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CONTAGEM REGRESSIVA 8 DE MARÇO - FALTAM 12 DIAS
Educação sexual e o direito das mulheres ao próprio corpo
Flávia Toledo
São Paulo

A falta de autonomia das mulheres sobre o próprio corpo é mais profunda do que apenas a criminalização do aborto. A repressão sexual aprofunda a opressão machista, e quando a escola se recusa a discutir educação sexual, está abrindo uma porta para que a pornografia “ensine” sobre sexo.

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A escola é um terreno de disputa política e moral da sociedade. Sendo o primeiro grande espaço de socialização fora da estrutura familiar, é onde pela primeira vez a criança tem a possibilidade de estabelecer relações por fora do crivo de seus pais. É na escola que as primeiras experiências, em geral, se dão: as primeiras amizades, os primeiros interesses pessoais, as primeiras relações amorosas, as primeiras descobertas da “vida real”, com todas suas potencialidades e frustrações.

É também na escola que se dá o primeiro contato com as castrações sociais, ou, melhor dizendo, com as diversas esferas da opressão, principalmente suas nuances morais e éticas. Durante seu período escolar, as meninas descobrem se são “pra pegar”, “pra namorar” ou “pra ficar encalhada”. Descobrem se “são bonitas ou feias”, se se enquadram ou não nos esteriótipos sociais, se serão queridas ou marginalizadas, se são do tipo que agrada os meninos ou se “têm cara de sapatão” - e se tiverem, descobrem também que isso é errado e é melhor que mudem. Descobrem das maneiras mais duras possíveis que seus corpos não lhes pertencem, e que, apesar de os adolescentes – e todo mundo, ao que parece - “só pensarem naquilo”, qualquer pensamento sobre sexo que passar pelas suas cabeças deve ser eliminado o mais rápido possível porque sua principal função na vida é “se dar ao respeito”.

Algo há de comum entre todos os horários de recreio, as portas dos banheiros e os bilhetes passados no meio da aula em todas as escolas: códigos morais e éticos são transmitidos, lugares e funções são estabelecidos, dúvidas são compartilhadas e, por mais que a cegueira do fundamentalismo religioso queira fingir que não existe, todo mundo fala sobre sexo. Essa espécie de “formação paralela” que existe na escola é um fato, e ela se baseia nos mecanismos mais sórdidos de difusão de informação: ela se baseia no tabu, na informação escondida e envergonhada criada pela ideologia dominante – e que se é dominante, atende aos interesses de uma minoria, uma vez que vivemos sob um modo de produção baseado na exploração e na opressão, portanto, dos privilégios de poucos em detrimento de muitos.

E a escola, que deveria tratar desses temas em sala de aula, se abstém. Não faz nenhum debate profundo sobre sexualidade e gênero e, assim, escolhe um lado: o lado da castração do corpo. A falta de conhecimento e reflexão sobre essas questões impede que haja autonomia sobre o próprio corpo, além de impedir o combate à opressão que mata mulheres todos os dias.

A educação sexual é um tema que precisa ser debatido seriamente em todas as suas nuances, e a escola deve tomar isso com centralidade. O papel nefasto das bancadas conservadoras, abertamente evangélicas ou não, de confundir conscientemente “educação sexual” com um suposto “incentivo à erotização e à depravação moral” impede que seja feito um debate sério. Os entraves políticos à ampliação desse debate geram a manutenção de uma lógica machista, racista e lgbtfóbica, impondo a subordinação dos setores oprimidos a relações abusivas, diretamente violentas.

A SEXUALIDADE NA INFÂNCIA

É preciso voltar ao início da discussão. Sexualidade não é apenas sexo. Sexualidade é, na verdade, um processo de compreensão de si na relação com o outro, tendo como intermédio o prazer – que não é apenas o gozo erótico daquilo que chamamos de sexo, mas as interações do seu corpo com o ambiente e com outros corpos. Discutir sexualidade é, também, pensar o corpo como mais do que uma máquina que produz trabalho de forma alienada como ocorre no capitalismo.

