, e cujo regime pessoal é um perigo para os interesses a longo prazo da burguesia turca e imperialista – está diretamente relacionado com o debilitamento do AKP.

Logo que o primeiro ministro Ahmet Davutoğlu, depois das eleições, apresentou o AKP como vencedor, passou a existir uma preocupação profunda nesse partido.

Na reunião de gabinete de segunda-feira, houve distintas opiniões sobre a coalizão: enquanto a ala pró-Erdogan define os resultados eleitorais como um golpe contra a estabilidade e declara como supérfluo o sistema parlamentar, a ala “moderada” não descarta categoricamente um governo de coalizão. É fato que o projeto de sistema presidencial, que outorgaria ao presidente Recep Tayyip Erdogan um status de “Bonaparte”, deve ser adiado.

Há muitos cenários possíveis sobre o destino do regime turco no período atual de crise econômica e política. Por exemplo, caiu a bolsa durante o dia depois das eleições. Mas, no entanto, uma coisa ficou clara: a burguesia turca está em uma crise política, enquanto que uma nova geração de trabalhadores está despertando e mostrou com suas greve no período anterior das eleições que esse despertar pode sacudir o país nesses tempos incertos. É o momento justo para um salto adiante.

 
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