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Um lamento a Pateh, o homem que recebeu insultos em lugar de ajuda ao se afogar em Veneza
Letícia Parks

Mais de 181 mil migrantes chegaram na Itália de barco no último ano, a maioria deles da África Subsaariana. Um crescimento de cerca de 18% comparado com 2015. Depois de atravessar desertos e oceanos, alguns encontram a morte onde pensavam que encontrariam abrigo.

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Depois de ter acesso ao tenebroso vídeo de uma jovem sendo estuprada por dezenas de homens, vídeos de policiais assassinando um rapaz enquanto dizem "Estrebucha", vídeos de Mike Brown sendo alvejado e morrendo em resultado disso, vídeo de Éric Garner sufocando na mão da polícia norte-americana. Pode-se ouvir no vídeo de Garner a frase "Não consigo respirar".

Pelo que soube nas notícias, no vídeo de morte de Pateh Sabally, de 22 anos, nascido na Gâmbia, não se pode ouvir sua voz. Se escutam as vozes de ódio racial, de xenofobia, de racismo. No domingo, 22, o jovem Pateh aparentemente se lançou do pier diretamente as águas profundas do Grande Canal de Veneza. Enquanto ele se afogava e agonizava, os que gravavam o vídeo dessa cena terrível de sofrimento, essas tais vozes diziam “Deixe ele morrer”, “vá em frente, volte para casa”.

Eu poderia dizer sobre muitas coisas nesse artigo, mas fiquei um pouco sem voz. Enumero, portanto, como me aflige essa passiva contemplação da morte; como machuca a irrelevância em relação a determinadas vidas; como me machuca ser parte dessas vidas irrelevantes, marcadas pela pele negra e pela nacionalidade não europeia. Poderia também desenvolver uma reflexão teórica perturbadora sobre a alienação humana, sobre como Marx brilhantemente escreveu que o roubou do fruto de nosso trabalho pelos capitalistas anula tão profundamente nossa humanidade que nos aparta de nós mesmos não apenas individualmente, mas como gênero humano. Como diz nos "Manuscritos Econômico-Filosóficos", olhamos a nós mesmos no espelho e não nos reconhecemos.

Mas escolhi falar sobre apenas uma coisa: essas vozes que brindaram a trágica morte de Pateh ecoam por toda a Europa e nas falas xenófobas vorazes de Donald Trump. A morte de Pateh é uma morte simbólica, talvez mais do que isso, icônica. São as vozes dos governantes da Europa que comem pipoca, riem e se beijam enquanto assistem ao vivo a morte de milhares de africanos e árabes nas águas que dividem os continentes. Vozes que começam a ficar cada vez mais volumosas sob o governo de Trump nos EUA. Pateh é o salto à morte de quem, depois de atravessar oceanos e desertos, percebe que buscava uma saída que se provou um martirio. O que se faz quando voltar não é uma opção.

Que as vozes anti Trump, anti xenofobia, se tornem mais fortes. Elas infelizmente não são noticiadas, mas certamente são imensamente numerosas.

 
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