Sigmund Freud, o inventor da psicanálise, chocou o mundo ao discutir a sexualidade na infância. Vou me ater aqui ao básico das suas colaborações, que hoje são discutidas de maneira mais fluida e sem a pretensão de enquadrar de forma estanque as diversas fases da vida, ainda que não tenham sido plenamente superadas e por isso seguem nos ajudando a compreender a infância.

Para o psicanalista, há três fases da sexualidade infantil. A primeira, do nascimento aos dois anos de idade, seria a fase oral, marcada pela relação com a mãe e pelo processo de amamentação. Nessa fase, o bebê busca descobrir o mundo e as sensações pela boca (aí está o seu prazer), e passa a desenvolver relações pra além daquela estabelecida com sua mãe pelas diversas relações que ela estabelece com outras pessoas (como seus irmãos, seu pai, tios, avós etc). Dos dois aos quatro anos, com o desenvolvimento do controle do esfíncter, a criança entra na dita fase anal, em que controla funções vitais suas – já não é amamentada e começa a sair da fralda, controlando quando faz cocô e xixi – e começa a investigar as próprias secreções e suas necessidades físicas. Também vai estabelecendo relações mais profundas com as pessoas além de seus pais. Por volta dos três anos até cinco ou seis, entra na fase genital, em que busca prazer na investigação dessa parte do seu corpo. Nesse período, as crianças costumam se tocar e investigar essas sensações que são prazerosas, mas não erotizadas, e começam a entender as diferenças dos corpos ditos de “meninas” e “meninos”. A curiosidade com as sensações que a estimulação genital gera faz com que se voltem a essa parte do corpo de maneira exploratória, seja do próprio corpo, seja do corpo de outras crianças de mesma idade. Daí surgem perguntas das mais diversas. Por volta dos cinco ou seis anos, essa fase entra numa espécie de “latência”, retornando, com novos contornos, com a puberdade e as mudanças do corpo pela atuação hormonal típica dessa fase.

A castração do corpo começa, geralmente, quando as crianças passam pela fase genital. Na fase oral, as crianças são ensinadas a respeito de o que pode e o que não pode ser colocado na boca. O sapato que tá no chão não pode ser mordido porque é sujo, mas é dada uma chupeta ou uma mamadeira, ou mesmo se ensina que, se a mão estiver limpa, tudo bem chupar o dedo. Já quando é vista se masturbando, a criança é imediatamente castrada. “Tira a mão daí!” é a frase mais dita pelos pais nessa fase. É dito apenas que as crianças não devem fazer isso, sem qualquer explicação sobre o motivo – o que abre uma contradição insolúvel na cabeça delas, já que não há qualquer motivo aparente para não fazer algo que é bom. Às meninas, obviamente, a repressão é mais pesada. Além de ter de “tirar a mão dali”, elas também têm de se sentar de perna fechada, não brincar demais, não rolar no chão, não sair correndo, como uma boa mocinha – elas que só são, surpresa!, crianças. Também não podem muito perguntar sobre o “pipi” do coleguinha de sala, porque é um absurdo que elas tenham curiosidade sobre uma parte do corpo que elas não têm.

De todas as formas que pudermos analisar, essa postura é profundamente equivocada. Em primeiro lugar, porque essa repressão confunde as coisas. A masturbação infantil não tem a mesma carga erótica da masturbação que nós, adultos, realizamos. O objetivo dela não é o gozo sexual, o orgasmo. É apenas uma investigação de boas e saudáveis sensações de prazer. Uma curiosidade, somente, que rapidamente é substituída por outras sensações prazerosas como correr atrás de uma bola ou brincar de astronauta.

O interdito dos adultos a essa experiência erotiza algo que é de outra esfera e marca o início do tabu do sexo. Dificilmente a criança vai ficar focada nisso de maneira prejudicial, e em nada essa repressão vai fazê-la parar de se tocar, pelo contrário: ela seguirá se investigando, mas de maneira escondida e proibida. Mais tarde, quando isso passar a ter uma conotação sexual, vai se tornar uma vergonha, quando deveria ser apenas natural.

