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IMPACTO DA CRISE NO COMÉRCIO POPULAR
“Nesse final de ano, a gente conseguiu até descansar”, diz comerciante da 25 de Março
Por Flávia Toledo, estudante de Letras da USP
São Paulo

Sempre superlotada em datas festivas, a 25 de Março, região de comércio popular em São Paulo, ficou esvaziada nesse final de ano por conta da crise econômica. O Esquerda Diário foi conversar com vendedores e consumidores nesse início de ano sobre como a crise econômica interferiu no perfil de consumo.

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Nas vitrines das lojas da 25 de Março, o que mais se vê são anúncios de promoção pra tentar esgotar os estoques que não saíram como o previsto na época de Natal. Nas ruas, muito menos gente do que o normal. Em cada loja que você entra, vendedores aguardam os consumidores que estão botando tudo na ponta do lápis porque não podem gastar como antes.

Nas poucas lojas com um bom movimento, a preocupação com a economia era a mesma, como destacamos nessa outra matéria sobre a [compra de materiais escolares > http://www.esquerdadiario.com.br/Nas-compras-para-a-volta-as-aulas-pais-precisam-dar-aula-de-economia-aos-filhos].

Passei em algumas lojas dessa tradicional rua de comércio popular em São Paulo pra conversar com vendedores e consumidores. Em todas as lojas, a opinião é unânime: as vendas caíram sensivelmente. As vendedoras me disseram que sequer parecia fim de ano. Segundo uma operadora de caixa de uma grande loja de sapatos, o que mais chamou atenção foi o esvaziamento da loja. “A gente conseguiu até descansar. Normalmente, a gente não para nessa época. Tem que atender duas, três pessoas ao mesmo tempo, mal dá tempo de beber água. Dessa vez, não. Às vezes a gente sentava e esperava alguém vir passar a mercadoria”, disse ela.

“A gente está fazendo bastante promoção agora, pra ver se entra pelo menos o dinheiro da mercadoria pra poder pagar o aluguel da loja e os funcionários” disse Ágata, vendedora de uma loja de bijuteria de varejo. Segundo ela, não houve demissão na loja porque o quadro de funcionários já é reduzido. Mas mesmo sem ter acesso ao fechamento do caixa, ela sabe que o rendimento foi bem abaixo do esperado. “Você pode ver agora. A loja tá vazia. Ninguém tá comprando.”

O perfil do consumo mudou também. Em uma outra loja de bijuteria, que vende atacado e varejo, uma vendedora comentou que teve bem menos gente comprando, mas quem ia pra loja comprava em maior quantidade do que antes. Assim, aproveitava os descontos do atacado e garantia a maioria dos presentes de uma vez. “Mas mesmo com as pessoas comprando mais não deu pra cobrir o prejuízo. Os preços estão mais baixos, e mesmo assim as vendas caíram.” Pra ela, a qualidade dos produtos também caiu, o que faz com que as compras não valham a pena. “Eu entendo as pessoas não comprarem. Eu mesma só comprei presente pra minha mãe. Vai saber o que vai acontecer amanhã.”

Em frente a uma prateleira cheia de produtos de beleza, uma moça de cerca de 35 anos olhava atentamente para os produtos e seus preços. “Eu não saí de casa pra consumir nada no Natal. To vindo agora por conta das promoções, mas ainda assim está difícil.” Nesse Natal, os seus dois filhos não tiveram presentes. Segundo ela, eles entenderam e estão esperando para receber alguma coisa no começo desse ano.

E se as lojas vão mal, as bancas que ficam na rua vão ainda pior. Nelas o movimento caiu ainda mais, principalmente porque, diferentemente das lojas, os ambulantes têm menos margem de manobra pra abaixar os preços e facilitar o pagamento. “Você pode ter certeza: se uma loja tá mal, a gente já tá bem pior. É muito difícil de competir. Eles têm mais produtos, podem abaixar o preço. O que tem lá não tem aqui. A gente se vira. Foi um Natal bem difícil.”

Ao perguntar se a política nacional em 2016 foi um fator para essa mudança, todos responderam que sim. “Tá todo mundo com medo de perder emprego. E a vida tá cara. Não dá pra gastar sem pensar” A instabilidade política gerou uma insegurança concreta na população, e os ataques do governo golpista de Temer vêm pra coroar esse sentimento. “A gente não sabe o que vai acontecer. Não sabe nem se vai se aposentar!”

Esquecer a crise e trabalhar, como disse o presidente Temer não parece ser uma resposta ao drama dos vendedores e compradores, com o suor no rosto e as contas cada vez mais apertadas vivem no mundo real da crise, nada parecido com o que observamos em um dos shoppings mais elitistas de SP.

 
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