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TRUMP
O trabalho negro, migrante e precário dos hotéis Trump
Letícia Parks

O recém-eleito presidente da principal potência capitalista do mundo é colecionador de frases estúpidas, afirmações atrozes e projetos xenófobos. Mas isso não é tudo. Saiba como funcionam os hotéis desse Presidente e como seu projeto de Estado já foi implementado em cada uma das empresas da rede Hotéis Trump.

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Construam um muro, mas meus funcionários ainda serão latinos

No início da corrida eleitoral que levou a vitória de Trump como presidente, os trabalhadores dos hotéis Trump de Las Vegas saíam as ruas exigindo que o slogan “Fazer a América grande outra vez” (“Make America Great Again”, em inglês) fosse verdade dentro de seus locais de trabalho. Esses trabalhadores, em sua grande maioria migrantes latinos, denunciavam nas ruas o desrespeito a leis trabalhistas que regem os Hotéis Trump, passando por abusos físicos e verbais, ausência de contrato de trabalho, diferenças salariais e recusa ao direito de sindicalização.

A dura realidade que expõe latinos ao trabalho precário é composta por um cenário de xenofobia. A entrada cada vez mais difícil no país impõe maneiras ilegais de residir e conseguir enviar dinheiro para as famílias empobrecidas – note-se, pelos abusos históricos que os próprios EUA cometeram contra seus países, como ditaduras, golpes de estado, roubo de terras, guerras massacrantes, roubo de matéria-prima e embargos econômicos. A realidade na ilegalidade impõe trabalhar sem contratos de trabalho, com salários de miséria e com base a acordos trabalhistas duvidosos e cheios de chantagens que favorecem o lucro dos grandes capitalistas.

Uma das denúncias mais graves que faziam os trabalhadores naquele momento (dezembro de 2015) era sobre o direito a eleger seu sindicato, exigência que apareceu em outros hóteis Trump do país, como o Trump Internation Hotel de Washington, a poucos metros da Casa Branca. No mesmo ano, Trump se viu obrigado a assinar um contrato que garante direito de sindicalização com o mafioso Sindicato de Trabalhadores Hoteleiros (“Culinary Workers Union”) por quatro anos, uma medida insuficiente e parcial que só pôde ser considerada uma conquista dada a forte reivindicação dos trabalhadores.

Seguridade social e as manobras financeiras de Donald Trump em seus hotéis

Quando buscados para responder sobre as alegações de Trump de que eram bem pagos, os funcionários dos hotéis Trump expuseram a dura realidade que vivem dentro de seus locais de trabalho. Com cerca de U$9,50 por hora de trabalho, os trabalhadores de Trump recebem cerca de U$3,00 a menos do que se costuma pagar a um trabalhador hoteleiro no país. Além do salário perigosamente próximo do piso mínimo do país (U$7,25), os trabalhadores dos hotéis Trump ainda são ameaçados pela ausência de plano de saúde.

Certo, isso pode parecer bastante luxuoso para nós trabalhadores de um país onde se pode em casos de urgência recorrer ao Sistema Único de Saúde (teoricamente falando). No caso dos EUA, onde o sistema de saúde é baseado nas instituições privadas, pagar pela saúde é um fato. Quando uma pessoa sofre um enfarto, deve pagar pela ambulância, internação, remédios e, se necessário no caso, a própria cirurgia. São milhões de relatos de trabalhadores afundados em dívidas de saúde, que podem chegar a cifras estratosféricas.

Por essa realidade, é de praxe que ao se empregar, um trabalhador tenha acesso a algum tipo de plano de saúde pago em cooperação com a empresa que o contratou. Mas isso não é verdade para os milhares de contratados pelos Hotéis Trump.

Parte dos planos de Trump são intensificar a privatização e exclusivização do sistema de saúde norte-americano, que além de não garantir atendimento universal, foi denunciado inclusive pela negação por parte dos planos de saúde de incorporar pacientes (clientes) por terem tido doenças prévias, o que ainda é ilegal na Constituição do país. Trump quer legalizar essa medida, além de flexibilizar a responsabilidade das empresas de arcar com custos de saúde dos trabalhadores, inclusive pela via de acidentes de trabalho.

O empreendedorismo estatal: como Trump pretende Fazer a América Trump Hotels

Como anunciado acima, o aumento da ilegalidade dos migrantes é interessante justamente para aumentar a exploração desses trabalhadores, uma situação que se agrava ainda mais com o tom proibitivo que cria a construção de um muro entre EUA e México. Um trabalhador ilegal cobra menos, fica a margem da seguridade social e impedido de exigir direitos mínimos. Essa realidade dos que trabalham dentro dos hotéis é como Trump pretende responder à crise econômica que atinge duramente o país desde a queda do banco Lehman em 2008.

O discurso xenófobo do presidente é acompanhado de uma forte ideologia racista, que acompanha a administração dos hotéis onde negros são humilhados e precarizados lado a lado com mexicanos, porto-riquenhos e equatorianos. Essa ideologia está longe de ser apenas um “discurso de ódio”. É um cabo de guerra dos poderosos contra a revolta dos explorados. Isso porque todo orpimido tende a lutar pela sua libertação, processo inibido apenas à força e à blindagem ideológica dos opressores e exploradores.

Em uma América que se mobiliza pelos direitos das mulheres, que em movimentos e atos massivos e selvagens diz que #BlackLivesMatter (#VidasNegrasImportam), atacar as condições de vida e as conquistas dos setores mais oprimidos é parte de garantir que não percam nem anéis nem dedos. Movimentos como esses apontam um caminho importante de resistência, que ainda precisam dar passos no sentido de se ligar aos trabalhadores que são os únicos capazes de expulsar de dentro dos sindicatos seus inimigos, os burocratas amigos de Trump; além de caminhar no sentido de se apartar das tentativas do Partido Democrata de traduzir a luta em fortalecimento político.

O movimento dos migrantes, mulheres, negros e LGBTs ao lado dos trabalhadores no coração do capitalismo pode apontar importantes caminhos para uma América de fato grande, uma América que dá voz aos crescentes tremores da luta de classes a nível internacional.

 
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