Muito melhor que se trate o assunto com naturalidade. Ao ver uma criança se tocando, o papel dos pais e educadores, principalmente, deve ser o de ensiná-la que isso não é errado nem sujo, mas é do âmbito privado. Que deve fazê-lo com privacidade, no banheiro, enquanto toma banho ou antes de dormir, por exemplo. E, principalmente, aproveitando essa investigação que surge da criança, dizer que o seu corpo é unicamente seu e que mais ninguém deve tocá-la dessa maneira – ressaltando que qualquer contato do tipo, como um adulto que coloque a mão embaixo das suas roupas ou que peça para que a criança toque nele, deve ser recusado e comunicado aos seus pais ou professores imediatamente, de maneira a prevenir qualquer tipo de abuso sexual que a criança teria dificuldade de entender sozinha, principalmente porque os abusos sexuais na infância, como sabemos, são sempre acompanhados por “recomendações” de que nada deve ser dito a respeito.

É extensa a literatura sobre o assunto e todos os estudiosos sérios sobre o tema afirmam que a repressão de nada adianta, já que é, em si, uma violência. Também é quase consensual que a educação sexual (que começa por aí, por definir os limites dos espaços onde se deve realizar as experiências sensoriais e por ajudar a criança a entender que o corpo é seu e que ela tem autonomia sobre ele) não deve adiantar questões, expondo a criança a discussões que ainda não é madura o suficiente para entender. É, inclusive, muito mais simples: ao surgir uma pergunta, basta respondê-la sinceramente, na medida do que pode compreender naquele momento.

A clássica questão “de onde vêm os bebês” é simples de ser respondida. Vem da barriga da mãe, em primeiro lugar. Como sai, ou como “vai parar lá dentro” também são simples. Sai pela vagina, se a criança fizer questão de saber, e é feito pelo pai e pela mãe, num momento íntimo, privado e que é realizado por adultos. Costuma sanar as dúvidas, sem confundir demais a criança e sem mentiras.

Relações sexuais são, na verdade, pouco interessantes para as crianças, já que elas não sentem necessidade disso. Depois de perguntar de onde vêm os bebês, provavelmente vão querer saber por que a roda é redonda. As curiosidades sobre o corpo são apenas algumas das muitas perguntas que têm na cabeça sobre tudo o que constitui o mundo. Mas maior é a curiosidade quanto maiores forem os esforços para esconder delas as questões da sexualidade. Se toda cena de novela em que dois atores se beijam for motivo para desligar a TV e os pais se levantarem nervosos dizendo que é hora de criança ir pra cama, elas vão querer saber mais e mais sobre aquilo, quando talvez simplesmente deixassem passar batido, ou olhassem para a cena com certo nojo, tão comum em crianças quando se trata do contato sexual. A repressão sexual na infância gera o efeito oposto: no desespero de não sexualizá-la, acaba por criar o interesse em um assunto que não condiz com sua maturidade.

ADOLESCÊNCIA, DESEJO E REPRESSÃO

As crianças crescem e entram na puberdade, e com as explosões hormonais o desejo sexual retorna e ganha um caráter erótico. O desejo pelo primeiro beijo, ou seja, pelo primeiro contato sexual com o outro, costuma chegar junto com os primeiros pedidos para ficar mais tempo na escola, passar mais tempo com os amigos que estão passando pelas mesmas primeiras experiências e formando a própria subjetividade. São dezenas de adolescentes querendo entender o mesmo assunto tabu. Dezenas de meninas no horário de recreio lendo as mesmas revistas que ensinam a maquiagem para conquistar o “gatinho”, as dez dicas para não fazer feio no primeiro encontro, como ser sexy sem ser vulgar, que a menstruação é um divisor de águas.

E nessa época é muito sensível como mudam as relações. Se antes as crianças corriam juntas no recreio, na adolescência já muda bastante. De repente, todas as meninas estão de calça comprida e moletom na cintura em um calor infernal, sentadas num canto e cochichando entre si porque estão menstruadas e não podem correr o risco de alguém ver qualquer mínima mancha de sangue na sua calça. Enquanto isso, os meninos fazem o que sempre fizeram: jogam bola.

