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Quando dizemos: “Nem uma menos”
Laura Vilches
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Nós, mulheres, não esperamos que nos matem por ciúmes – indicam as sentenças judiciais, como os do juiz Horacio Piombo e seus pares retrógrados – ou como mostram as milhões de denúncias não resolvidas pela polícia.

Tudo parece começar com uma hashtag difundida nas redes sociais. Compartilham personalidades da cultura, do jornalismo, do esporte, dos mais diferentes âmbitos sociais. E depois do “sucesso” do slogan vem as adesões dos “amigos” e da política tradicional que não deixa de se aproveitar, em campanha eleitoral, deste fenômeno.

#NiUnaMenos surgiu de um grupo de jornalistas, escritores e artistas verdadeiramente preocupados pela violência contra as mulheres.

#NiUnaMenos ecoa as diversas organizações de mulheres e direitos humanos como Pan y Rosas (com 12 anos de existência) ou a Casa del Encuentro (observatório de femicídios que denuncia os casos) que vimos denunciando que não há crimes passionais, que as mulheres não provocam a própria morte por decidir se separar dos companheiros, angustiadas pela violência deles.

As mulheres não desejam ser assassinadas por ciúme, como mostram os processos judiciais – como os presididos pelo juiz Horacio Piombo e seus pares retrógados – ou os milhões de denúncias não resolvidas pela polícia.

Os homicídios de mulheres são justificados em preconceitos antiquados que as considera como propriedade de alguém (dos homens), que definem seus corpos como instrumentos do gozo para os homens, determinam que suas vidas estão a serviço das decisões e vontades de outros, sejam homens, crianças ou idosos.

Esses de feminicídios são o último degrau da série de violências cotidianas que a sociedade capitalista e patriarcal impõe às mulheres.

Esses preconceitos também servem para fazer com que cada assassinato de uma mulher pressione as outras mulheres a obedecer as regras impostas, com medo de não “ser a próxima vítima”. A cada 30 horas uma irmã, mãe, cunhada, amiga de trabalho ou estudo pode ser a próxima vítima. Ou podemos ser nós mesmas.

Todo esse preconceito é estimulado pelos meios de comunicação que nos mostram como objetos de consumo e de marketing, por uma igreja hipócrita que fala de “vida” enquanto faz lobby para que nós – a cada 30 horas – sejamos mortas pelas sequelas de abortos clandestinos.

O Vaticano diz “defender a vida”, enquanto condena a homossexualidade e a conquista do direito ao matrimônio igualitário qualificando-as como “derrota da humanidade” [palavras do Papa Francisco]. “Defender a vida” quando nossas companheiras transexuais não ultrapassam a média de 35 anos de vida por estarem subjugadas à miséria e à prostituição?

#NiUnaMenos é, também, levantar a voz por nossas companheiras mortas pela polícia transfóbica.

Esta é a situação das mulheres imposta pelos preconceitos, o Estado e os patrões, com a conivência dos sindicalistas traidores, nos colocando como a “ralé social” junto com os jovens e os imigrantes no mundo do trabalho. Como poderemos nos emancipar economicamente se a metade do país está precarizada e terceirizada?

As nossas mortas

Dizemos #NiUnaMenos não apenas como discurso ocasional nem para fazer publicidade, muito menos pela hipocrisia dos verdadeiros responsáveis desta violência que se perpetua a cada dia. Dizemos com ódio porque somos cada uma de nós que pode ser vítima.

Como trabalhadora da educação, não aceito a foto cínica dos 24 ministros que se “comprometem” em 2015 a aplicar os conteúdos curriculares “mínimos” da Lei de Educação Sexual Integral sancionada em 2006 que sequer é executada por obstáculos impostos pela Igreja Católica. Porque são nossas estudantes que escondem suas violências com maquiagem as mesmas que morrem por abortos mal praticados, e as mesmas que são sequestradas para as máfias de exploração sexual.

Quando dizemos #NiUnaMenos é porque somos nós que contamos entre as mortas, porque não há estatísticas oficiais em nível nacional ou estadual. E estamos lutando com a raiva que mostraremos as milhares de mulheres que amanhã nos mobilizaremos, no dia 3 de junho, para exigir a imposição da lei que declare emergência a violência de gênero em todo o território nacional.

Estamos nos organizando para exigir que se destine verba urgente para casas abrigo para as vítimas e seus filhos. Abrigos que podem ser colocados em prática imediatamente expropriando todos os imóveis ociosos, os prédios de apartamentos que sobram na cidade em vista da crescente especulação imobiliária. É uma necessidade urgente que deve ser organizada pelas próprias mulheres, organismos de direitos humanos e realmente interessadas em defender nossos direitos.

Exigimos, além disso, que todas as trabalhadoras sejam efetivadas e tenham garantidos os direitos à saúde. Para as mulheres desempregadas, exigimos subsídios equivalentes ao salário mínimo necessário para sustentar uma família.

O dinheiro deve vir de impostos progressivos às grandes fortunas e a constituição de um fundo especial lastreado nos impostos de renda desses funcionários e políticos que até tiram fotos com cartazes #NiUnaMenos. Estes funcionários e políticos devem ganhar como uma professora, como fazemos e as deputadas da Frente de Esquerda (FIT).

É urgente começar a enterrar os preconceitos machistas; deve-se colocar toda a comunidade educativa – professores, estudantes, pais, mães, avós – para discutir ampla e profundamente os fundamentos culturais e ideológicos da violência de gênero. Desconfiando de todo tipo de opiniões hipócritas deste sistema patriarcal, nossa força se encontra na nossa organização contra os opressores e exploradores de ontem e de hoje.

1 Deputada estadual (Partido de los Trabajadores Socialistas – PTS - na Frente de Esquerda dos Trabalhadores – FIT). Publicado em www.lavoz.com.ar, 2 de junho de 2015, traduzido por Val Lisboa para Esquerda Diário.

Publicado originalmente em 5 de junho de 2015.

 
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