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CULTURA
20 anos sem Chico Science
Redação

No dia 2 de fevereiro de 1997 o Brasil noticiou a morte do malungo Francisco de Assis França, também conhecido como Chico Science, seu Fiat Uno colidiu com um poste na rodovia PE-1, na divisa entre Recife e Olinda.

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Hoje completam 20 anos sem o músico e compositor e parece que seu maracatu psicodélico ainda não perdeu sua força e importância no cenário da música nacional e internacional.

E o que trazia de tão especial e inovador pro cenário da música nacional a banda Chico Science e Nação Zumbi que nos possibilita revisitar os álbuns Afrociberdelia (1996) e Da lama (1994) ao Caos até os dias de hoje?

Voltemos ao final dos anos 80 onde Chico Science (vocalista) junto com Lúcio Maia (guitarrista) formavam a banda Orla Orbe, grupo com influências musicais norte americanas que tocava funk rock. A banda não deu muito certo e foi desfeita em 1988, um ano depois de seus surgimento, no entanto no mesmo ano os dois artistas se juntaram a Dengue (baixista) e Vinicius Sette (baterista) para compor a banda Loustal. Grupo que misturava o rock dos anos 60, soul music, funk e hip hop em 1991 se juntou ao bloco de samba-rock Lamento Negro, parte do núcleo cultural negro Daruê Malungo e formou assim a banda Chico Science e Nação Zumbi.

A proposta estética da banda era criar uma musica pop que unia referenciais regionais, como maracatu, a embolada, o samba, o coco e referenciais internacionais, como o rock dos anos 60, o reggae, o trance, o hip hop, o funk e o metal. E era isso que o grupo trazia de inovador pra cena musical dos anos 90, um resgate da antropofagia tropicalista onde os diversos ritmos não entravam em síntese. A alfaia de Gilmar Bola 8 não concorria sonoramente com a guitarra psicodélica de Lucio Maia, nem muito menos com os efeitos do sintetizador progressivo, pode-se notar que a diversidade rítmica confluía em harmonia, própria da estética manguebeat . Eram esses os caranguejos com cérebro (para usar o termo do 1º Manifesto Mangue escrito por Fred Zero-Quatro, vocalista da banda Mundo Livre S/A) que davam vida nova a periferia de Recife. Com efeito, não apenas daí que sugiro a originalidade da banda, atentemos além da forma ao conteúdo: à sua crítica social.

A denúncia dos problemas sociais encontrados na periferia recifense são uma das principais temáticas das músicas presentes nos álbuns da década de 90. O que está em jogo desde a proposta de uma nova estética, da ruptura de uma tradição nordestina (presente no movimento Armorial de Ariano Suassuna e nas representações de Gilberto Freyre sobre o nordeste) e, sobretudo, a contestação dos problemas sócio econômicos da cidade, é uma crítica à hegemonia à época. Trata-se de propor um novo tipo de sociabilidade (entre mangueboys e mangue girls) e de construções de espaços culturais na cidade pernambucana, a partir da criação de um “circuito energético de ideias mangue”. Além disso, eles propunham a transformação da periferia a partir da resinificação de representações e imagens (lama, caranguejo, mangue). Tornavam-na em um espaço produtor de cultura e de reflexão crítica, além de se oporem a construção simbólica de um nordeste idílico. A denúncia dos problemas sociais da periferia não só criticavam as posições hegemônicas da burguesia, mas também colocavam em questionamento a profunda desigualdade social da cidade gerada pelo sistema capitalista.

Chico Science e Nação Zumbi tiveram uma importância indiscutível na produção de um gênero musical inovador, não só pela estética, mas também por seu conteúdo político de crítica contra hegemônica e contracultural. Esse tipo de arte é inspiradora e por isso muitas bandas da cena mangue (e de outras estilos musicais) ainda relembram sem reserva os profícuos ensinamentos de Chico Science. Talvez seus entusiastas lembrem dele pela mensagem importante que esse malungo nos deixou:

“com sua carne [do caranguejo] feita de lama fazer a carne do seu corpo e a do corpo dos seus filhos” Josué de Castro, Homens e Caranguejos.

 
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