Até que percebem que tem algo estranho com as meninas e quando descobrem, às vezes fazem coisas absolutamente desprezíveis do tipo revirar as mochilas até achar um absorvente e deixá-lo exposto, contando ao mundo que o corpo daquela menina já não é “puro” como antes (infelizmente, essa cena foi recorrente em uma época na minha escola). E nada disso acontece escondido. Todos veem e todos percebem o que está acontecendo. Mas na sala de aula é só silêncio por parte dos professores.

Eu me lembro dos meus doze a quatorze anos na escola. Havia uma espécie de “acordo informal” de que as meninas que não andassem encostadas à parede estavam à disposição de serem abusadas. Andou no meio dos meninos? Alguém vai te passar a mão – “o que não é certo, veja bem, mas você sabe como eles são...”. Quis jogar futebol com os meninos? Vai ser “encoxada”. E se não for, é ridicularizada também já que só não te abusaram porque não sentem tesão por você.

E de repente o desejo do primeiro beijo vira uma obrigação com data de validade. Tem quatorze anos e nunca beijou ninguém? Que vida miserável a sua! E lá vão todas as amigas resolverem o “problema” da amiga que nunca beijou, fazendo toda uma negociação com determinado grupo de amigos – quantas vezes eu não vi meninas em festas dizendo aos meninos que queriam ficar com elas que só ficariam se algum dos amigos ficasse com a amiga “encalhada”, numa espécie de solidariedade torta baseada em valores bizarros e machistas?

Rapidamente, surgem desenhos de pênis nos cadernos das meninas. E revistas pornográficas circulam pelas salas. E nas conversas entre os meninos, narrativas sórdidas dos vídeos pornôs assistidos na noite anterior são compartilhadas, além dos curiosos comentários acerca das “preferências” desses mesmos meninos (no alto dos seus treze anos, virgens) sobre o corpo feminino – porque, sabe como é, eles são exigentes. Mamilos devem ser rosas e pequenos. Assim como a vagina e, olha só, o ânus! E com sua “vasta experiência” com filme pornô adoram dissertar sobre o cheiro das mulheres, sobre como algumas mulheres “fedem” mais do que outras (porque o imaginário desses meninos é muito bem calcado, não apenas no machismo, mas no racismo também).

Fotos íntimas e indesejadas surgem nos whatsapp das meninas; mas se elas enviam alguma foto sensual, logo toda a escola já viu e teceu seus nada elogiosos comentários sobre a moral dessas meninas porque “onde já se viu uma menina pensar em sexo”. Começam a acontecer festas nos finais de semana, e a menina que não ficou com ninguém é apontada, a que ficou com alguém também, a que ficou com vários é humilhada. Até que alguma menina é realmente abusada e os educadores todos se veem no meio do olho do furacão sem saber bem como resolver.

SE A ESCOLA NÃO FALA SOBRE SEXO, A PORNOGRAFIA FALA

Em um primeiro momento, como comentamos, as crianças são reprimidas na sua sexualidade, o trato é artificial e castrador. E a lógica se mantém, levando a consequências absolutamente ruins anos mais tarde, quando aflora o desejo sexual. A sexualidade, parte natural da vida, é tão marginalizada e podada que, no momento em que não é possível conter, ela explode de maneira violenta.

Fato é que o desejo sexual surgirá. Mas o tabu – necessário à contenção dos corpos, principalmente dos corpos das mulheres – impede que se possa travar um diálogo saudável. O “tira a mão daí” aos seis anos de idade, como se fosse possível esconder que os genitais existem, vira o pavor de ser “descoberta” no seu “crime terrível” de menstruar, ou na proibição velada da masturbação feminina enquanto os meninos se vangloriam e gesticulam grandiosamente em relação ao assunto também de maneira a impor a sua presença sexualizada às meninas de seu convívio. A negação em se tratar do assunto fecha todas as possibilidades de diálogo para que uma menina possa buscar alguém para dizer que se sente mal com uma série de “brincadeiras” abusivas.

