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8 DE MARÇO
E as trabalhadoras terceirizadas na paralisação internacional das mulheres?
Diana Assunção
São Paulo | @dianaassuncaoED

As terceirizadas serão impedidas de participar das ações do 8 de março, porque são impedidas de se organizar todos os dias pelos seus sindicatos e quando se organizam tem que fazer em enfrentamento com seus próprios sindicatos.

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O próximo 8 de março será marcado pela paralisação internacional de mulheres, que surgiu a partir de uma convocatória das mulheres nos Estados Unidos e também do movimento Nem Uma Menos na Argentina. É interessante pensar em um 8 de março que coloca centro em um método de luta da classe operária como é a paralisação da produção. Isso coloca ênfase também no papel das mulheres da classe trabalhadora.

Nós do Pão e Rosas já viemos expressando em vários países nossa posição de construir com muita força a paralisação internacional das mulheres, porém defendendo uma paralisação de toda a classe trabalhadora, com claro protagonismo das mulheres, mas para que a produção seja realmente atingida é necessário que paremos todas e todos, e também porque é necessário batalha pra que os sindicatos e o conjunto dos trabalhadores levantem as bandeiras de luta das mulheres. A nossa unidade, enfrentando o machismo também dentro da classe operária, é fundamental pra enfrentar nossos verdadeiros inimigos: os governos que nos atacam, os patrões e empresários que lucram com nossa exploração e opressão, e todo este sistema capitalista que nos aprisiona.

A partir desta perspectiva que consideramos importante pensar sobre a situação das mulheres trabalhadoras mais exploradas e oprimidas, que são as terceirizadas. No Brasil existem mais de 13 milhões de trabalhadores terceirizados, sem contar os trabalhadores informais e não contabilizados nos dados oficiais. Destes a ampla maioria são mulheres e negras.

Por isso dizemos que em nosso país a precarização do trabalho tem rosto de mulher, e pra sermos mais precisos dizemos: tem rosto de mulher negra.

Estes mais de 13 milhões de terceirizados além de viverem com os piores salários e as piores condições de trabalho, são submetidos a uma divisão com o conjunto da classe trabalhadora. Com direitos diferentes, com uniformes diferentes e com sindicatos diferentes não se sentem parte da mesma classe - e assim o sistema capitalista avança impondo uma enorme fratura na classe operária internacional. Este foi um dos principais triunfos do que chamamos de onda neoliberal, um momento de enormes ataques a classe operário e avanço contra os direitos das massas oprimidas e exploradas.

Mas o sentimento de "não pertencimento" a uma mesma classe também vem de outro lugar. Vem da ação dos sindicatos, sejam os diretamente mafiosos ligados a Força Sindical e a UGT, mas seja também dos ex-governistas como CUT e CTB, que se não atacaram de forma escancarada os trabalhadores forem parte fundamental da contenção de lutas e explosões operárias, mas também foram cúmplices por exemplo do enorme aumento no número de trabalhadores terceirizados que durante os governos do PT passou de 4 milhões para 13 milhões.

Essa é a herança deixada pelo petismo, base sob a qual o governo golpista de Michel Temer quer ampliar muito mais o trabalho precário com as novas leis que devem ser aprovadas no Congresso sem muita resistência.

O problema de fundo aqui é que os sindicatos "oficiais", e mesmo parte dos sindicatos da esquerda simplesmente ignoram os amplos setores de trabalhadores terceirizados já que não seriam "base" de sua categoria ou então dizem cinicamente que "é muito difícil de organizar os trabalhadores terceirizados" - tudo isso pra na prática defender os interesses dos patrões.

Com essa política, CUT e CTB querem "regulamentar" a terceirização, dizendo que buscam mais direitos quando na verdade isso significa perpetuar essa fratura na classe operária. Os sindicatos mafiosos da Força Sindical e da UGT massacram as greves de terceirizados que vêm ocorrendo há anos, e garantem que estes trabalhadores fiquem no seu devido lugar, sofrendo assédio moral altamente legalizado. Tudo isso acontece sendo a ampla maioria dos terceirizados mulheres, negras e negros. Não é preciso dizer que elas não tem direito à creche e se engravidam não podem recorrer a um aborto legal, seguro e gratuito e se decidem ter filhos podem ser demitidas.

É por isso que hoje no Brasil pensar a paralisação internacional das mulheres não pode passar por fora de pensar a situação destas trabalhadoras. Já dissemos aqui que a CUT e a CTB estão se negando a organizar a paralisação internacional das mulheres, quem dirá os sindicatos que representam o trabalhadores terceirizados. As terceirizadas serão impedidas de participar das ações do 8 de março, porque são impedidas de se organizar todos os dias pelos seus sindicatos e quando se organizam tem que fazer em enfrentamento com seus próprios sindicatos.

Uma frontal exigência a estas entidades é algo extremamente necessário para mostrar pra todas as terceirizadas que a luta delas é a nossa luta, e que suas direções estão querendo boicotar e impedir que se desenvolva o amplo processo internacional de luta das mulheres.

Exigindo das centrais sindicais, os sindicatos e organizações de esquerda deveriam colocar na ordem do dia a luta contra o trabalho precário. Assumir esta bandeira como nossa, decisiva pra recompor a unidade da classe operária. Ir para a porta das fábricas e em cada local de trabalho neste 8 de março e dizer para cada trabalhadora terceirizada: teu sindicato não te defende, não organiza sua luta mas nós queremos nos unir a vocês e levantar todas as suas bandeiras contra o trabalho precário, a opressão e o racismo que vivem cotidianamente! Para isso, é necessário levantar um programa claro contra a precarização do trabalho, por isso nós do Pão e Rosas há anos viemos lutando pela efetivação de todas as trabalhadoras terceirizadas sem necessidade de concurso público ou processo seletivo. Igual trabalho, igual salário. Não à diferenciação salarial entre brancos e negros, entre mulheres brancas e mulheres negras. Não à reforma da previdência que atinge em especial às mulheres terceirizadas que já não tem nenhum direito.

Neste dia de paralisação internacional das mulheres queremos apoiar toda mobilização das trabalhadoras terceirizadas, e chamamos todas elas a se mobilizar junto com o Pão e Rosas nas atividades e nas manifestações de rua. Mas mais que isso, chamamos as estudantes, jovens, mulheres trabalhadoras a levantar bem forte a defesa das trabalhadoras terceirizadas!

 
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