O silêncio da escola abre espaço para uma lógica perversa: no momento em que se recusa a tratar da sexualidade, deixa o espaço da curiosidade livre para ser ocupado por outras possibilidades de resposta. Se a escola não fala de sexo, a pornografia falará a todos os adolescentes – com um problema fundamental: pornografia não trata de sexo, mas de poder, de submissão. E a indústria pornográfica define muito claramente quem são os poderosos e quem são os submissos: o poderoso é o homem cisgênero; a submissa é a mulher, cis e trans, branca e negra – sendo que esta última “aguenta” um “sexo” mais “selvagem”.

Ali está o ideal sexual passado à frente para os jovens adolescentes que não têm nenhuma experiência prática: sexo deve ser violento, agressivo, “visceral”. O homem (esse falo gigante que a câmera enquadra) tudo pode, enquanto a mulher lacrimeja, sofre, sente dor. Isso é “sexo”. O homem goza, a mulher o faz gozar. A mulher, veja bem, de preferência bem branquinha (com ajuda da iluminação potente), com uma feição irreal criada por maquiagem, sem nenhum pelo no corpo, exceto seus longos cabelos prontos para serem puxados, como se fosse ainda aquela criança que não podia se tocar. E sempre a partir da lógica heteronormativa, porque o sexo entre mulheres, esses seres que “não gozam” e “não precisam de sexo como os homens”, serve para o deleite masculino heterossexual.

Ao não tratar da sexualidade, a escola abre mão de apresentá-la como a busca saudável por prazer que ela deveria ser; e entram os esteriótipos opressores, sejam da indústria pornográfica (milionária), sejam da mídia machista ou mesmo da moral conservadora da religião que gera culpa. Às mulheres, sobra a busca pelo padrão de beleza irreal para agradar o outro; sobra a submissão a diferentes graus de abuso sexual para o prazer do outro; sobra o desconhecimento, muitas vezes, do que é aquele tão falado orgasmo. Antes, lhe disseram que fechasse as pernas. Adulta, lhe dizem para abri-las, mas apenas pra um. Mais que isso já é um absurdo.

TABU E ALIENAÇÃO

O tabu da sexualidade é uma castração. Às mulheres, é um processo de alienação do próprio corpo. Seu corpo, tudo o que têm, é estranho a quem elas “deveriam” ser. Um corpo que sente um desejo que não poderia sentir, ao mesmo tempo que repulsa o que lhe disseram ser sexo; um corpo que não lhe pertence, cujas formas não cabem num padrão, um corpo do qual tem nojo.

Seu corpo vira sua mercadoria, e como toda mercadoria produzida no capitalismo, é alienada. O que é um paradoxo, porque não é possível cortar pela raiz o desejo. O impulso castrado precisa ser direcionado pra alguma outra coisa – para o consumo, por exemplo, pra algo que gere satisfação suficiente para acalmar o desejo sexual reprimido.

Quando dizemos que queremos o direito ao próprio corpo é para romper com essa alienação. E isso passa, necessariamente, pela educação sexual. Uma educação que trate a sexualidade como ela dever ser: prazerosa para todos os envolvidos, e não uma relação de dominação. Que apresente o corpo como um campo de investigação, e não como eterna frustração.

A educação sexual, que é mais do que falar por cinquenta minutos sobre métodos contraceptivos, é fundamental para combater todo esse peso que recai sobre a mulher (e de forma ainda mais pesada sobre mulheres e homens trans). Um peso que recai de forma especial sobre a mulher negra, cujo corpo é rechaçado ao
mesmo tempo em que é abusado, tido como descartável.

É urgente que a escola trate sem tabu da sexualidade, rompendo com os esteriótipos de gênero e orientação sexual, discutindo abertamente as muitas possibilidades de se alcançar prazer, rechaçando a violência que a indústria pornográfica chama de sexo, combatendo a cultura do estupro; e lutando para que o corpo possa ser experimentado na sua plenitude, explorando todas as suas potencialidades.

Em última instância, a castração do corpo das mulheres, especialmente das mulheres negras, e dos LGBTs, assim como a miserável experiência sexual que a ideologia burguesa permite que os homens heterossexuais tenham (ainda que tenham, relativamente, privilégios), servem à desumanização, sem a qual nenhum sistema de exploração se sustenta. A burguesia sabe bem disso, e não vai entregar de bandeja a sexualidade plena. Também isso teremos de arrancar dela à força.

 
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